Black
Star Line, busca pela independência econômica
Pelas condições tecnológicas da época a aviação ainda
estava se aprimorando e não constituía um meio de transporte eficaz, com isso a
navegação marítima continuava possuindo grande importância para interligar os
povos, seja com transportes de pessoas, como para realização de comércio. Atento a esse detalhe em 1919 Marcus
Garvey utilizando a UNIA cria a Black
Star Line uma empresa de navios a vapor. Na visão de Garvey, era
imprescindível criar e desenvolver uma empresa neste setor para consolidar a
busca pela autosuficiência econômica. A Black Star Line iria transportar desde
pessoas á matérias-primas e produtos manufaturados feitos a partir de empresas
negras na América do Norte, Caribe e África, tornando-se um elemento central na
construção de uma economia global que atenderia o desenvolvimento econômico.
"Eles
disseram que o negro não tinha iniciativa, que ele não era um homem de
negócios, mas um operário, que ele não tinha o cérebro para projetar uma
corporação, de possuir e gerir os navios, que ele não tinha conhecimento de
navegação, portanto, a proposição era impossível. Oh! Homens de pouca fé. O
Eterno que aconteceu." Marcus Garvey, sobre o lançamento da
Black Star Line
Uma corporação fundada, dirigida pela comunidade negra em
beneficio da própria comunidade negra era algo extramente visionário e ousado
pelos padrões racistas da época. Para dar vida a Black Star Line, Garvey
utilizou a organização da UNIA estabelecendo algo simples para captar recursos
para e empresa. As ações da Black Star
Line inicialmente eram vendidas a 5 dólares, isso possibilitava que até negros
que viviam com um nível de renda pequeno pudessem contribuir para o empreendimento.
Entre 1919 e 1920, a UNIA arrecadou uma quantia de US$ 800.000 tendo capital
suficiente para adquiriu o primeiro navio, o Yarmouth, uma embarcação de 30
anos de idade que havia sido utilizada pela última vez na Primeira Guerra
Mundial como um cargueiro. Em seguida foram comprados o navio SS Shadyside que
foi utilizado para passeios de verão e excursões e o Kanawha um pequeno iate
destinado para o transporte inter-ilhas nas Índias Ocidentais e após ser
comprado foi rebatizada de SS Antonio Maceo.
A partir de então tudo indicava um caminho glorioso e o
alcance de uma era de prosperidade que iria modificar a vida de milhões de
pessoas. A Black Star Line uma iniciativa significativa em prol do
empoderamento econômico negro que poderia ser seguida por pela criação de
outros empreendimentos em diversas áreas, uma prova da capacidade e
determinação do Povo Negro em ser decisiva para salvar-se de um destino findado
em pobreza, miséria.
O que era para ser um êxito, aos poucos foi
transformando-se em uma perda devido a alguns fatores. Ainda não existia uma
base econômica fortemente organizada dentro da comunidade negra, isso fazia com
que a Black Star Line estivesse em um patamar maior da realidade em que estava
inserida. Nos Estados Unidos principal país onde a UNIA tinha representação e
onde a Black Star Line operava a comunidade africano-descendente ainda não
possuía maturidade econômica. A pobreza generalizada vinda desde a escravidão era
um fator de imenso desfavorecimento. Como não houve reparação pelos séculos de
trabalho escravo fez com que a comunidade negra não possuísse capital para investir
em seu próprio crescimento. As atividades econômicas em que negros estavam
envolvidos era de agricultura familiar em pequenas propriedades no sul e
comércio de pequeno porte e profissionais liberais na região norte. A comunidade negra não era proprietária de
grandes empreendimentos de manufaturas nem dispunha de massivo controle sobre
atividade agrícola e industrial de grande produção.
No Caribe a situação ainda era mais desfavorável. Os países
caribenhos tinham uma estrutura econômica ainda formalmente explorada pelas
antigas metrópoles europeias. As elites políticas racistas impossibilitavam a
mobilidade das massas negras. Tudo isso dificultava a realização dos negócios
previstos para serem feitos pela Black Star Line. Ainda faltava aos responsáveis pela administração da corporação
a experiência e habilidade em gestão empresarial, havia também casos de
corrupção e desvio de recursos e de sabotagem interna. A Black Star Line não
teve a lucratividade suficiente para manter-se, iniciando uma falência.
O tiro fatal contra a Black Star Line foi executado pelo
FBI (Federal Bureau of Investigation). Em 1922 agentes do FBI, sobre a chefia
de J. Edgar Hoover prendem Marcus Garvey e diretores da companhia sob a
alegação de fraude postal. Garvey e os demais integrantes detidos eram acusados
de utilizaram o serviço de correio para continuar a vender ações da empresa,
sabendo deliberadamente que a mesma estava em vias de concordata.
Garvey foi a júri ainda em 1922 como era jamaicano e não
possui cidadania norte-americana foi julgado e sentenciado a ser deportado para
a ilha caribenha e proibido de regressar aos Estados Unidos. Acima de tudo sua
expulsão atendida um trabalho de enfraquecimento da UNIA, algo que realmente
ocorreu. Após sua partida a UNIA em solo norte-americano entrou em fase de
declínio, disputas internas de poder, infiltração de espiões pelo FBI, foram
minando a influência da organização. A Black Star Line foi liquidada em 1922.
Kassan 15/08/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário