VIVA JOÃO CÂNDIDO!
104 ANOS DA REVOLTA DA CHIBATA! 

Em 1910 o Brasil já completava 22 anos de abolição da escravidão em seu território, contudo ainda perduravam práticas nefastas advindas do período escravocrata. A Marinha ainda utilizava a chibata como punição a seus integrantes de baixa patente. Os marinheiros em sua maioria negros estavam insatisfeitos em serem submetidos a este infame método disciplinar, com isto estava lançado um clima propenso para uma motim. 


Após vários episódio de violência o estopim para a subversão ocorreu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado a receber 250 chibatadas, por ter agredido um oficial branco dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio estava partindo em direção ao Rio de Janeiro, a punição foi realizada na presença de todos os tripulantes. Após assistirem ao acoite, os marinheiros tendo a frente João Cândido Felisberto decidiram que iria agir contra os maus-tratos, então organizaram um levante dentro da embarcação. Durante a ação para tomar o navio, os oficiais é o comandante do encouraçado são mortos.  Além do Minas Gerais, os marinheiros também iniciam ação semelhante em outros navios Bahia, São Paulo, Deodoro, Timbira e Tamoio. Para simbolizar que estavam em luta hastearam bandeiras vermelhas e um pavilhão com os dizeres: "Ordem e Liberdade". A frota inclui mais de 80 canhões, que são apontados para a cidade. Alguns tiros de aviso chegam a ser disparados. Os marujos enviam um radiograma, onde apresentaram ao então presidente da república o militar Hermes da Fonseca e ao ministro da Marinha suas exigências para terminarem a rebelião. O conteúdo da carta foi redigido por João Cândido e com redação de Francisco Dias Martins. Os revoltosos exigiam o fim de todos os castigos corporais, melhoria nas condições de trabalho e instalações. Trecho da carta:

"Ilmo. e Exmo. Sr. presidente da República Brasileira,
Cumpre-nos, comunicar a V.Excia. como Chefe da Nação Brasileira:
Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá; e até então não nos chegou; rompemos o negro véu, que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo. Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os Oficiais, os quais, tem sido os causadores da Marinha Brasileira não ser grandiosa, porque durante vinte anos de República ainda não foi bastante para tratarnos como cidadãos fardados em defesa da Pátria, mandamos esta honrada mensagem para que V. Excia. faça os Marinheiros Brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilita, acabando com a desordem e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha Brasileira; bem assim como: retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir a Nação Brasileira. Reformar o Código Imoral e Vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar o soldo pelos últimos planos do ilustre Senador José Carlos de Carvalho, educar os marinheiros que não tem competência para vestir a orgulhosa farda, mandar por em vigor a tabela de serviço diário, que a acompanha. Tem V.Excia. o prazo de 12 horas, para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada. Bordo do Encouraçado São Paulo, em 22 de novembro de 1910. Nota: Não poderá ser interrompida a ida e volta do mensageiro.

Marinheiros.
Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1910."

Acuado o governo acenou ceder aos pedidos dos insurgentes. Hermes da Fonseca garantiu que seriam atendidas as solicitações, incluindo anistia para os revoltosos. Acreditando terem alcançado um acordo justo, quatro dias após o início os marinheiros encerram o motim, e permitem que os navios fossem controlados pelo governo. Entre os dias 2 e 4 de dezembro, foram presos 22 marujos acusados de insubordinação. No dia 9 do mesmo mês, marinheiros do Encouraçado Rio Grande do Sul, que estava atracado no Batalhão Naval da Ilha das Cobras, iniciam uma a revolta ao atirar contra os oficiais. Nesse episódio, os revoltosos não tiveram apoio de João Cândido e dos outros envolvidos na Revolta do dia 22 de novembro. Mesmo não havendo nenhum indício de efetivo que ligasse participação, João Cândido e os seus companheiros da Revolta da Chibata também foram acusados de participar dessa rebelião, era uma forma de extinguir a anistia concedida a eles é assim aprisioná-los para evitar possíveis novos motins. No dia 24 de dezembro, João Cândido, os outros revoltosos de novembro e parte dos marinheiros envolvidos na revolta do Batalhão foram levados ao presídio da Ilha das Cobras. Durante o período em que estiveram presos João Cândido e seus companheiros foram enviados para masmorra em condições terrivelmente insalubres, negado fornecimento de água limpa, alimentos em quantidade suficiente, cuidados médicos. Alguns vieram a morrer em circunstâncias desse tratamento.

Depois da violenta experiência na Ilha das Cobras, em abril de 1911, João Cândido foi encaminhado para o Hospital de Alienados. Conforme  uma junta formada por médicos da Marinha, ele passou a ter delírios após ver seus companheiros mortos. No Hospital de Alienados, permaneceu até o dia 4 de junho de 1911, em seguida foi enviado novamente para a prisão da Ilha das Cobras, onde permaneceu por 18 meses. Em setembro de 1912 foi julgado por suposto envolvimento na revolta do batalhão dos fuzileiros navais, conquistou o direito em viver em liberdade, mas foi definitivamente expulso da Marinha. Para sustentar sua família, passa a trabalhar como pescador. Casou-se por três vezes, sua primeira mulher, com quem ficou casado por pouco tempo, morreu em 1917; a segunda esposa suicidou-se em 1928, ato que seria repetido, 10 anos mais tarde, por uma de suas filhas. Com sua última esposa ficou casado até o fim de sua vida. Ao total teve 11 filhos. Faleceu na miséria em 6 de dezembro de 1969. 

Mesmo após décadas da revolta a Marinha ainda continua a desmerecer João Cândido, através da Lei Nº 11.756 seria concedido "anistia" á ele e seus demais companheiros. No entanto, a lei foi vetada na parte em que determinava sua reintegração à Marinha, o reconhecimento de sua patente e devidas promoções e o pagamento de todos os seus direitos para seus familiares remanescentes. Em 2008 foi inaugurada uma estatua em sua homenagem posicionada na Praça XV, Rio de Janeiro, o que provocou protesto por parte de oficias que exigiram que o monumento não ficasse em frente à Escola Naval, situada perto da praça.  

Celebremos a bravura de todos homens que lutaram na  Revolta da Chibata. Jamais devemos esquecer-nos de nosso Grandioso Almirante Negro. João Cândido herói de nosso povo!  





Kassan 23/11/2014

Hoje é Dia dos Mortos. E o que fazemos para prestigiar aqueles que vieram antes de nós? Será que estamos vivendo de forma digna a honrar a memória de nossos mortos? Será que estamos sendo corretos é justos com nossos antepassados, quando os esquecemos como parte insignificante da história, ou quando em troca de mínima aceitação é assimilação na cultura dos opressores, relativizamos é menosprezamos os horrores que nossos ancestrais por séculos tiveram que suportar na carne.

Alguns dizem esqueçam isso, não existe necessidade em manter coisas de um passado distante no agora presente. Mas perceba que quem diz isto e exatamente os que têm os elos com a ancestralidade mantidos, são aqueles que sabem reconhecer sua ascendência através de nomes, sobrenomes. Quando se batiza um aeroporto, escola, hospital, prédio ou rua com o nome de uma pessoa falecida é uma forma de fazer com que ela não seja esquecida pela comunidade. Portanto, e uma maneira de reverência a um antepassado. E nós como sendo portadores da ascendência africana, como e quando reverenciamos nossos falecidos?

Questione a si mesmo, você sabe o nome de seus bisavôs ou tataravôs? Você é capaz de traçar sua árvore genealógica até qual geração passada? Apagamento histórico também é uma modalidade de genocídio.
Somos instruídos do berço ao túmulo a termos como certos, ideias deturpadas sobre nossa linhagem ancestral. E como um mal enraizado reproduzimos isso sem contestar, sem resistirmos. Mas este tempo deverá se encerrado, temos que ver além dessas montanhas de mentiras, e assim saberemos que nossa história não começou em navios negreiros e tão pouco terminará envolta em um terror inglório. Avante ao futuro de liberdade, sem abandonar o passado.

Quando afirmamos que esta versão ''oficial'' da história não corresponde a verdade e que não iremos aceitá-la, nossos inimigos, ora camuflados de amigos nos acusam de estarmos sendo extremistas, mas diga quando foi o momento na história dos últimos 5 séculos que houve moderação e suavidade com nosso povo?

Um dia apenas para os mortos é pouco. O que devemos fazer e sempre relembrarmos os antepassados. Jamais perdermos a memória ancestral!




Kassan 02/11/2014