Eterna
Guerreira!
Lélia Gonzalez pode ser considerada sem nenhuma dúvida,
como uma das mais importantes e significativas, mulheres negras da história
contemporânea no Brasil.
Seu trabalho militante ao longo de décadas foi
imprescindível para revitalização do processo de conscientização cultural,
cívica, política, social da população afrodescendente. Como ativista,
escritora, professora, militante em todas essas funções sua meta era única,
lutar pelo empoderamento do Povo Negro!
Nascida em Minas Gerais, na cidade de Belo Horizonte em 1
de fevereiro de 1935, filha de um trabalhador ferroviário negro é uma emprega
doméstica de descendência indígena, Lélia ainda criança em 1942 migrou com sua
família para residir na cidade do Rio de Janeiro. Na capital fluminense, Lélia
enquanto crescia experimentou o bom e o pior que a cidade poderia oferecer para
a população negra.
Para obter renda, trabalhava como babá em casas de
famílias brancas de classe média. Enquanto trabalhava, nunca perdeu a vontade
em prosseguir nos estudos. Levando essa decisão em estudar, consegue se graduar
em História e Filosofia. Torna-se professora da rede pública no ensino médio.
Lélia Gonzalez não escapou de sofrer uma crise de
identidade, o sobrenome Gonzalez de por parte do marido, um homem branco. Há
família do marido nunca aceitou a relação entre os dois. Um acontecimento
mudaria drasticamente sua vida, seu marido se suicida. O impacto da morte faz
com que ela reveja muitos conceitos de vida.
Evidenciando a marginalização social em que eram
submetidos os negros. Com excepcionalidade atenção, Lélia foi desenvolvendo
suas observações críticas, moldando sua consciência sobre a necessidade de
lutar para transformar a realidade oprimida pelo racismo, pelo machismo,
sexismo. A partir de 1974 se inseri em pequenos círculos de debates que reuniam
ativistas do Rio de Janeiro. Inicia análises sobre as condições de existência
da comunidade negra, as implicações históricas produzidas por séculos de escravidão,
pela abolição que não foi seguida por nenhuma política de reparação, esses
fatores construíram a estrutura racista que explora, oprime milhões de negros e
negras. Lélia estendia suas pesquisas sobre a diáspora africana, observava
movimentos de resistência a opressão racial existente em vários países. Cunhou
o termo ''Amefricanidade'' para relatar as experiências de terror e opressão em
comum que os povos africanos foram submetidos desde o sequestro da África, da
travessia do atlântico nos navios negreiros até chegarem a um continente
distante para servirem de mão de obra escravas em minas e plantações.
Na época em que Lélia Gonzalez e outros ativistas
iniciaram os debates sobre discriminação racial, era um período marcado pela
forte repressão política, assuntos considerados inadequados pelo regime militar
eram proibidos de serem abordados. Não se podia discutir livremente a questão
da problemática racial, isso não era bem visto pelas autoridades que preferiam
investir em uma propaganda interna e externa que apresentava o Brasil como um
país livre do racismo, um paraíso onde pessoas de todas as raças se misturavam
e viviam harmoniosamente. Rasgando essa versão oficial de nação da harmonia
racial, Lélia em um ato de vanguarda, introduz o estudo da história africana em
sala de aula, quebrando as barreiras que excluíam a historicidade dos povos
africanos do currículo escolar. Tornou-se professora da PUC-RJ. Ampliou ainda
mais seus conhecimentos adquirindo o diploma de Antropologia.
Outro passo de extrema importância, feito por Lélia, foi
à participação na fundação do Movimento Negro Unificado - MNU, em 18 de julho
de 1978. O MNU surge como uma organização de aliança de militantes que
sintetizou como objetivo promover a luta coordenada contra o racismo e todas as
formas de discriminação social. Escolhida para integrar comissão executiva, órgão responsável por deliberar estratégias, táticas do movimento. Considerava
indispensável também atrelar o combate ao racismo a todas as demais formas de
opressão, especialmente o machismo que cruelmente fazia com principais vítimas
as mulheres negras, pobres. Discordava de alguma das posições das feministas
brancas e acreditava que as mulheres negras, deveriam expressar por si próprias
suas exigências, reivindicações, serem próprias agentes para não precisarem de
interlocutores alheios para isso. Formulou que somente um movimento feminino
negro seria suficiente para garantir representatividade, como passo de a
afirmar esse posicionamento, ajuda a fundar o Coletivo de Mulheres Negras
N'zinga. Publica uma série de artigos e textos fundamentados nessa perspectiva,
fundindo uma tese sobre antirracismo com oposição ao machismo e sexismo.
Sua posição como liderança do MNU, perduraria por mais 4
anos, em 1982 quando decide se candidatar a deputada federal pelo Partido
dos Trabalhadores, se afasta do movimento. Não se elege deputada, mas consegue
obter vaga de suplente, considera importante a presença de negros com propostas
antirracistas, chegarem ao poder institucional como forma de marcar presença
para extrair benefícios em forma de políticas públicas para a população negra.
Ainda em 1982, publica em coautoria com Carlos Hasenbalg o livro “Lugar de
Negro”, que traz uma reflexiva análise histórica, sociológica sobre as
consequências do racismo sobre a população negra.
Por aconselhamento de Abdias do Nascimento, inicia
diálogo com o então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola uma liderança
aberta ao reconhecimento da necessidade em se resolver a questão racial. Em
1986 se filia ao PDT, partido de Brizola e concorre à vaga de deputada estadual
pelo Rio, novamente não consegue se eleger mais se mantém como suplente. Mesmo
mantida em atividades partidárias, continua se envolvendo em palestras,
seminários, congressos, tanto no Brasil, como em outros países para debater
sobre racismo. Esses eventos eram oportunidades para trocar ideias, informar
sobre a situação brasileira, entrava em contato com experiências que a
enriqueciam ainda mais seu repertório e sua consciência. Os quilombos também
era prioridade em sua agenda. A defesa do direito das comunidades quilombolas
era parte integrante da garantia na conquista política e social
afrodescendente. Estuda também como a cultura, religião de matriz africana foi
um importante elemento de resistência ao embranquecimento, como resultado
desses estudos publica o livro ''Festas populares no Brasil'', em 1987, livro
que foi premiado no Festival Internacional do Livro de Frankfurt.
Em 1994 Lélia Gonzalez falece após sofrer um ataque
cardíaco em 11 de julho de 1994, no Rio de Janeiro. O governo da Bahia em
conjunto com a SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial)
criaram o Prêmio Lélia Gonzalez, para fazer o reconhecimento de projetos de
organizações que visem a elevação de destaque e protagonismo das mulheres
negras na sociedade. O bloco cultural Ilê Aiyê também prestou homenagem a
Lélia.
Certo que ainda temos muito a avançar, conquistar, mas
sem a presença e trabalho de pessoa como Lélia Gonzalez estaríamos em uma condição
ainda mais desvantajosa. A aprovação da Lei 10.639/03 que obriga o ensino da
história e cultura afro-brasileira e africana, vai de encontro ao que a
grandiosa Lélia já fazia a décadas atrás. Há consciência sobre a necessidade de
nós organizarmos, de defendermos nossos pontos de vistas, denunciarmos o
racismo abertamente, buscarmos estender articulações para ficarmos mais fortes
para reivindicarmos nossos direitos, se atualmente temos essa clareza de
objetivos, em muito devemos creditar a brilhante mulher que foi Lélia Gonzalez.
NÃO PODEMOS DEIXAR DE AGRADECER POR TUDO QUE ESSA
GUERREIRA FEZ POR NOSSO POVO! QUE SEU NOME NUNCA SEJA ESQUECIDO! NUNCA DEVEMOS DEIXAR DE AGRADECER POR TUDO QUE A GUERREIRA LÉLIA GONZALEZ, FEZ POR NÓS! OBRIGADO!
Livros, referências:
Lugar de negro (coautoria com Carlos Hasenbalg), 1982
Festas populares no Brasil. Rio de Janeiro, 1987.
Lélia Gonzalez, biografia, 2010.
Artigos, ensaios:
"Mulher negra, essa quilombola." Folha de São
Paulo, 22 de novembro de 1981.
"A mulher negra na sociedade brasileira." O
lugar da mulher, estudos sobre a condição
feminina na sociedade atual. Rio de
Janeiro, Graal, (Coleção Tendências, 1.)
"Racismo e sexismo na cultura brasileira."
Movimentos sociais urbanos, minorias étnicas e outros estudos. Brasília,
(Ciências Sociais Hoje, 2.)
"O terror nosso de cada dia." Raça e Classe,
setembro de 1987
"A categoria político-cultural de
amefricanidade." Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro (92/93): 69-82,
jan./jun. 1988.
"As amefricanas do Brasil e sua militância."
Maioria Falante, maio/jun. 1988.
"Por um feminismo afrolatinoamericano'', Revista
Isis Internacional. (8), out. 1988.
"A importância da organização da mulher negra no
processo de transformação social." Raça e Classe, nov./dez. 1988.
Kassan 01/02/2013
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