7 de Agosto, data da independência Costa-marfinense.


Percorrendo o mesmo caminho de libertação dos demais povos africanos, em 1960 o povo da Costa do Marfim declarava formalmente sua ruptura de condição de colônia francesa. Um importantíssimo passo dado em direção a autodeterminação.

Breve história de exploração sobre a Costa do Marfim

Inicialmente foram os portugueses no século XV que começaram a mover a exploração colonizadora sobre o território do que vem a ser hoje a Costa do Marfim. Os portugueses passaram a explorar o comércio de escravos e também de marfim, os portugueses se mantiveram por um período, mas não tendo suficiente capital, para iniciar um processo de colonização em larga escalada. Diante dessa brecha já no século XIX os franceses em seus esforços expansionistas penetraram no interior da Costa do Marfim. Como forma de acelerar a colonização os franceses adotaram a velha política de “dividir para dominar”, ora realizaram acordos com lideranças tribais, ora em outros casos estimularam disputas intertribais, tudo com o fundado o objetivo impedir a formação de uma resistência homogênea ao seu avanço colonial.

Sendo assim a Costa do Marfim passou a integrar a chamada “ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA’’ que por sua vez também era composta pelos seguintes países: Mauritânia, Senegal, Mali, Guiné é os territórios de Alto Volta que teve o nome alterado em 1984 para Burkisa Faso é pelo chamado Sudão Francês (que apesar do nome não pode ser confundido, com o Sudão localizado ao leste do continente é que foi colonizados pelos britânicos).

Os franceses incrementaram a exploração de marfim, algo que por sua vez acabou dar nome ao país. Como forma de flexibilizar as relações de dominação a administração colonial concedeu um status de autonomia a cidade de Abidjan que ganhou autorização para eleger um representante no próprio parlamento francês a cidade que se tornaria centro das atividades econômicas, do país pelo anos seguintes, algo que permanece até os dias atuais. Com o advento da Segunda Guerra a França foi ocupada pela Alemanha e seus respectivos domínios coloniais também passaram para controle germânico.


Inicio do processo de independência

Após o termino da 2° Guerra Mundial a França estava em situação de esgotamento. Sendo obrigados a dedicar seus esforços em sua própria reconstrução, os franceses não poderiam manter a controle sobre a administração colonial sobre os territórios subjugados. A partir desse momento assim como a exemplo de outros demais, países iniciasse as primeiras movimentações organizadas de reivindicação pela independência. O marco nesse processo foi à criação em 1946 círculos progressistas fundam o Partido Democrático da Costa do Marfim tendo a sua frente à chefatura de Félix Houphouët-Boigny um líder sindical de trabalhadores agrícolas.

As pressões pelo reconhecimento oficial da independência foram se intensificando. O governo francês encontrava-se em situação sinuosa, pois os argelinos já haviam iniciado seu movimento de luta armada por libertação. A guerra na Argélia mobilizou o efetivo do exército francês alocado nas demais colônias, o que fragilizou a manutenção do sistema colonialista. Para impedir que a Costa do Marfim rumasse para um similar processo de ruptura violenta igual dos argelinos, os franceses de antemão a evitar que o país fosse libertado por uma força revolucionária legitima, iniciaram uma estratégia de “independência concedida” que se constitui basicamente em estabelecer prévias negociações com uma elite “nativa” disposta a servir como títere, para se fazer uma transição pacífica e paulatina do poder. O escolhido para ser o elo dessa transição foi Félix Houphouët-Boigny que era reconhecido por seu caráter de negociador-moderado pelos tempos em que foi dirigente sindical, é por que já possuía credenciais confiáveis por ter sido eleito deputado representante para o parlamento francês pois gozava de cidadania. Sendo assim Félix Houphouët-Boigny e seus aliados foram os homens de confianças para ficarem a cargo de um governo “independente” costa-marfinense. Estando assegurado sobre a transferência do controle do poder para mãos “seguras” o então presidente francês Charles Gaulle reconhece oficialmente, a separação da Costa do Marfim.

Pós-independência, ditadura, crescimento econômico.

Félix Houphouët-Boigny ascendeu ao poder, assumindo a cadeira de presidente. Como já era de se esperar manteve relações amistosas com os antigos colonizadores, mantendo intactos os interesses do imperialismo franco sobre a nação marfinense. Sua condição de sabujice, para com o imperialismo francês recebeu o nome de “Françafrique”. Como forma de não haver contestação sobre seu mandato Houphouët-Boigny aprovou a criação de uma constituição que lhe atribuía um amplo poder, para consolidar sua hegemonia proibiu a existência de partidos políticos de oposição, fechando o regime apenas ao Partido Democrático. A perseguição a opositores, se torna dos pilares de sustentação do regime.

Mesmo com o sobrecarregamento da atmosfera de repressão política, Félix Houphouët-Boigny direciona a economia a uma situação de desenvolvimento, em comparação com de países vizinhos, conseguindo fazer da economia marfinense uma das que mais cresceram durante a década de 1970 no continente africano, porém esse crescimento não implicou na redução das desigualdades entre as classes sociais. O crescimento se deu através da exportação principalmente de produtos agrícolas com especialidade do café é principalmente do cacau. Mas no início da década de 1980, os preços desses dois produtos sofrem uma redução no mercado internacional, o que produz uma recessão econômica no país.

Regime neocolonial

Não foram apenas os franceses que aplicaram essa estratégia de transferência gradual de poder, mais todos as demais potências imperialistas européias se utilizaram desse artifício, como forma de minimizar o máximo possível quaisquer eventuais percas resultadas pelo fim “oficial” do mandato colonial de áreas territoriais. Constitui em um dos principais concernes do neocolonialismo, o apoio das antigas metrópoles a formação de uma nascente classe dominante politicamente maleável. E algo de vital necessidade para continuação da rapinagem sobre o território africano, a garantia da existência de governos fantoches que não imponham resistência efetiva. A “Françafrique” é uma das mais abertas demonstrações de como o neocolonialismo efetua sua presença África. Certa vez questionado sobre sua posição em relação a frança Félix respondeu: “não dizemos adeus á França, mas até logo.”

Félix Houphouët-Boigny o grande reacionário.

Pelo próprio caráter da luta libertadora as forças políticas antiimperialista africanas, tinham sido formadas sobre uma matriz ideológica de nacionalismo sobre uma perspectiva socialista. Em países como Gana sobre liderança de Kwame Nkrumah é Guiné comandada por Ahmed Sékou Touré foram estabelecidos regimes nacionalistas de tendência socialista. Apesar das dificuldades das circunstâncias foi construído uma concepção internacionalista, passando a identificar lutas que se desenvolviam em solo africano, como sendo todas frutos de uma luta comum que tinham os mesmo motivos, e que buscava o mesmo objetivo final. Isso pavimentou o nascimento de fortalecimento do movimento Pan-africano socialista. O fato é que Félix Houphouët-Boigny nutria um elevado posicionamento anti-socialista, não se associando portando a essa onda revolucionária que se avolumava sobre o continente, isso então lhe era uma ameaça constante, Félix era favorável a uma integração africana, mais não com contornos socialistas sua linha era similar ao um Pan-africanismo conservador similar a proposto pelo líder queniano Jomo Kenyatta. Era então uma crucial, medida de sobrevivência, para Houphouët-Boigny e seus aliados mantiverem a população da Costa do Marfim distantes dessas rebeliões antiimperialistas. Dessa forma Félix Houphouët-Boigny, se tornou um ávido apoiador de movimentos politicamente avesso ao ideário socialista. Como marco passou a fornecer assistência a UNITA em angola, apoiou os militares golpistas que derrubaram Kwame Nkrumah do poder em Gana em 1966.

Atualidade, guerra civil e semi-colonialidade.

Em 1993 Félix Houphouët-Boigny então centralizador do regime faleceu. Isso por sua vez abriu uma voraz disputa interna pelo poder, facções internas do Partido democrático iniciaram uma violenta disputa pelo botim. Somado a isso a instabilidade aumenta devido a crise econômica, a conseqüência cria um cenário de balcanização do país, pois o norte do país iniciaram um movimento separatista. Os desdobramentos acarretam a guerra civil (2000-2003) que divide o país. O imperialismo francês por sua vez, não se mantém distanciado temendo uma possibilidade de perca de influência da região, intervém na questão através da chamada Operação Unicórnio, com a ajuda das tropas de “paz” da ONU. Sobre mediação do imperialismo francês as frações que entraram em pugna, aceitam cessar fogo, partido para o estabelecimento de uma democracia eleitoral fajuta. Mas a situação em nada de altera para a maioria da população Costa-marfinense.

A economia continua sendo baseada na exportação de commodity. Sendo assim vulneráveis as especulações impostas pelo mercado internacional. O pequeno parque industrial não e capaz de produzir produtos para demanda interna. A economia não funciona de forma cíclica, mantendo se estagnada.

A condição de semi-colonialidade se mantém, é isso se torna visível principalmente em relação a última crise ocasionada pela disputa eleição presidencial. De um lado Laurent Gbagdo um fiel lacaio do neocolonialismo, que ocupava a presidência desde 2000 não aceita deixar o cargo para o também servo neocolonial Alassane Outtara, novamente a França intervém sobre a situação, dessa vez substituindo o velho sabujo desgastado Laurent Gbagdo, por uma figura mais refrescada no caso Alassane Outtara.

Kassan 07/08/2011

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