Trayvon Martin, negro, jovem, morto por parecer suspeito, mais uma vítima do Estado Policial racista dos EUA! 




Caso não tivesse tido a vida exterminada de forma covarde, Trayvon Martin estaria hoje com 19 anos de vida. Estaria ao lado de sua família, amigos é fazendo o que gostava que era jogar futebol americano, porém o jovem foi mais uma vítima fatal do Estado policial montado contra o povo pobre e negro nos Estados Unidos! Malcolm X a 40 anos atrás já denunciava a violência que era submetida a comunidade negra, as prisões os assassinatos. O Estado policial que era montado contra os negros pobres os obrigava a viverem em insalubres condições nos guetos. 


Depois da vitória de Barack Obama foi arquitetado um espúrio político que afirmava que o fato de haver sido aceito e eleito um presidente de descendência africana, fez com que os Estados Unidos ingressarem em um período pós-racial. Como alegam os defensores dessa premissa com o advento da sociedade pós-racial, o racismo pura e simplesmente desapareceu dos EUA. Que o fator ''raça'' a qual o indivíduo pertence não mais influencia em questões como: posição socioeconômica, qualidade de vida, representatividade política, etc. Portanto, para os artífices pós-racialistas norte-americanos, não existe mais necessidade em se fazer analises, discussões, debates a respeito do racismo, isso tudo agora é parte de um passado que deve ser ignorado e nunca tocado. Políticas afirmativas para minorias são dispensáveis, nada de haver ''privilégios'' especiais para nenhum grupo já que não existe mais racismo no tecido social. Isso e o que atende pelo nome de pós-racial.


Percebe-se o detalhe e que a idéia de pós-racial ventilada nos Estados Unidos e basicamente uma irmã siamesa da ''democracia racial'' brasileira da qual estamos acostumados. Provavelmente devem ter estudado a situação por aqui, para reproduzi-la em versão estadunidense.


Era noite, 26 de fevereiro de 2012, cidade de Santford, estado da Flórida, Trayvon Martin caminhava sozinho pelas ruas no condomínio residencial The Retreat at Twin Lakes, uma comunidade com composição multiétnica, quando foi avistado por George Zimmerman, homem branco de origem latina ou “hispânica” como e recorrer dito nos EUA,  Zimmerman realizava uma função voluntária de vigilante, através de um programa chamado “Vigilância na Vizinhança” a onde os próprios moradores assumiam a responsabilidade em patrulhar as ruas do bairro e proteger residências e comércio. Trayvon estava usando o capuz de seu moletom sobre a cabeça. George Zimmerman avistando o jovem negro considerou suspeita sua atitude, então decide persegui-lo após se comunicar com a  polícia que deu aval para que ele fizesse esse procedimento. Incomodado com a situação Trayvon Martin se irritou com a conduta e ambos iniciaram uma discussão, enquanto discutiam, Zimmerman sacou sua pistola semiautomática e sem dar direito à defesa disparou contra o peito de Trayvon que morreu ainda no local. Trayvon Martin estava desarmado e não possui nenhuma registro de delito ou crime.


Após o assassinato a polícia de Santford não prendeu George Zimmerman, devido que sua ação estava amparada na lei conhecida como “Defenda sua posição” (Stand Your Ground) em vigente na Flórida e mais outros 29 estados norte-americanos que permite o uso de armas letais ao cidadão quando o mesmo se sentir ameaçado fisicamente. Somente após seis semanas da morte do garoto e com muitos protestos de sua família que o sistema judiciário aceitou abrir processo para investigar e julgar  Zimmerman, que foi dado o direito em responder em liberdade o processo.


Havia o temor que a morte de Trayvon Martin poderia ser o estopim para uma crise racial, idêntica a que ocorreu na cidade de Los Angeles, Califórnia em 1992. Em abril de 1992 a cidade californiana foi estremecida por uma revolta civil, que ocasionou uma massiva destruição e saques de estabelecimentos comerciais, depredações de edifícios públicos, incêndios de veículos, tudo isso após quatro policias brancos terem sido absolvidos por um júri, acusados de terem agredidos com chutes e cacetes um homem negro algemado e caído no chão chamado Rodney King, foram todos livrados da acusação criminal, mesmo tendo toda a ação de brutalidade gravada em vídeo.   


Enquanto aguardava pelo julgamento de  George Zimmerman, foram articuladas várias mobilizações exigindo justiça. Há frente dessas marchas se encontravam as lideranças cristãs, com intuito em evitar uma radicalização nos protestos que poderia evoluir para um questionamento de toda a estrutura política racista em voga. Os mais exaltados foram o integrantes do Novo Partido dos Panteras Negras que lançaram algumas provocações, chegando a oferecer uma recompensa por George Zimmerman, mas não passaram disso.


O caso de Trayvon Martin trouxe a tona outros casos exemplares de como o racismo exercer uma força opressiva e letal sobre o povo negro nos Estados Unidos. Um desses casos foi Troy Davis, um homem negro preso, acusado pela morte de um policial branco. Desde o início o processo contra Troy foi marcado por fraudes gritantes, com inclusão de falas testemunhas de acusação, provas forjadas, seu álibi foi ignorado, julgado e considerado culpado, Troy Davis foi executado no corredor da morte em 21 de setembro de 2011. Outro caso que também ficou em evidência foi do jornalista, militante político ex-membro do Partido dos Panteras Negras, Mumia Abu Jamal, condenado por uma farsa jurídica com nítida motivação política, acusado de matar um policial. Inicialmente sentenciado a morte, Mumia Abu Jamal teve a pena convertida para perpetua. O encarceramento em massa de afro-americanos tem aumentado vertiginosamente em décadas. O número de negros e o mais desproporcional entre todos os grupos raciais nos Estados Unidos, a população negra é  aproximadamente 12% do conjunto total de pessoas nos Estados Unidos, mas atualmente respondem por quase 40% da população presidiária.Nas prisões, existe apenas um branco para cada 11 negros. Estatísticas indicam que quatro de cada cinco jovens negros serão aprisionados em algum momento de suas vidas. Uma constatação que não permite ocultar o caráter racista dessa opressão e no estado da Pensilvânia, onde os negros representam 10% da população, mas dentro do sistema carcerário representam 60% dos presos.


Como maior país capitalista do mundo, quanto mais presos melhor, pois a administração das cadeias e feita pelo setor econômico privado. Essa estrutura física de prisões e sua exploração pela burguesia ianque e conhecida como complexo industrial-prisional e um verdadeiro tentáculo em amparo ao Estado policial. O Estado policial agindo nas ruas quando não extermina pelas de balas, manda para as masmorras do complexo industrial-prisional todos aqueles considerados inadequados na ordem social e racial da sociedade anglo-saxão protestante.


Em 13 de julho de 2013 George Zimmerman foi julgado sendo considerado inocente da acusação de homicídio, saindo livre do tribunal. Para acalmar os ânimos pelo desfecho de impunidade, logo os líderes religiosos se apresentaram como porta-vozes na comunidade negra pregando paz e respeito à ordem. A mídia através dos grandes canais como Fox News, comungando com os interesses da indústria de armas e expressando o rancoroso racismo conservador, celebraram a absolvição de Zimmerman. Antes do assassinato de George Zimmerman tinha uma ficha por pequenos delitos de agressão contra mulheres. 

Pressionado a se pronunciar sobre o julgamento, Obama declarou em cínica demagogia que o assassinato de Trayvon Martin era uma “tragédia” tanto para a família do jovem como para o país inteiro, e caso tivesse um filho gostaria que ele fosse parecido com Trayvon, mas o presidente norte-americano reiterou os Estados Unidos como uma nação de leis justas e que confiava na autoridade do sistema judiciário. O ocupante da Casa Branca um verdadeiro lobo em pele de cordeiro só não mencionou que as “leis” estão a serviço da burguesia racista da qual ele e lacaio. O Mestre Malcolm X décadas atrás já havia explanado sobre a estratégia de uso da desinformação da falsificação de notícias  para assim facilitar a formação de uma atmosfera que justifique a repressão nas comunidades negras. 


Dois aspectos são destacáveis nos Estados Unidos na parte branca do país atinge o ápice o processo de militarização com a venda de armas e munição batendo recordes, formação de milícias amparadas na 2° emenda da Constituição, para a parte negra, latina intensifica a criminalização, com aumento da repressão policial, as grandes cidades norte-americanas o comando da polícia está sendo concedido a verdadeiros fascistas, na cidade de New York foi nomeado novamente para o cargo de comissário William Joseph Bratton da qual a comunidade negra guarda péssimas lembranças, Bratton foi a mão de ferro por detrás do programa “Tolerância Zero”, em Los Angeles o chefe da polícia Charlie Beck é notório por dar declarações infames sobre jovens negros e latinos.


Não se trata de um fenômeno espontâneo ou casual o fortalecimento do estado policial estadunidense esta em consonância com o agravamento da crise econômica de 2008 que deteriorou ainda mais os padrões de qualidade de vida dos negros e pobres em geral. Marginalizados em sem acesso eficientes sistemas de ensino público, assistência médica, condições a moradia a perspectiva coletiva de vida se reduz sensivelmente. O pós-racial se configura como uma fantasiosa maquinação de alienação ideológica para neutralizar o combate à conjuntura fascistizante. O aclamado período pós-racial não foi bem assimilado no seio da sociedade norte-americana, que na prática mantém malquerenças raciais. A visibilidade do assassinato de Trayvon Martin e a forma como ocorreu foram apenas uma entre centenas de outros, ocultados pela imprensa. 




Kassan 26/02/2014 




Oportunismo de Nicki Minaj sobre Malcolm X

Malcolm X teve sua imagem usada de forma oportunista pela cantora Nicki Minaj. A rapper escolheu uma das lendárias fotos de Malcolm na qual ele aparece empunhando uma carabina modelo M-1 e olhando para janela, para promover na internet seu single intitulado ''Lookin Ass Nigga''. O próprio nome da música é a letra já contradizem tudo o que Malcolm X pregava sobre orgulho e autorespeito. Essa foto histórica, foi publicada na conceituada revista Ebony em 1964, e foi uma maneira que Malcolm usou para dar uma resposta as inúmeras ameaças de morte que estava recebendo após sair da Nação do Islã. Recado de que estava vigilante e que não permitiria que ninguém cometesse algum tipo de mal contra ele ou sua família. 


Imediatamente após incluir a foto de Malcolm, surgiram por parte dos defensores e admiradores de Malcolm, reações de repúdio a manipulação e distorção da imagem do líder histórico. Ilyasah Shabazz, terceira filha de Malcolm, também se manifestou contrária ao uso da imagem do pai por Nicki Minaj, em entrevista ao jornal Daily News, declarou:

''O uso da imagem para promoção do single não retratam a verdade do legado de Malcolm X, é completamente desrespeitoso, e de modo algum é endossado por minha família. É a esperança da nossa família que o verdadeiro legado e o contexto da vida de Malcolm X continuem a ser compartilhado com pessoas de todas as esferas da vida de uma maneira positiva que ajude a promover as metas e os ideais pelos qual Malcolm X tão apaixonadamente defendidas". 

Para encerrar a polêmica, Nicki Minaj removeu a foto de Malcolm de seus perfis em redes sociais e emitiu um pedido formal de desculpas, alegando que não tinha intenção em desrespeitar o legado de Malcolm X. Porém, o mal já tinha sido produzido. 



Essa atitude estúpida de Nicki Minaj não e algo isolado, a alienação tem feito com que muitos negros norte-americanos obliterem a memória sobre história de seus ancestrais, historicidade composta de dor, sofrimento, mas de luta e resistência. Alguns meses atrás, Russell Simmon, magnata da indústria fonográfica é um dos fundadores da gravadora de rap Def Jam, produziu e postou em seu canal no youtube um vídeo de paródia estilo ''sex tape'' a onde aparecia Harriet Tubman fazendo sexo com um escravocrata branco. Harriet Tubman foi uma mulher negra reconhecida pela bravura e determinação por ter se envolvido diretamente em ações que levaram á liberdade de centenas de escravos no sul dos Estados Unidos, durante o período da guerra civil. 

Justamente para evitar o esquecimento histórico o educador, ativista Carter G. Woodson (1937 - 1950) considerou como sendo um calcanhar de Aquiles para comunidade afro-americana o fato da mesma não admirar, conhecer, estudar sua própria história. O sistema educacional marcadamente racista da época jamais irá conferir valor à história negra, para evitar esse processo de olvido, Carter criou em 1926 a Semana de História Negra. O objetivo era de promover entre as pessoas o senso de orgulho, identidade e conhecimento da trajetória e acontecimentos que ocorreram com os africanos até a América. Isso tudo foi feito antes da eclosão em massa do Movimento pelos Direitos Civis algo que fazia ainda mais uma tarefa importante e necessária.  Em 1976 há semana foi expandido para Mês da História Negra.  Repetindo o mesmo que disse o ator Morgan Freeman em uma entrevista, alguns defendem o fim do Mês da História Negra, como não sendo mais necessário. Acusam até mesmo o mês especial de ser “racista ao inverso”.  A embranquecida Nicki Minaj influencia milhares de fãs jovens que a imitam ridiculamente, seja em aparência, seja em comportamento, ela é apenas a ponta de um iceberg, um espectro apoderou-se da juventude negra que está cada vez mais mentalmente comprometida a adotar em seguir um estilo de vida niilista, consumista e leviano. 

 
Outro aspecto que fica evidente nesse episódio como a música negra foi sequestrada pela indústria fonográfica. Toda autenticidade, criatividade, vivacidade da musicalidade negra, responsável por gerar incontáveis talentos fenomenais, foi reduzida para uma música imbecilizante com linguagem hipersexualizada a onde os interpretes femininos e masculinos têm como mérito não cantarem bem, mas de terem corpos sarados, salvo algumas exceções atuais, Nicki Minaj encarna o modelo de artista negro atual, conforme desejado pelo sistema, ou seja um acéfalo trivial.

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Kassan 26/02/2014


MALCOLM X IMORTAL! 

Hoje completam 49 anos anos do assassinato de um dos mais importantes líderes da luta contra o racismo no mundo. Um crime que até os dias atuais, ainda se encontra envolto a nebulosos questionamentos. Tratado em muitas vezes como um mero rival ou antagônico de Martin Luther King, Malcolm X foi muito mais complexo do que uma liderança por direitos civis. Malcolm foi uma personalidade que dividiu opiniões, gerou amores e ódios. Oportunista demagogo com linguagem violenta para alguns, gênio revolucionário é autêntico porta-voz dos negros e oprimidos para outros, alguém que advogou o direito legítimo do oprimido de se autodefender e buscar sua liberdade por todos os meios necessários. Há certeza e que Malcolm cravou seu nome na história, está no panteão dos imortais líderes, referência para diáspora africana e para o continente africano. 

Sua trajetória de vida entrelaçada com sua militância possui características que envolvem ao extremo: bravura, dor, perda,superações é algo fundamental que o tornou esse líder descomunal, foram as reinvenções em sua vida, em 40 anos de existência, Malcolm soube e foi obrigado a reinventar-se várias vezes, da infância marcada pelo terror, o esfacelamento de seu seio familiar, o início de uma adolescência problemática envolvida com atividades erradas, em seguida a guinada com sua conversão religiosa na prisão e sua transformação em um disciplinado integrante de uma pequena organização islâmica da qual foi o responsável por tirar da obscuridade é colocá-la no centro da visão das massas, abdica de sua personalidade para servir de forma obediente um mentor que o utilizou para ganhar poder, mas que posteriormente o traiu de forma vil. Malcolm era uma pessoa extraordinária, sua grandeza não poderia ser eclipsada por figuras menores, em um novo salto revê suas posições religiosas é isso implicam em uma mudança de postura e discurso. Mas nunca perdeu seu ímpeto implacável, sua obstinação por justiça.E justamente por ter tido uma vida marcada por reinvenções, que o escritor, professor Marable Manning, escreveu uma biografia um novo relato sobre a vida é luta de Malcolm. Para Marable a autobiografia publicada em 1965, deixou muitas lacunas para serem preenchidas. Na biografia 'Malcolm X — Uma Vida de reinvenções' o objetivo e lançar um novo olhar sobre esse gigante que jamais deverá ser esquecido. 




Reflexões sobre uma visão revolucionária
Epílogo*

Extraído do livro: Malcolm X – Uma vida de reinvenções,
Autor Manning Marable
Companhia das Letras. 

Uma biografia mapeia a arquitetura social da vida de um indivíduo. O biógrafo traça o mapa da evolução do biografado ao longo do tempo, e os diversos desafios e testes que esse indivíduo enfrenta oferecerem vislumbres do seu caráter. Mas o biógrafo tem um fardo adicional: explicar acontecimentos, perspectivas e ações de outros, que o biografado não poderia ter conhecido, e que no entanto tiveram impacto direto na sua vida.


                         Malcolm X hoje tem um status de ícone no panteão dos heróis americanos multiculturais. Mas na época de sua morte era amplamente vilipendiado e repudiado como demagogo irresponsável. Malcolm  procurou deliberadamente ficar á margem, desafiando o governo dos Estados Unidos e as instituições americanas. Tudo isso teve um custo. O Estado o rotulou como subversivo e um risco para a segurança. A animosidade de J. Edgar Hoover contra Malcolm X, por exemplo resultou em atos de escuta telefônica ilegal, vigilância e intervenções policiais que provavelmente fora além de qualquer coisa que Malcolm pudesse imaginar. Malcolm não estava de todo ciente, até tarde demais, da profunda hostilidade que provocara dentro da Nação do Islã, e que levou um grupo de funcionários em torno de Muhammad a advogar sua morte. Ele depositou a maior confiança num guarda-costas que pode ter planejado e ajudado a realizar sua execução pública. Líderes como Malcolm têm enorme confiança em si e em sua capacidade de convencer os demais. Era extremamente difícil para ele prever, ou mesmo reconhecer, uma traição.


                         A força de Malcolm estava em sua capacidade de reinventar-se, para funcionar até prosperar em ambientes muito diversos. Desenvolveu cuidadosamente sua apresentação física, a maneira de aproximar-se dos outros, utilizando-se de experiências passadas assim como do folclore e da cultura afro-americanos. Teceu uma narrativa de sofrimento e resistência, de tragédia e triunfo, que empolgou a imaginação de negros do mundo inteiro. Viveu a existência de um músico itinerante, viajando constantemente de cidade em cidade, passando noite após noite em pé no palco, manipulando sua melodiosa voz de tenor como um instrumento. Tinha consciência de ser um artista que se apresentava como veículo de transmissão da raiva da impaciência das massas negras. Afro-americanos pobres podiam admirar Martin Luther King, mas Malcolm não só falava a mesma língua, como tinha passado pelas mesmas experiências — em lares adotivos, em prisões, em filas de desemprego. Malcolm era amado porque podia se apresentar como um deles. 


                         Um grande talento dessas notáveis figuras é a capacidade de apreender sua época, de falar para um momento único da história. Tanto Martin como Malcolm foram líderes assim, mas expressaram suas visões pragmáticas de maneiras diferentes. King personificou as lutas históricas travadas por gerações de afro-americanos pela igualdade plena. Estabeleceu, predominantemente, organizações políticas negras, como Montgomery Improvement Association em 1955 e a Southern Christian Leadership Conference em 1957, mas sua ênfase era a conquista da dessegregação e da cooperação inter-racial. King jamais jogou negros contras brancos, ou usou as atrocidades cometidas por extremistas brancos como justificativa para condenar os brancos por atacado. Já Malcolm, por sua vez, durante a maior parte de sua carreira pública tentou colocar brancos na defensiva em suas relações com afro-americanos. Sentia agudamente — e expressava-as — as variadas emoções era o orgulho negro, autorrespeito e a consciência do legado recebido. Numa época em que a sociedade americana estigmatizava e excluía pessoas de ascendência africana, a defesa militante de Malcolm foi surpreendente. Ele deu milhões de afro-americanos mais jovens uma profunda confiança. Essas expressões estavam na base do que em 1966 se tornou movimento Black Power, e Malcolm foi sua fonte original.


                      Malcolm acabou ocupando um espaço central na rica tradição popular de delinquentes e dissidentes negros, em luta contra a hierarquia social estabelecida. Antes da guerra civil, esses homens de resistência se chamavam Gabriel Poster, Nat Turner. Na música afro-americana, a tradição inclui o notório folclore de Stagger Lee, o inventivo guitarrista de blues Robert Johnson e o carismático artista de hip hop Tupac Shakur. O que esses fora da lei negros tinham em comum era um calmo desdém pelo status quo burguês, pelo sistema de supremacia branca, como suas leis, seus tribunais. Mas significativamente, a tradição dos negros fora da lei era transgredir a ordem moral. Nesse sentido, Detroit Red, como Malcolm o construiu, era um anti-herói, o jazzista da moda que ria dos costumes convencionais, que consumia drogas ilegais e praticava sexo ilícito, que violava todas as regras. Um exame mais rigoroso da Autobiografia revela que muitos elementos da narrativa de Detroit Red são fictícios, apesar disso, as experiências do personagem encontram eco nas plateias negras, porque o contexto do racismo, do crime e da violência é parte integral da vida dos guetos.


                   A outra dimensão da aparência de Malcolm era a identidade de pregador integro, do homem que dedicou a vida a Alá. Esse foi outro papel que também teve profundas repercussões na cultura afro-americana. Como sua linguagem poderosa, Malcolm insistiu, audaciosamente, na noção de que o racismo não decidiria o futuro dos negros; e de que em vez disso, pessoas de ascendência africana estavam destinadas á grandeza. Desenvolveu profundo amor pela história dos negros e utilizou em muitas palestras suas intuições tiradas da herança cultural dos afro-americanos e africanos. Malcolm encorajou os negros a celebrarem sua cultura e os relatos de resistência negra ao colonialismo europeu e á dominação branca. E apesar da genuína conversão ao Islã ortodoxo, sua jornada espiritual estava vinculada á sua consciência negra. Poucas semanas depois do seu assassinato, o poeta Amiri Baraka proclamou: “Maior contribuições de Malcolm foi pregar a consciência negra ao homem negro. Agora só precisamos encontrar a carne da nossa criação espiritual”. Para Baraka, Malcolm significava a estética negra, um conjunto de valores e critérios para representações culturais afirmando o gênio e a criatividade das pessoas de ascendência africana. Malcolm forneceu o molde daquilo que os artistas negros deveriam almejar. “O artista negro é necessário para mudar as imagens com que seu povo se identifica, afirmando o sentimento negro, a inteligência negra, o discernimento negro”, disse Baraka. Em março de 1965, Baraka saiu de Greenwich Village e migrou para o Harlem, onde estabeleceu o Teatro-escola de Repertório de Artes Negras ( Black Arts Repertory Theatre School, Barts). Foi o alicerce onde floresceu o movimento moderno das artes negras, envolvendo milhares de poetas, teatrólogos, dançarinos e outros produtores culturais. Malcolm tornou-se a sua musa, a expressão ideal da negritude. Até mesmo o New York Times, numa avaliação da contínua influência no Harlem, observou que a “a ideia central de Malcolm, que firmou depois de sua morte, é que negros precisam se ater estreitamente a sua própria cultura negra, e alimentá-la em vez de ‘integrá-la para que deixe de existir’.


                Stokely Carmichael, talvez o mais importante arquiteto do movimento Black Power, localizou a origem do seu desenvolvimento em Malcolm. Na autobiografia, Carmichael explica que como estudante de Universidade de Howard no começo dos anos 1960 via Bayard Rustin, de início como seu mentor político. Assistiu ao debate entre Rustin e Malcolm em Washington, em 30 de outubro de 1961, certo de que Rustin venceria o debate “de mão atadas”. Mas, como tantos outros, ficou fortemente impressionado com argumentação de Malcolm. “O que Malcolm demonstrou naquela noite... foi o poder bruto, a potência visceral, da influência que nossa negritude coletiva, não expressa claramente em palavras, exercia sobre nós. Nunca vou esquecer. “Três décadas depois do triunfo de Malcolm sobre Rustin, Carmichael ainda se inspirava no homem orgulhoso que era a personificação da negritude. “A luz de um refletor seguiu-o enquanto caminhava, magro, ereto, imaculadamente vestido, para o microfone num palco em tudo o mais escuro.”³


                Existe uma tendência de revisionismo histórico a interpretar Malcolm X pelas lentes poderosas de Martin Luther King: de acordo com essa corrente, a evolução de Malcolm faria dele um reformista liberal pró-integração. Essa opinião não é apenas errada, mas injusta como Malcolm e com Martin Luther King se via, como Frederick Douglas, acima de tudo como um americano, que pretendia obter os mesmos direitos civis e privilégios cívicos desfrutados por outros americanos. Lutou para apagar a faixa colorida de estigma e exclusão que relegava minorias raciais á cidadania de segunda classe. Como na bem-sucedida campanha presidencial de Barack Obama em 2008, King pretendia convencer os americanos brancos de que “raça não tem a menor importância” — em outras palavras, que as diferenças físicas e de cor que parecem distinguir negros de brancos não deveriam ter peso algum na aplicação da justiça e da igualdade de direitos.

                Em nítido contraste. Malcolm se via antes e acima de tudo como um negro, uma pessoa de ascendência africana cidadã dos Estados Unidos. Era uma diferencia crucial que o separava de King e outros líderes de direitos civis. Quando pertencia á Nação do Islã, Malcolm se considerava membro da tribo de Shabazz, fictício clã negro asiático inventado por W. D. Fard. Mas nas fases finais de sua carreira, especialmente em 196-5, Malcolm vinculava sua consciência negra ao imperativo ideológico de autodeterminação, ao conceito de que todos têm o direito de decidir o próprio destino. Malcolm via os americanos negros como uma nação oprimida dentro da nação maior, com cultura, instituições sociais e psicologia de grupos próprias. As lembranças que tinham da luta pela liberdade diferiam completamente das lembranças dos americanos brancos. No fim da vida, percebeu que os negros podiam, de fato alcançar representação e mesmo poder dentro do sistema constitucional dos Estados Unidos. Mas sempre pensou, antes e acima de tudo, nos interesses dos negros — o que muitos negros percebiam instintivamente amando-o por causa disso.

                King apresentou aos americanos brancos uma estreita narrativa sugerindo que os negros estavam preparados para protestar sem violência, e mesmo para morrer, a fim de concretizar a promessa dos fundadores. Malcolm, por sua vez, propunha que os oprimidos tinham o direito natural de autodefesa armada. Sua narrativa era a da história do racismo estrutural — do tráfico transatlântico de escravos á guetização — e seu remédio eram reparações para os negros, uma compensação aos anos de exploração que os negros sofreram. É por essa razão que Malcolm, tivesse ele sobrevivido até os anos 1990, não seria um defensor entusiástico da ação afirmativa como ponto central das reformas de direitos civis. A ação afirmativa jamais pretendeu promover  o pleno emprego, ou a transferência de riqueza para afro-americanos. O que Malcolm buscava era uma reestruturação fundamental da riqueza e do poder nos Estados Unidos — não uma revolução social violenta, mas ainda assim uma mudança radical e significativa.

                Outra diferença crucial entre os dois líderes era sua relação com a classe média afro-americana. King era produto da pequena burguesia instruída e endinheirada de Atlanta. Tinha diplomas de Faculdade Morehouse e da Universidade de Boston; Malcolm saiu da escola sem concluir o primeiro ano do ensino médio. Sua “universidade” foi a Colônia Penal de Norfolk. Mais do que qualquer outro líder negro do século XX, Malcolm exigiu que os negros das classes profissionais e gerenciais tivessem mais responsabilidade para com as massas de pobres e operários afro-americanos. Em discursos como “Mensagem ás bases”, condenou severamente os líderes negros de classe média por seus acordos com mediadores brancos influentes. Exigiu maior integridade e responsabilidade dos negros privilegiados, como elemento essencial da estratégia para alcançar a liberdade dos negros.

                 Em sua história oral de 2003, Ossie Davis explicou, quando lhe perguntaram por que se referia a Malcolm como “esplêndido príncipe negro” em sua oração fúnebre: “Porque um príncipe não é um rei”. Deu a entender que a morte prematura de Malcolm interrompeu sua maturidade e o desenvolvimento de seu pleno potencial de líder. Outra maneira de examinar o achado de Davis é perguntar se a visão de justiça racial de Malcolm é iluminadora. Depois do assassinato de King, sua imagem cresceu, passando de contestador da Guerra do Vietnã e polêmico paladino dos direitos civis a defensor de uns Estados Unidos cegos para a cor da pele. Seu aniversário foi comemorado pelo governo americano como feriado nacional dedicado ao serviço público. Politios de todos matizes ideológicos aplaudem a não violência de King, mas raramente examinam sua feroz impaciência com a injustiça racial e sua relevância para a nossa época. Já Malcolm, durante décadas, foi escarnecido e estereotipado por seu extremismo racial. No entanto, para maioria dos americanos negros ele se tornou figura emblemática de encorajamento dos negros, que destemidamente contestou o racismo onde que o identificasse, e inspirou jovens negros a sentirem orgulho de sua história e cultura. Esses aspectos da personalidade pública de Malcolm ficaram indelevelmente gravados no movimento Black Power, estavam presentes no brado “É a nossa vez!” dos proponentes negros de Harold Washington na vitoriosa campanha do Partido Democrata para prefeito de Chicago em 1983. Estavam expressos parcialmente no comparecimento inédito de eleitores em bairros negros durante as campanhas de Jesse Jackson nas eleições presidenciais de 1984 e 1988 e na bem-sucedida tentativa eleitoral de Barack Obama em 2008. Malcolm de fato previu que o eleitorado negro poderia, potencialmente, representar o equilíbrio de poder numa república branca dividida.


                 A visão revolucionária de Malcolm também desafiou os Estados Unidos branco a pensarem e falarem de outra maneira a respeito de raça. Numa época em que artistas brancos ainda pintavam o rosto de negro para atuar, Malcolm desafiou os brancos a examinarem as políticas e práticas de discriminação racial. Antes de os pós-modernistas escreverem sobre “privilégio branco”, Malcolm falou dos efeitos destruidores do racismo sobre suas vítimas e seus promulgadores. Perto do fim da vida, imaginou a destruição do próprio racismo, e a possibilidade de criar ordem social humana livre de injustiça racial. Ofereceu a esperança de que os brancos pudessem superar séculos de socialização negativa com os negros, e que uma sociedade racialmente justa era viável. Não adotou a “cegueira da cor”, mas, como Frantz Fanon, achava possível desmantelar as hierarquias raciais existentes na sociedade.


              Malcolm também mudou internacionalmente o discurso e a política relativos a raça. Num período em que líderes afro-americanos dedicavam seus esforços para mudar políticas federais e estaduais sobre relações entre raças, Malcolm percebeu que o êxito da luta interna por direitos civis requeria que ela fosse ampliada numa campanha internacional por direitos humanos. As Nações Unidas, não o Congresso ou a Casa Branca, tinham de ser fórum central. Igualmente importantes eram as distinções que ele fez entre política negra dentro dos Estados Unidos e as políticas de libertação na África e no Caribe.
              Apesar de sua retórica radical, como deixa de claro “O voto ou a bala”, Malcolm em sua maturidade acreditava que as afro-americanos poderiam usar o sistema eleitoral e o direito de voto para conquistar mudanças importantes. Sua posição, de propor uma educação e mobilização em massa do eleitorado negro, era praticamente idêntica á do SNCC, e seria mais tarde adotada pelo Partido dos Panteras Negras em Oakland nos anos 1970. Mas fora dos Estados Unidos, apesar de seu respeito por Nkrumah, ele não via a política eleitoral e a mudança social gradual como abordagem viável para transformação de sociedades pós-coloniais. Apoiava a violência revolucionária contra o regime do apartheid na África do Sul, e as guerra de guerrilha contra o regime neocolonial no Congo e nas colônias portuguesas de Guiné-Bissau, Angola, Moçambique. Nelson Mandela, que em 1961 fundou o Congresso Nacional Africano, era herói de Malcolm por sua identificação com os ataques guerrilheiros contra a África do Sul branca. Embora hoje Mandela seja visto como um reconciliador de raças, muito semelhante a King, meio século atrás o futuro presidente da África do Sul tinha opiniões muito parecidas com as de Malcolm sobre a necessidade da luta armada na África. Por isso, a ideia de que havia “dois Malcolms X” — um que defendia a violência quando era membro da Nação, e outro que apoiava a mudança não violenta — é absolutamente errada. Para Malcolm, a autodefesa armada jamais significou violência pela violência.


               Malcolm concebeu uma versão moderna do pan-africanismo, baseada no antirracismo global. A Conferência Mundial das Nações Unidas Contra o Racismo, realizada em Durban, na África do Sul, em 2001, foi, em muitos sentidos a materialização da visão internacional de Malcolm. Centenas de organizações não governamentais de religião, de justiça social e de direitos civis travaram diálogos transnacionais, examinando o racismo de uma perspectiva verdadeiramente global. Dos 11 500 delegados e observadores, cerca de 3 mil eram americanos, e quase dois terços americanos negros. Malcolm acreditava que a liberdade dos negros nos Estados Unidos dependia de uma estratégia geopolítica internacionalista.


               A dimensão irrealizada da visão racial de Malcolm foi a do nacionalismo negro. Ideologia política surgida antes da Guerra Civil,  o nacionalismo negro baseava-se na crença de que o pluralismo racial  conducente a assimilação era impossível nos Estados Unidos. Tão descrentes eram os nacionalistas na capacidade de os brancos superarem o próprio racismo que chegaram a negociar com grupos terroristas como a Ku Klux Klan, na equivocava suposição de que eram mais honesto em suas atitudes raciais do que os liberais. Mas, á medida que as experiências internacionais Malcolm ganhavam variedade e amplitude, sua visão social se expandia. Ele ficou menos intolerante e mais aberto a coalizões multiétnicas e inter-religiosas. Em seus últimos meses de vida recusava a identificação de “nacionalista negro”, buscando abrigo ideológico nos conceitos racialmente neutros do pan-africanismo e da revolução no Terceiro Mundo. Também passou a rejeitar a violência pela violência, jamais abandonando porém, o ideal de nacionalista de “autodeterminação”, o direito dos países e minorias oprimidas decidirem por sua conta própria seu futuro político. Diante da eleição de Barack Obama, levanta-se agora a questão de saber se os negros têm um destino político separado de seus concidadão brancos. Se a segregação racial legal ficou permanentemente para trás no passado dos Estados Unidos, a visão de Malcolm hoje teria de redefinir num ambiente político que muitos parece “pós-racial”.


              Finalmente, e talvez mais relevante, Malcolm X representou a ponte mais importante entre o povo americano e mais de 1 bilhão de muçulmanos mundo afora. Antes da reforma da lei de imigração em 1965, o mais destacado grupo a identificar-se com o muçulmano americano foi a herética Nação do Islã. Quando se informou melhor sobre o Islã ortodoxo, Malcolm de dispôs a propagar o significado dessa fé para plateias fora de qualquer contexto racial. Mesmo antes de sua morte, Malcolm tornou-se amplamente conhecido e respeitado nas diásporas islâmicas e árabes. Tentou comunicar-se com seitas e organizações islâmicas que refletiam opiniões e princípios teológicos muitos divergentes — os muçulmanos wahabitas na Arábia Saudita, os socialistas nasseristas no Egito, os sufis africanos no Senegal, a Irmandade Muçulmana no Líbano, a Organização para a Libertação da Palestina. Evitava discussões que pudessem muçulmanos contra  muçulmanos; enfatizava a capacidade do Islã para transformar o crente, levando-o do ódio e da intolerância para o amor. Sua própria e notável história pessoal pessoa personificou essa reinvenção.


               E o que dizer do futuro de Malcolm depois de sua morte? Assim como a cultura do hip hop foi decisiva para promover o segundo renascimento nos anos 1990 parece provável que o Islã influenciará seu legado futuro.

               O processo de reinvenção jihadista começou com revolução iraniana. O governo do aiatolá Khomeini foi o primeiro a imprimir um selo postal com a imagem de Malcolm, lançado em 1984 para promover o Dia Universal da Luta contra a Discriminação Racial. Menos de duas décadas depois, sua influência foi descoberta nas cavernas das montanhas do Afeganistão, no radicalismo do convertido islâmico e talibanista Jonh Walker Lindh. Branco americano de classe média alta do rico condado de Marin, na Califórnia, Lindh foi apresentado a Malcolm quando a mãe o levou para ver o filme de Spike Lee. Depois de ler a Autobiografia, o fascínio de Lindh evoluiu para ferrenha dedicação. Em outubro de 2001, quando forças americanas invadiram o Afeganistão, Lindh foi capturado entre os combatentes talibãs e agora cumpre pena de vinte anos de prisão. O conselheiro religioso de Lindh, Shakeel Syed, está convencido de que Lindh poderia “ser o novo Malcolm X”.


               A rede terrorista Al-Qaeda também tem consciência suficiente da política racial americana para estabelecer claras distinções entre líderes afro-americanos convencionais e revolucionários negros como Malcolm. Um vídeo da Al-Qaeda divulgado depois da eleição de Barack Obama em novembro de 2008 descrevia o presidente eleito como um “traidor da raça” e “hipócrita” em comparação com Malcolm X. “E em [Barack Obama] e Colin Powell, [Condolezza] Rica e semelhante, as palavras de Malcolm X [ que Alá tenha piedade dele] sobre ‘negros de casa’ se confirmam”, declarou o vice da Al-Qaeda, Al Ayman Al-Zawari. Malcolm foi descrito como uma figura essencial para as tradições políticas dos “honrados negros americanos”. O que há de irônico nisso é que Malcolm certamente condenaria os ataques terroristas do Onze de Setembro de 2001 por representarem a negação dos princípios do Islã. Uma religião baseada na compaixão universal e no respeito aos ensinamentos da Torá e dos Evangelhos, Malcolm saberia, não tem nada em comum com aqueles que empregam o terror como ferramenta política. A jornada de autodefesa de Malcolm e a busca de Deus o conduziram á paz e o afastaram da violência.


               Mas há outro legado que pode ter grande influência na herança deixada por Malcolm: a política do humanismo radical. O primeiro encontro real de James Baldwin com Malcolm ocorreu em 1961, quando foi solicitado para mediar um grupo de discussão o que incluía a Nação do Islã num programa radiofônico. Malcolm fora convidado para debater com um jovem ativista de direitos civis que acabara de voltar de protestos pela dessegregação no sul. Baldwin teve medo de que o célebre agitador fosse arrasar com o jovem manifestante. Baldwin escreveria depois que estava ali “para jogar um salva-vidas sempre que Malcolm parecesse levar o menino para águas profundas demais”. Para surpresa de Baldwin, Malcolm “compreendeu aquele menino e dirigiu-se a ele como se falasse como um irmão mais novo”. Baldwin ficou profundamente comovido. “Jamais esquecerei Malcolm e o menino, um diante do outro, e sua extraordinária gentileza: ele foi uma das pessoas mais gentis que conheci na vida.”


               Um profundo respeito pela humanidade negra e uma profunda crença nela estavam no cerne da fé visionária desse revolucionário. E quando sua visão social se ampliou, passado a incluir pessoas de diferentes nacionalidades e identidades raciais, seu gentil humanismo e antirracismo poderiam ter se tornado plataforma para uma nova espécie de política étnica radical e global. Em vez do feroz símbolo de violência étnica e ódio religioso que a Al-Qaeda quis projetar nele, Malcolm X deveria ser visto como um representante da esperança e da dignidade humana. Pelo menos para os afro-americanos, ele já personifica essas mais elevadas aspirações.








Kassan 21/02/2014 




Malcolm X, internacionalista!


Após se retirar da Nação do Islã ( N.O.I – Nation Of Islam) em 1964, Malcolm X iniciou um fantástico processo de revitalização de sua consciência política. Os limites de ação política do período enquanto era ministro muçulmano da organização de Elijah Muhammad, não mais correspondia a suas aspirações como militante, sua intenção era expandir conexões e criar uma base revolucionária ampla de enfrentamento ao sistema opressor. Sua alteração de opiniões ocorrida após sua visita a Meca, o despertou a possibilidade de haver compreensão multirracial em torno de questões elementares e de interesse comum. Mesmo não abandonando o nacionalismo negro por completo, Malcolm conseguiu acoplar um humanismo de aspecto revolucionário em seu bojo ideológico, um flerte acentuado com concepções anticapitalistas, que o permitia tanto oferecer quanto receber fraternidade, solidariedade de todos os indivíduos oprimidos independente da cor ou raça. Algo que o ajudou muito nessa tarefa em internacionalizar seus objetivos foram suas viagens a outros países do Oriente Médio e também na África. Em todos seus itinerários por outras nações, Malcolm tentou obter o máximo de proveito político, estabelecendo diálogos com variadas correntes políticas, prestando informações sobre a tensa situação racial é política nos Estados Unidos. Ele queria ligar o movimento de luta dos negros norte-americanos a uma futura revolução mundial.  

No Oriente Médio, esteve presente no Arábia Saudita, Egito, Líbano é também viajou para outros países islâmicos no continente africano Argélia, Marrocos. Nesses países de maioria muçulmana Malcolm viu e reviu sua subjetividade existencial como muçulmano seu entendimento sobre a religião. Através da Hajj, abandonou os dogmas da Nação do Islã, e adere ao sunismo. Sua jornada pela África o trouxe também muitas experiências marcantes para vida. Em 1964 estando em Gana, cravou profunda admiração pelo pensamento pan-africanista do presidente daquele país, Kwame Nkrumah, ainda em Gana, conheceu um grupo de artistas, intelectuais afroamericanos que havia se autoexilado para nação ganense, cansados de sofrerem a opressão racista nos EUA, nesse grupo de incluíam a escritora e poetisa Maya Angelou, Malcolm e a poetisa se tornariam bons amigos.  Tanto que por influência de Malcolm, Maya decidiu voltar para os EUA, para ajuda-lo em estruturar a OUA (Organização da Unidade Afro-americana). Estando na Nigéria se encontrou com a Associação dos Estudantes Muçulmanos daquele país, identificando em Malcolm um intenso desejo em reatar elos com a ancestralidade, os estudantes o deram o afetuoso epíteto de “Omowale” que em idioma yorubá, significa o “Filho que voltou para casa”.  Pela doutrina teológica da Nação do Islã os negros eram considerados como sendo asiáticos, por relacionar a raça negra com a raça original humana, pertencente à chamada Tribo de Shabazz. Durante sua fase como Porta-Voz da N.O.I, Malcolm pregou essa versão da histórica, mas nunca virou as costas para África, em ocasião ao assassinato do líder congolês Patrice Lumumba, crime este que teve participação dos serviços secretos dos Estados Unidos, Bélgica, Malcolm vociferou contra os poderes neocolonialistas que impediam a libertação dos africanos. Admirou também a rebelião dos Mau Mau, movimento nacionalista queniano que na década de 1950, iniciou uma guerrilha para libertar o Quênia da dominação inglesa. Para Malcolm construir uma aliança entre países africanos é a comunidade afro-americana era importante, pois reforçava um senso de identidade, indispensável para sobreviver ao racismo. Os movimentos de libertação africanos deveriam ser estudados, compreendidos e toda solidariedade deveria ser prestada aos mesmos.

Os países que possuíam independência reconhecida na África se unem em 1963 é criam a OUA (Organização da Unidade Africana) com objetivo em formar uma agenda diplomática, econômica, política de interesses comuns, prestando também apoio a luta para que outros países se livrarem do julgo colonial, era resultado da perspectiva política pan-africanista, em 1964 Malcolm  funda a OUAA (Organização da Unidade Afro-americana) para se assemelhar a OUA, mas agindo só que agindo em território norte-americano, unindo negros em uma frente política de ação comum.

Quando visitou o Egito, teve compactuou com o regime nacionalista de Gamel Nasser. A aproximação entre Malcolm e Nasser se iniciou quando o líder egípcio esteve em New York para assembleia da ONU, Malcolm foi recebido em uma reunião particular com Gamel Nasser. O Egito nacionalista era o principal inimigo de Israel, observando o cenário político no Oriente Médio, e analisando a conduta militar israelense, e sua forma como invadia as terras dos palestinos, o tratamento discriminatório contra os árabes, Malcolm não hesitou em considerar e declarar ser Israel como sendo um Estado racista, caracterizando-o como um gendarme colonialista a serviço dos interesses ocidentais.

Malcolm também viajou para países europeus. Esteve na França onde fez pronunciamentos á imprensa daquele país, na Inglaterra realizou uma palestra na Universidade de Oxford que foi transmitida pela emissora de televisão, BBC nacionalmente. Estava previsto fazer uma nova visita na França em 1965, mas teve seu acesso ao país proibido por autoridades por considerarem sua presença politicamente inadequada.

Malcolm com os meios disponíveis que possuía, buscou estreitar contatos com lideranças mundiais. Em 1961 se encontrou com Fidel Castro no bairro do Harlem, NY.  O líder cubano iria participar da Assembleia das Nações Unidas daquele ano, os dois dialogaram com muita afinidade. Em 1964 em ocasião da fundação da Organização da Unidade Afro-americana, convidou Ernesto Che Guevara para participar da cerimônia de criação da organização, Che não pode comparecer, mais enviou uma carta de congratulações. Malcolm obteve fama internacional, tornando-se uma referência na luta contra o racismo. Ativistas sul-africanos que lutavam contra o apartheid se exemplaram em sua figura carismática e combativa. Teve seu rosto foi estampado em selo pela República Islâmica do Irã. Seu filme baseado em sua autobiografia, lançado em 1992 com a direção de Spike Lee, rendeu a Denzel Washington indicação ao prêmio de melhor ator pelo Oscar. Na década de 1990 foi a vez do Hip Hop, não permitir que a figura de Malcolm fosse tragada pelo anonimato. Em 2011 Malcolm teve seu nome citado em um vídeo de Ayman al-Zawahiri, um dos principais líderes da organização Al-Qaeda, o fundamentalista religioso, usou Malcolm como referência de decência e lealdade para com o povo negro, no vídeo al-Zawahiri usou um termo que Malcolm utilizava em seus discursos para se referi a negros traidores, Malcolm sempre se reveria a eles como “Negros de casa” o líder islamita criticou Barack Obama, Condolezza Rice, Colin Powell, chamando os de “Negros de casa”, submissos a vontade do homem branco. Em 2001 quando as tropas norte-americanas, invadiram o Afeganistão a procura dos supostos responsáveis pelos ataques terroristas de 11 de setembro, os militares encontraram junto ao Talibã, John Walter Lindh, norte-americano de nascença, filho de uma família branca de classe média alta, o interesse de Jonh pelo islã foi provocado após assistir ao filme de Malcolm X.  

Por sua contribuição extrapolar as fronteiradas dos Estados Unidos, nada mais do que justo é necessário reconhecer em Malcolm X como ícone internacionalista revolucionário do século XX.



Kassan 18/02/2014


Malcolm X Vive!

Em 2014 completa 49 anos do assassinato de Malcolm X (El-Hajj Malik El-Shabazz). Sua morte não foi apenas uma perda para os negros norte-americanos, foi uma perda para toda humanidade progressista. Justamente para celebrarmos a vida de Malcolm X, prestamos uma humilde homenagem para esse líder de extrema importância, vamos dedicar publicações para honrar e agradecer por tudo que ele fez em defesa da liberdade.  


Um pouco mais sobre a vida de Malcolm X




Kassan 18/02/2014

“Diga com quem tu fecha e te direi quem és!”

Sérgio Simão Dias, Cabo do Bope que também realizava trabalho como guarda costa do coordenador do Afroreggae, José Júnior, foi assassinato a tiros em um posto de gasolina na data de 09/02.  A motivação para o homicídio conforme apontam testemunhas e vídeos de câmeras teria sido uma briga de trânsito. Aníbal João Vicente apresentado como suspeito de ter efetuado os disparos que vitimaram o policial foi preso nesta última sexta-feira (14).

Segurança privada realizar por um agente policial ao coordenador do AfroReggae, serve para demonstrar a umbilical relação entre a ONG cultural com a polícia. Mas do que duvidoso, se sobressai o caráter venal essa relação cravada entre AfroReggae e o aparato policial. Contraditório como ao mesmo tempo em que se afirma lutar pelo ''bem'' da favela se alinha com uma força armada responsável por invadir e trazer assassinatos, abusos, terror para dentro das comunidades pobres.


AfroReggae é um cavalo de troia, inserido dentro das favelas, para vender a cantilena aos pobres do apelo da doutrina da cidadania sem controle de poder, pregando à enganosa crença na ilusão da ''inclusão é justiça social'' como via de solução social, quando na verdade essa dita “inclusão”, visa em prática aprofundar o indivíduo, sua comunidade a um modelo socioeconômico fadado por sua própria natureza intrínseca em exercer bruta exploração laboriosa de uma classe sobre a outra, portanto nunca conceberá igualdade de direitos, oportunidade para todos.


O AfroReggae destaca como seu principal objetivo lutar pela transformação social por meio da arte, cultura afro-brasileira, ignora por complexo as inerentes contradições estruturais das relações sociais entre classes, incluindo seus antagonismos de interesses históricos e irreconciliáveis. Fica acentuado que a aposta do grupo cultural e promover um milagroso colaboracionismo de classe, como manifesta em sua visão em construir elos entre pessoas de diferentes tribos, classes e regiões. Como se problemas sociais que afligem os favelados fossem ser resolvidos através de projetinhos artísticos é culturais em parcerias com oligopólios capitalistas. Basta ver a lista de “amigos” da ONG que incluem Organizações Globo, Banco Santander, Natura, Grupo Abril, mas a ONG conta também com ajuda estatal através do governo estadual do RJ e da prefeitura carioca.  Por esse destacado papel em serventia o AfroReggae é a ONG queridinha da classe dominante carioca, por isso tem seus trabalhos subsidiados  para agir em núcleos nos morros de Vigário Geral, Cantagalo, Parada de Lucas, Santa Marta.  O único caminho para se derrotar a violência provocada pelo narcotráfico, pela polícia, por milícias paramilitares, grupos de extermínios, deve se organizar as massas periféricas em comitês de autodefesa, autogestão essa missão histórica ultrapassa os limites políticos propostos pelas ONGs.

Mas o AfroReggae faz parte de um processo mais abrangente que está para além das fronteiras do Estado do Rio de Janeiro. O motivo dessa proliferação de ONGs a nível nacional nas favelas e comunidades pobres urbanas, não ocorre por casualidade, mas é sim um deliberado mecanismo que justamente surge com o objetivo em inibir a resistência popular autêntica. As ONGs não têm como finalidade combater a supremacia do domínio seja político ou ideológico das classes dominantes, mas introduzir um pacto de respeito a institucionalidade normativa da sociedade. Isso promove uma sabotagem na luta dos oprimidos e explorados, que são cooptados a substituir a ação direta por esperanças de mudanças através de migalhas de medidas compensatórias de gestões governamentais, aguardar o paternalismo dos ricos e poderosos. ONG abre uma vicissitude para a formação da consciência política e organizacional dos morros e favelas. A mídia corporativa não hesita em tecer elogios para ONGs, as exibindo como estivessem realizando uma revolução ''cidadã'' ordeira, pacífica que não coloca em xeque a estrutura capitalista, responsável pelo aprofundamento constante das disparidades sociais. 


José Júnior o coordenador do AfroReggae, é um lobo em pele de cordeiro, pela mídia corporativa é apresentado como um abnegado batalhador cultural é revestido com essa cobertura midiática positiva consegui reunir apoio para lançar uma cruzada contra Pastor Marcos Pereira, da Assembleia de Deus dos Últimos dias. O coordenador do AfroReggae é o líder evangélico foram amigos íntimos por um bom tempo, mas a disputa por poder e influência de mediação dentro das favelas os colocou em posição de inimigos mortais. Com ajuda direta da TV Globo que com reportagens diárias no Jornal Nacional e dos grandes jornalzões da capital fluminense que publicavam interruptamente matérias de caráter inquisitório, José Júnior consegui montar um arco com várias acusações contra o pastor que incluíam estupros em  fiéis da igreja, até mesmo uma trama que objetivava sua morte foi ''descoberta''. Para sacramentar essa treta foi cometido um incêndio forjado no núcleo do AfroReggae no Complexo do Alemão, que foram suficientes para levar Marcos Pereira para o cadeia.  Sem inocentes na história, o Pastor Marcos Pereira, notório por seus supostos regaste de pessoas sentenciadas à morte pelos tribunais do tráfico, possuía relações nebulosas com várias lideranças do tráfico da qual prestava e recebia muitos favores.  Até mesmo chefões do tráfico, como Fernandinho Beira-Mar que mesmo estando em um presídio federal, apontaram que não passava de um ardil de José Junior o esquema por ele montado para tirar de Marcos Pereira da concorrência.  


Atualmente nas favelas cariocas, está sendo arquitetado e posto em prática pelo Governador Sergio Cabral e seu Secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame a criação de uma estrutura militarizada de Estado policial, em uma  estratégia que lembra a Blitzkrieg nazista primeiramente vem os soldados do BOPE, com apoio dos caveirões blindados, helicópteros, exterminando tudo e todos que estiverem no caminho para finalizar a dominação militarizada se implanta a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). O projeto da UPP, já demonstra seus desgastes, ocasionado pela conduta policial presente. Avolumam-se as denúncias é relatos de abusos, violência cometido contra moradores, questão essa ignorada pela imprensa. O caso do servente de pedreiro Amarildo, sequestrado, torturado e executado por policiais, cujo corpo até hoje não foi encontrado, expõem que a pacificação e uma farsa. Mesmo diante desse terrorismo estatal, o AfroReggae sai beneficiado, com a expulsão parcial das facções criminosas, isso facilita sua penetração em locais a onde antes para atuarem deveriam pedir autorização para os patrões do tráfico. Como parceiro do BOPE, o AfroReggae não levanta a voz para contestar ou protestar contra as operações violentas dos caveiras que sempre terminam em chacinas.



Todas essas provas evidenciam como o AfroReggae tem selado uma cooperação carnal com as forças que mimam e oprimem a favela. 




Kassan 16/02/2014