Malcolm X, internacionalista!
Após se retirar da Nação do Islã ( N.O.I – Nation Of
Islam) em 1964, Malcolm X iniciou um fantástico processo de revitalização de
sua consciência política. Os limites de ação política do período enquanto era
ministro muçulmano da organização de Elijah Muhammad, não mais correspondia a
suas aspirações como militante, sua intenção era expandir conexões e criar uma
base revolucionária ampla de enfrentamento ao sistema opressor. Sua alteração
de opiniões ocorrida após sua visita a Meca, o despertou a possibilidade de
haver compreensão multirracial em torno de questões elementares e de interesse
comum. Mesmo não abandonando o nacionalismo negro por completo, Malcolm
conseguiu acoplar um humanismo de aspecto revolucionário em seu bojo ideológico,
um flerte acentuado com concepções anticapitalistas, que o permitia tanto oferecer
quanto receber fraternidade, solidariedade de todos os indivíduos oprimidos
independente da cor ou raça. Algo que o ajudou muito nessa tarefa em
internacionalizar seus objetivos foram suas viagens a outros países do Oriente
Médio e também na África. Em todos seus itinerários por outras nações, Malcolm
tentou obter o máximo de proveito político, estabelecendo diálogos com variadas
correntes políticas, prestando informações sobre a tensa situação racial é
política nos Estados Unidos. Ele queria ligar o movimento de luta dos negros
norte-americanos a uma futura revolução mundial.
No Oriente Médio, esteve presente no Arábia Saudita,
Egito, Líbano é também viajou para outros países islâmicos no continente
africano Argélia, Marrocos. Nesses países de maioria muçulmana Malcolm viu e
reviu sua subjetividade existencial como muçulmano seu entendimento sobre a
religião. Através da Hajj, abandonou os dogmas da Nação do Islã, e adere ao
sunismo. Sua jornada pela África o trouxe também muitas experiências marcantes
para vida. Em 1964 estando em Gana, cravou profunda admiração pelo pensamento
pan-africanista do presidente daquele país, Kwame Nkrumah, ainda em Gana,
conheceu um grupo de artistas, intelectuais afroamericanos que havia se
autoexilado para nação ganense, cansados de sofrerem a opressão racista nos
EUA, nesse grupo de incluíam a escritora e poetisa Maya Angelou, Malcolm e a
poetisa se tornariam bons amigos. Tanto
que por influência de Malcolm, Maya decidiu voltar para os EUA, para ajuda-lo em
estruturar a OUA (Organização da Unidade Afro-americana). Estando na Nigéria se
encontrou com a Associação dos Estudantes Muçulmanos daquele país,
identificando em Malcolm um intenso desejo em reatar elos com a ancestralidade,
os estudantes o deram o afetuoso epíteto de “Omowale” que em idioma yorubá,
significa o “Filho que voltou para casa”.
Pela doutrina teológica da Nação do Islã
os negros eram considerados como sendo asiáticos, por relacionar a raça negra
com a raça original humana, pertencente à chamada Tribo de Shabazz. Durante sua
fase como Porta-Voz da N.O.I, Malcolm pregou essa versão da histórica, mas nunca
virou as costas para África, em ocasião ao assassinato do líder congolês
Patrice Lumumba, crime este que teve participação dos serviços secretos dos
Estados Unidos, Bélgica, Malcolm vociferou contra os poderes neocolonialistas
que impediam a libertação dos africanos. Admirou também a rebelião dos Mau Mau,
movimento nacionalista queniano que na década de 1950, iniciou uma guerrilha
para libertar o Quênia da dominação inglesa. Para Malcolm construir uma aliança
entre países africanos é a comunidade afro-americana era importante, pois
reforçava um senso de identidade, indispensável para sobreviver ao racismo. Os
movimentos de libertação africanos deveriam ser estudados, compreendidos e toda
solidariedade deveria ser prestada aos mesmos.
Os países que possuíam independência reconhecida na
África se unem em 1963 é criam a OUA (Organização da Unidade Africana) com
objetivo em formar uma agenda diplomática, econômica, política de interesses
comuns, prestando também apoio a luta para que outros países se livrarem do
julgo colonial, era resultado da perspectiva política pan-africanista, em 1964
Malcolm funda a OUAA (Organização da
Unidade Afro-americana) para se assemelhar a OUA, mas agindo só que agindo em
território norte-americano, unindo negros em uma frente política de ação comum.
Quando visitou o Egito, teve compactuou com o regime
nacionalista de Gamel Nasser. A aproximação entre Malcolm e Nasser se iniciou
quando o líder egípcio esteve em New York para assembleia da ONU, Malcolm foi
recebido em uma reunião particular com Gamel Nasser. O Egito nacionalista era o
principal inimigo de Israel, observando o cenário político no Oriente Médio, e
analisando a conduta militar israelense, e sua forma como invadia as terras dos
palestinos, o tratamento discriminatório contra os árabes, Malcolm não hesitou
em considerar e declarar ser Israel como sendo um Estado racista,
caracterizando-o como um gendarme colonialista a serviço dos interesses
ocidentais.
Malcolm também viajou para países europeus. Esteve na
França onde fez pronunciamentos á imprensa daquele país, na Inglaterra realizou
uma palestra na Universidade de Oxford que foi transmitida pela emissora de
televisão, BBC nacionalmente. Estava previsto fazer uma nova visita na França
em 1965, mas teve seu acesso ao país proibido por autoridades por considerarem
sua presença politicamente inadequada.
Malcolm com os meios disponíveis que possuía, buscou
estreitar contatos com lideranças mundiais. Em 1961 se encontrou com Fidel
Castro no bairro do Harlem, NY. O líder
cubano iria participar da Assembleia das Nações Unidas daquele ano, os dois
dialogaram com muita afinidade. Em 1964 em ocasião da fundação da Organização
da Unidade Afro-americana, convidou Ernesto Che Guevara para participar da
cerimônia de criação da organização, Che não pode comparecer, mais enviou uma
carta de congratulações. Malcolm obteve fama internacional, tornando-se uma
referência na luta contra o racismo. Ativistas sul-africanos que lutavam contra
o apartheid se exemplaram em sua figura carismática e combativa. Teve seu rosto
foi estampado em selo pela República Islâmica do Irã. Seu filme baseado em sua
autobiografia, lançado em 1992 com a direção de Spike Lee, rendeu a Denzel
Washington indicação ao prêmio de melhor ator pelo Oscar. Na década de 1990 foi
a vez do Hip Hop, não permitir que a figura de Malcolm fosse tragada pelo
anonimato. Em 2011 Malcolm teve seu nome citado em um vídeo de Ayman
al-Zawahiri, um dos principais líderes da organização Al-Qaeda, o
fundamentalista religioso, usou Malcolm como referência de decência e lealdade
para com o povo negro, no vídeo al-Zawahiri usou um termo que Malcolm utilizava
em seus discursos para se referi a negros traidores, Malcolm sempre se reveria
a eles como “Negros de casa” o líder islamita criticou Barack Obama, Condolezza
Rice, Colin Powell, chamando os de “Negros de casa”, submissos a vontade do
homem branco. Em 2001 quando as tropas norte-americanas, invadiram o
Afeganistão a procura dos supostos responsáveis pelos ataques terroristas de 11
de setembro, os militares encontraram junto ao Talibã, John Walter Lindh,
norte-americano de nascença, filho de uma família branca de classe média alta, o
interesse de Jonh pelo islã foi provocado após assistir ao filme de Malcolm X.
Por sua contribuição extrapolar as fronteiradas dos
Estados Unidos, nada mais do que justo é necessário reconhecer em Malcolm X como
ícone internacionalista revolucionário do século XX.
Kassan 18/02/2014
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