DISCURSO DE DESPEDIDA
OSSIE DAVIS NO FUNERAL DE MALCOLM X*
Aqui, nesta hora final, neste lugar
silencioso, o Harlem veio se despedir de uma de suas mais brilhantes
esperanças. Agora extinta e afastada de nós para sempre. Não está na memória
dos homens que esta comunidade sitiada e infeliz, mas apesar disso, orgulhosa
tenha encontrado um defensor mais corajoso e destemido do que este
afro-americano que aqui jaz. Sempre indomável. E volto a dizer como ele
gostaria de ouvir, afro-americano. Afro-americano Malcolm. Malcolm tinha
deixado de ser negro há muitos anos. Esta palavra era muito insignificante,
pequena e fraca para ele. Malcolm era muito maior do que isso. Malcolm
tornou-se um afro-americano. E queria desesperadamente que nós, todo o seu
povo, nos tornássemos também afro-americano.
Há os que consideram o seu dever, como amigos
do povo negro, nos dizer que o rebaixemos. Que fujamos até da presença da sua
memória... Que nos salvemos, excluindo-o da história dos nossos tempos
turbulentos. E nós sorriremos. Dirão que ele é um fanático e racista odioso,
que só pode trazer mal à causa pela qual lutamos. E nós só lhes diremos:
"Alguma vez falaram com o irmão Malcolm? Alguma vez lhe tocaram ou ele
alguma vez lhes sorriu? Alguma vez realmente o ouviram? Foi alguma vez
associado à violência ou a alterações de ordem pública? Se isso tivesse
acontecido, conheciam-no." E, conhecendo, saberiam por que devemos honrar
sua memória. Malcolm era a nossa qualidade de homens negros e vivos. Era o que
ele significava para o seu povo. E, ao honrá-lo, honraremos o que de melhor há
em nós. Por muito grande que fosse o nosso desacordo com ele, ou entre nós por
causa dele, ou do seu valor como homem, que a partida dele sirva para nos unir.
Ao entregarmos estes restos mortais a terra, a
mãe comum de todos, seguros de que o que enterramos não é um homem, mas uma
semente que depois do inverno do nosso descontentamento voltará a vir ao nosso
encontro. E só então o conheceremos como ele era e é: um príncipe. O nosso
príncipe negro e brilhante que não hesitou em morrer porque nos amava tanto.
KASSAN
21/02/2012
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