Africanos e Afro-argentinos, uma história de um genocídio!

Argentina e um das nações da América do Sul que mais se vangloria da herança genética, patrimonial, cultural europeia com isso a presença africana no país é muitas vezes negada, um fato omitido, mas existe um motivo criminoso para isso, os africanos presentes em seu território desde o século XV foram drasticamente massacrados em um trabalho de genocídio racial.


A independência argentina ocorreu em 9 de julho de 1816 e a abolição oficial da escravidão foi promulgada em 1853.


A vinda de africanos para a Argentina inicia-se durante o século XV, igualmente como ocorreu nas demais colônias, os africanos foram postos para trabalharem nas plantações, em minas e para prestarem serviços domésticos. No ano de 1778 foi realizado um censo em que apontou que a população negra chegava a 54% em algumas regiões especialmente no norte. Repetido o censo em 1887, esse índice caiu para percentual de 1,8%. 


E preciso observar as condições é meios para entender como ocorreu esse apagamento da presença negra da sociedade argentina. E possível especificar através de três maneiras como ocorreu esse extermínio:


1° Guerras – Foi recorrente o uso de africanos como soldados no território argentino. Essa prática foi utiliza desde o período em que ainda se encontrava na posição de colônia. Espanhóis usaram tropas composta por negros em guerra contra ingleses no final do século 18. Posteriormente durante a luta por independência, foram criadas companhias chamadas de “Batalhões de Libertos”, onde escravos eram recrutados com a promessa de receberem alforria após o serviço militar. A realidade foi bastante perversa para os soldados que compunham esses batalhões, comandado por oficiais brancos, sempre foram colocados na linha de frente dos combates mais pesados, a onde os números de baixas eram extensamente maiores. Considerado líder e libertador nacional San José Martin durante suas campanhas contra as tropas reais espanholas se serviu de soldados negros. Quase não havia sobreviventes entres os negros após batalhas contra tropas espanholas. Quando a Argentina ao lado do Brasil ingressou na guerra contra o Paraguai, também ocorreram o uso de africanos como soldados de infantaria, e novamente foram colocados nas posições mais perigosas do conflito. Isso diminuiu drasticamente o percentual de negros do sexo masculino.


2° Epidemia – Com a abolição da escravidão, africanos foram relegados à uma condição ainda mais miserável daquela vivenciada na escravatura, para fugir da pobreza nas zonas rurais, houve um fluxo migratória para os perímetros urbanos, especialmente para capital Buenos Ares, isso originou um acúmulo expressivo de população africana, logo os negros passaram a ser segregados e obrigados a viverem em guetos. Algo bastante semelhante ao que ocorreu no Brasil pós-abolição, onde os negros foram isolados em favelas. Esses bairros de negros imperava a pobreza. Em 1871 em Buenos Ares surgiu um surto de febre amarela, entre as comunidades negras, sem poder contar com assistência médica a disseminação ocorreu de forma rápida. Temendo que a febre amarela se espalhasse entre a população branca, o exército criou barreiras para impedir a circulação das pessoas infectadas pela doença. A mortalidade reduziu quase pela metade o povo que viviam nessas áreas.

3° Imigração europeia/embranquecimento – Após a independência da Espanha, entre os novos governantes, intelectuais e a classe dominante que continuou a ser a mesma da época colonial, que eram os grandes fazendeiros surgiu a necessidade em desenvolver um projeto de nação. Criar condições políticas e econômicas que tornassem a Argentina um país forte é prospero. Mesmo independente, os pensadores nacionais definiram que Argentina era uma extensão da civilização europeia e essa condição era inalienável. Era século 19 e na Europa se desenvolviam a todo vigor teorias (pseudo)científicas para buscavam legitimar a superioridade racial dos povos brancos em contraste aos demais povos da terra, era a ciência conhecida como eugenia. Governo argentino influenciado pelas ideias de eugenia tornou unanime uma prioridade, o futuro do país era se assegurar como uma nação branca! O fator de melhoria racial estava inseparável ao fator de melhoria da nação, assim defendia abertamente Domingo F. Sarmiento, político que foi presidente da república de 1868 á 1874. Foi durante o período do governo de Sarmiento que houve um estimulo oficial a vinda de imigrantes europeus, essa política estatal estava assinalada na própria Constituição promulgada em 1853:


"O Governo Federal deve promover a imigração europeia; e não deve restringir, limitar ou ônus de qualquer entrada de imposto no território argentino de estrangeiros que chegam com o objetivo de cultivar o solo, melhorando as indústrias, e introduzir e ensinar as ciências e as artes."


Como o número de negros do sexo masculinos se reduzia com velocidade, outra tática empregada para buscar o embranquecimento foi introduzir de forma compulsória a miscigenação das mulheres negras, dessa forma iria se extenuar a presença africana em poucas décadas, outra forma também usada foi fazer maquiagem, omitindo foi dos censos populacionais a existência de africanos.    


Apesar de estarem sofrendo um legítimo processo de genocídio racial, os africanos na Argentina ainda tiveram forças e capacidade em buscar por sua própria sobrevivência. Houve o surgimento de uma imprensa negra ativa em Buenos Aires 1850 e 1900. O primeiro jornal afro-argentino foi o 'La Raza Africana ", que produziu pelo menos quinze jornais semanais e quinzenais. Em seguida outra publicação apareçam outras publicações como o 'El Proletário' sucedido em 1864, pelo "La Igualdad". Todos esses jornais tiveram uma pequena duração.  Isso por que o índice de anafalbetismo atingida quase a totalidade da comunidade negra, e também não haviam profissionais capacitados para o oficio de tipografo, jornalista.


O racismo esta muito presente na cultura e comportamento argentino, quando deseja se ofender alguém e comum chama-la de ''macaquito'', ''negrito'', ''cabecita negra''. Presidente Juan Domingo Perón era simpatizante nazismo, tanto que alguns criminosos de guerra alemães se refugiram com apoio e conivência de autoridades para Argentina. Pensamentos racistas ainda circulam na política, fundado em 1990 o Partido Nuevo Triunfo, defendia uma plataforma nazi-fascista até ser ilegalizado em 2009.


Apesar dos históricos esforços racistas em derrogar da historiografia a existência da presença africana, ainda e possível constatar no seio da cultura argentina alguns traços de influência negra. Um dos maiores orgulhos nacionais e marca registrada da ''Argentinidade'' cultural o Tango tem raiz africana. O Tango e uma evolução de danças praticadas por escravos. Rosendo Mendizabal primeiro nome do grande artista do Tango, era filho de mãe negra. Contemporaneamente na música há o reggae-man Fidel Nadal. 

De acordo com dados fornecidos pelo último Censo Nacional, em 2010, os afrodescendentes na população somam atualmente 149.493 pessoas (0,4% do total). Desse total, cerca de 137,583 tinha nascido na própria Argentina (92%), e os restantes 11.960 (8%) eram de originários de outros países. Em 9 de Outubro de 2006, foi criado a organização Foro de Afrodescendientes y Africanos en la Argentina, com objetivo em combater a discriminação racial e assegurar a diversidade étnica, também existem outras organizações que compõem o movimento de resistência dos afro-argentinos como Instituto Nacional Contra la Discriminación (INADI), el Movimiento Afrocultural Bonga, la Federación de Organizaciones de Afrodescendientes.   



Referências Bibliográficas

The Afro-Argentines of Buenos Aires, 1800-1900 Hardcover – November 1, 1980
Afroargentines: The Argentimes, original on 23 November 2009

Indicado Afro-Latino Connection (Afro-Argentines) 

Kassan 05/07/2014

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