Jovem africano e espancado até a morte.

Uma notícia de brutalidade escabrosa. Um jovem estudante africano e espancado até a morte após uma discussão em uma pizzaria na cidade de Cuiabá. O nome da vitima Tony Bernardo da Silva nascido em Guiné-Bissau e estudante do curso de Economia pela Universidade Federal de Mato Grosso foi barbaramente espancado sem direito a defesa por três homens. Testemunhas oculares afirmam que o motivo para tal barbárie ocorreu após Tony ter esbarrado acidentalmente em uma mulher que estava em companhia dos três homens, isso foi o suficiente para que Tony recebesse uma abordagem violenta por parte de um dos homens que em seguida já começou a agredi-lo. Se não bastasse estar sendo agredido por um motivo torpe, os outros dois homens também passaram a agredir o jovem africano. Submetidos a sévicias Tony Bernardo da Silva não resistiu aos ferimentos e veio a óbito ainda na própria pizzaria.

Os agressores assassinos do jovem africano são dois policiais militares Igor Marcel Mendes Montenegro, de 24 anos, e Wesley Fagundes Pereira, também de 24 anos é o empresário Sérgio Marcelo da Costa, de 27 anos foram detidos em flagrante pelo crime. Os militares foram conduzidos para o primeiro batalhão da PM em Mato Grosso. Já o empresário foi levado para um presídio da região em custodia.

Nota de Opinião.

Esse lamentável caso foi uma violência racista. Não se pode negar esse fato sobre circunstância alguma, apesar de alguns hipócritas o tentarem fazer. Um jovem negro e africano morto pelo ódio de três homens e, diga-se de passagem, dois deles policiais instruídos e treinados pelo Estado com a missão de “proteger” a sociedade. Mas que tipo de proteção esses dois assassinos cometeram a noite desse crime? O empresário provavelmente deve fazer o estilo “Pitt boy” arrogante e convencido por seu sucesso econômico, contente por suas posses materiais é seu status de “mauricinho” com certeza contará com um suporte de defesa de um advogado bem remunerado e influente. Esse advogado por sua vez solicitará um Habeas Corpus para o seu cliente que será acatado pela justiça, pois em situações como essas sempre existe uma brecha na interpretação da legislação que permite a soltura do indivíduo. Já os policiais militares praticadores do assassinato receberam o “carinho” corporativista de seus amigos de farda. Certamente sua prisão em um batalhão será como resort. Se por ocorrência uma pessoa branca de classe média e eventualmente morto, já e o suficiente para se levantar uma comoção histérica, mídia cobrindo a situação, programas policialesco na TV dando destaque ao caso, a família do morto cria campanhas pela “paz” enfim e feito todo um estardalhaço, mas quando se trata de morte de um negro isso apenas e visto como algo corriqueiro que não e o necessário para convulsionar nada além de uma minúscula notinha de roda pé em algum jornal. Isso faz lembrar um trecho de “Negro Drama”: ver pobre, preso ou morto já é cultural [...]. A saudosa intelectual Neusa Santos Souza já advertia a respeito da violência de caráter racial:


"A violência racista subtrai do sujeito a possibilidade de explorar e extrair do pensamento todo o infinito potencial de criatividade, beleza e prazer que ele é capaz de produzir. O pensamento do sujeito negro é um pensamento que se auto-restringe. Que delimita fronteiras mesquinhas à sua área de expansão e abrangência, em virtude do bloqueio imposto pela dor de refletir sobre a própria identidade"

Qual será o papel do Movimento Negro diante desse crime hediondo? Certamente se verá algumas manifestações via redes sociais clamando pela punição dos homicidas tudo nos marcos legisladores impostos Estado. Dessa forma vem a caduca alimentação na esperança que esses carrascos sejam energicamente sentenciados por esse velho Estado carcomido que só garante a hegemonia dos ricos sobre os pobres isso nem nos sonhos acontecerá. Apesar de possuir o maior contingente diaspórico africano no hemisfério ocidental, o movimento Pan-africanista não consegui se ramificar na mentalidade do Povo Negro aqui Brasil.

O Pan-africanismo continua a ser algo distante senão esquecido dos discursos da maioria das organizações negras. Isso muito se deve a relação de consequência do controle ideológico promovido pelos racistas sejam de direita sejam de esquerda em fazer o direcionamento do movimento negro no Brasil aos seus interesses. Isso resultou que houve um encaminhamento do movimento negro a aceitação de legitimidade do “Poder Branco” e sua irrestrita estrutura política sustentada através de um sistema de exploração do homem pelo homem. Ao invés da procura pela libertação completa e radical, opta-se pela integração subordinada a um projeto de nação que apenas promove os interesses das classes dominantes. Muito se diz admirar sobre o movimento Black Power feito pelos negros nos Estados Unidos, porém no Brasil o Black Power foi adaptado como um conceito de marca cultural de dança e vestimenta e não foi complementado pelo conteúdo revolucionário Anti-establishment que o Black Power originalmente nasceu possuindo. Essa submissão do movimento negro e tamanha que para não sair de sua linha cidadã-cívica, sequer e capaz de brandir pela AUTODEFESA! Impera um silêncio sepulcral a respeito de se efetivar uma mobilização de autodefesa, pois alguns elementos do M.N acreditam fielmente na doutrina de cidadania pregada pela constituição de 1988 no qual todos somos iguais perante a “lei”. Esses mesmos ingênuos ativistas crêem que as decisões dos Tribunais são por assim dizer éditos de Deus, que a polícia existem para velar pela lei a todos indivíduos da sociedade sem distinção de cor ou classe. Nenhuma org. do movimento negro fez da autodefesa uma bandeira a ser hasteada. Isso pode ser por covardia política mesmo, pelo temor que se isso for realizado o Estado logo ilegalizaria essa ação. Negros armados e conscientes fazendo frente e exigindo o cumprimento de direitos seria algo incompatível com a “democracia” brasileira.


Se defender a integridade física e psicológica da comunidade negra vier a infringir a legalidade estabelecida pelo regime de racismo institucional brasileiro assim que seja que haja militantes cientes e dispostos a isso. O que não se pode permitir mais é sucessíveis casos a onde negros covardemente são mortos e seus algozes em seguida desfrutem de sombra e água fresca como se nada tivessem feito.

Então deve ser valer a frase: NINGUÉM MATA UM DOS NOSSOS, E PERMANECE DE PÉ...



Kassan 25/09/2011

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