Sobre Martin Luther King

M.L.K. organizou os seus pensamentos praticamente do mesmo modo que organizaste os teus. Se conhecesses e compreendesses realmente o seu programa nunca terias expressado o que afirmaste na tua última carta. Creio que estás familiarizado com o facto dele ser contra a violência e a guerra; de facto era um pacifista devoto. É muito invulgar, mesmo inacreditável, que numa era tão violenta e tumultuosa como esta ainda consiga produzir tais homens. Ele estava deslocado, fora do seu tempo, era demasiado ingénuo, demasiado inocente, demasiado cortês e demasiado civil para os tempos em que vivemos. É por essa razão que o seu fim foi tão previsível.

Opunha-se à violência em todas as suas formas, o que não significava que fosse passivo. Sabia que a natureza não permitia que atitudes desse género durassem muito tempo. Teve consciência suficiente para verificar que os homens de cor se encontravam em marcha por todo o mundo e que o seu exemplo iria influenciar rapidamente aqueles existentes nos EUA a também pararem de tremer e a ganhar coragem para se erguerem. Portanto tentou dirigir as emoções e o movimento em geral de acordo com os parâmetros que julgou mais correctos para lidar com a nossa situação: desobediência civil pacífica, de natureza política e económica. Comecei a interessar-me por ele devido às suas ideias recentes acerca das guerras dos EUA no estrangeiro contra pessoas de cor. Estou certo de que era sincero quando afirmava que o seu propósito era “alimentar os famintos, vestir os nus, confortar os presos e tentar amar alguém”. Verdade seja dita que nunca desgostei dele como homem. Como homem dedico-lhe o respeito que ele sinceramente merece.

É como líder do pensamento negro que discordo dele. O conceito do pacifismo é um ideal falso. Pressupõe a existência da compaixão e um sentido de justiça por parte dos nossos adversários. Quando este adversário tem tudo a perder e nada a ganhar se exercer essa justiça e essa compaixão, a sua reacção será sempre negativa.

O símbolo masculino na América do Norte sempre foi a arma de fogo, a faca e o bastão. A violência é exaltada em todas as instâncias: na televisão, nos cinemas, nos livros mais vendidos. Os jornais que mais vendem são os que publicam os cabeçalhos mais ousados e sangrentos e a maior parte dos desportos. Morrer pelo rei e pela pátria é morrer como um herói.

Os King, Wilkinsons e Young exortam-nos com as palavras de King a “colocar de lado as facas, afastar-nos das armas e munirmo-nos com o peito cheio de rectidão” e “dar a outra face para provar a nossa capacidade de tolerar, de amar”. Pois, isso talvez sirva para eles, mas eu preciso dos dois lados da minha cabeça.”

“A paciência tem o seu limite. Levada demasiado longe, passa a covardia.”

- George Jackson


Pan-africano Kassan 22/10/2011

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