Em homenagem aos negros que lutaram contra o regime militar
Quando se pensa na imagem dos indivíduos que resistiam a ditadura militar no Brasil, logo vem a mente a figura de estudantes universitários em sua maioria brancos oriundos de famílias de classe média, que apesar das condições sociais, um pouco favoráveis preferiam, se envergar por uma caminho radical, fazendo das faculdades, universidades, centros de luta contra o autoritarismo militar. Todos esses jovens politizados pela realidade da época eram ávidos em participar de uma luta histórica , contra a opressão militar, exploração capitalista e a dominação imperialista. Não apenas no Brasil, mais assim como em todas as partes do mundo, a juventude da década de 1960, era combativa, ousada é sonhadora. Porém não e correto e justo apenas apregoar aos universitários como os únicos responsáveis por estruturar a resistência contra a ditadura militar brasileira. A oposição ao gerenciamento militar-civil foi compostas por diversas forças, que empregaram, diferentes métodos de combate ao regime. O que e pouco divulgado, e a presença de negros militantes, no processo de luta pela destruição do governo militar.
Mais esta realidade esta a mudar por iniciativa do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da pessoa humana) de São Paulo esta sendo feito um trabalho para resgatar os nomes dos militantes negros que sucumbiram diante a repressão. Este reconhecimento e mais do que merecido, a todos esses homens e mulheres que sacrificaram a vida, em defesa da liberdade. Alguns nomes desses heróis :
Carlos Marighella : Baiano nascido em 5 de dezembro de 1911 em salvador, filho de uma negra, descendentes de Haussas com um imigrante italiano com pensamentos anarquistas. Mariguella iniciou sua trajetória política em 1932 ingressando no Partido Comunista Brasileiro. Com sua capacidade, em pouco tempo de torna, um dos mais destacados lideres do partido. Preso pela polícia política do Estado Novo, foi barbaramente torturado. E depois foi condenado, e passou 6 anos na prisão. Com o fim da ditadura getulista em 1945, e anistiado, em seguida e eleito como deputado constituinte, pelo Estado da Bahia sendo marcado por uma das mais radicais vozes em defesa dos interesses populares. Mais em 1947 o PCB e colocado na ilegalidade e Carlos Marighella, e obrigado a viver na clandestinidade, para fugir dos golpes da repressão.
(Carlos Marighella)
Com o advento do golpe militar em 1964, rompe com a direção do Partido Comunista, por discordar da estratégia reformista de combate a ditadura. E junto com outros dissidentes funda a ALN (Ação Libertadora Nacional ) em seguida se lança na luta armada. Com eximia coragem, lidera seus companheiros, em ações de expropriação. Seu nome passou a figurar entre os principais inimigos do regime militar, que logo providenciou uma feroz caçada, contra sua organização. Na data de 4 de novembro de 1969 Carlos Marighella e surpreendido por uma emboscada realizada por agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Sua morte teve um grande impacto na resistência armada a ditadura militar, em decorrência que, Marighella possuía uma enorme habilidade em comandar.
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Luiz José da Cunha : Conhecido também pela alcunha de Comandante Criolo. Nasceu em Recife, em 2 de setembro de 1943, filho de José Juviniano da Cunha e Maria Madalena da Cunha. Cedo ainda, secundarista do Colégio Estadual Beberibe, em Recife, começou sua militância no Partido Comunista Brasileiro. Por sua dedicação, seriedade e inteligência, consegui até ir a Moscou fazer um curso de preparação política. Gostava de ler e estudar adquirindo assim uma ampla cultura geral sobre história e geografia dos povos. Após o inicio do regime militar Foi um dos primeiros a aderir à proposta de Carlos Marighella para organizar a ALN e fez treinamento militar em Cuba. Desempenhou importante papel na formação de vários jovens, pois além das suas qualificações como militante experimentado, era ponderado, sabia ouvir e entender as pessoas, contribuindo muito para suportar as durezas da clandestinidade e da guerrilha.
Da mesma forma que era amável, era firme e decidido em suas ações, levando até as últimas conseqüências a luta por seus ideais. Dentro da ALN, mesmo nos momentos mais difíceis quando companheiros foram mortos e se fechava o cerco da repressão, Crioulo nunca se desesperou. Até o último momento tentou fortalecer os laços com outras organizações guerrilheiras, certo de que a tarefa era grandiosa e exigia unidade dos que tinham os mesmos ideais. A iminência da morte não lhe atemorizava nem lhe fazia recuar.
Foi preso numa emboscada armada pela equipe do Grupo Especial do DOI-CODI de São Paulo, chefiada pelo agente conhecido como "Capitão Nei" e tenente da PM "Lott", na Av. Santo Amaro, nas imediações do n°. 2000. O seu laudo necroscópico foi assinado pelos médicos legistas Harry Shibata e Orlando Brandão. As fotos de seu corpo, inclusive de sua cabeça e do seu rosto, evidenciam as torturas sofridas que o levaram à morte. Na certidão de óbito, sua cor foi alterada: colocou-se branca, mais uma vez impedindo que fosse feita sua identificação. Foi enterrado como indigente, apenas em 1991 sua ossada foi exumada e após um exame de DNA, foi comprovada sua real identidade.
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Dinalva Conceição Oliveira Teixeira ou ''Dina'' (Castro Alves, 16 de maio de 1945 - Araguaia, ? de julho de 1974) foi uma guerrilheira brasileira, integrante da Guerrilha do Araguaia, movimento guerrilheiro criado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) durante a ditadura militar brasileira.
Formada em Geologia pela Universidade Federal da Bahia em 1968, ''Dina'' foi a mais famosa e temida de todas as guerrilheiras do Araguaia. Militante do movimento estudantil baiano em 1967 e 1968, tendo sido presa, casou com seu colega de turma Antônio Carlos Monteiro Teixeira - que na guerrilha teria o codinome ''Antônio da Dina'' - e mudaram-se para o Rio de Janeiro, onde trabalharam no Ministério das Minas e Energia,e como militantes comunistas faziam trabalho social nas favelas cariocas.
Dina e Antônio chegaram ao Araguaia em maio de 1970, como integrantes do grupo montado pelo PCdoB para criar uma guerrilha de caráter revolucionário na região e iniciar a luta armada rural contra o governo militar. Como professora e parteira, Dina ganhou fama e admiração entre os humildes habitantes da região, nos anos de preparação da guerrilha, entre 1970 e 1972. Mas sua fama maior veio da sua capacidade militar. Exímia atiradora, com grande preparo físico, espírito de liderança e personalidade decidida, foi a única mulher a ser vice-comandante de um destacamento da guerrilha. Seu nome era temido entre os recrutas convocados pelo exército para participar das operações de combate no Araguaia. Enfrentou tropas militares por várias vezes, ferindo soldados e oficiais, sempre conseguindo escapar dos cercos do inimigo. Participou também da execução de um companheiro, 'Mundico', acusado de trair os ideais revolucionários e de adultério durante a guerrilha.
Sobrevivente do ataque à comissão militar da guerrilha no dia de Natal de 1973, que matou cinco guerrilheiros incluindo o comandante geral Maurício Grabois, Dina embrenhou-se na selva com outros companheiros e desapareceu até junho de 1974, quando foi presa, fraca, doente e desnutrida, sem comer açúcar ou sal há meses, vagando na mata perto da localidade de ''Pau Preto'', com a companheira de guerrilha 'Tuca', a enfermeira parasitóloga paulista Luiza Augusta Garlippe.
Levada à base em Xambioá, permaneceu presa e foi torturada por duas semanas, sem prestar qualquer informação aos militares do serviço de inteligência do exército, que sempre quiseram pegá-la viva. Foi levada então de helicóptero para uma mata próxima e executada a tiros, a seu pedido de frente, por agentes do exército, em julho de 1974. Dada como desaparecida política, seu corpo nunca foi encontrado.
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Osvaldo da Costa (Osvaldão) : Negro, forte, com quase dois metros de altura, era uma figura inconfundível. No entanto, seu físico contrastava com sua meiguice e afetividade. Membro do Partido Comunista, foi obrigado a viver na clandestinidade desde o golpe de 1964. Antes porém, fora estudante da Escola Técnica Nacional do Rio de Janeiro; campeão carioca de box pelo Botafogo, oficial da reserva do CPOR e cursou até o 3º ano de Engenharia de Minas, em Praga, na Checoslováquia, onde viveu alguns anos. Era natural de Minas Gerais.
(Osvaldão)
Foi dos primeiros a chegar à região do Araguaia-Tocantins, por volta de 1966/67. Entrou na mata como garimpeiro e mariscador. Era o maior conhecedor de toda a área, tanto da guerrilha como das áreas circunvizinhas. No ano de 1969, fixou sua residência às margens do rio Gameleira, onde mais tarde se juntaram outros companheiros. Era muito querido e respeitado tanto pela população como pelos companheiros.Conta-se a seu respeito inúmeras histórias como a de que, estando de passagem em casa de uma família camponesa, encontrou a mulher desesperada por que não tinha dinheiro para comprar comida para os filhos. Era uma casa pobre. Não tinham nada. Osvaldo perguntou-lhe se queria vender-lhe o cachorro. A mulher, sem outra alternativa, disse que sim. Tanto ela como Osvaldo sabiam o que significava a perda do cão: mais fome, pois na região, sem cachorro e arma é difícil conseguir caça. Osvaldão pagou-lhe o preço do cão e, a seguir, disse-lhe: guarde-o para mim que eu não poderei levá-lo agora para casa. Sobre Osvaldão surgiram inúmeras lendas: sobre sua bondade, sua força, sua coragem e também sobre sua pontaria. Foi Comandante do Destacamento B, onde participou exitosamente de vários combates.
Foi, ao lado de Dina, o mais conhecido combatente entre a população do Araguaia. Estava entre os combatentes que foram atacados por grande contingente das Forças Armadas em 25/12/73. Está desaparecido desde meados de 1974."Citado em várias reportangens como comandante do Destacamento do Gameleira. "Um grileiro foi ameaçar tirar a terra de Osvaldão e acordou, na sua casa, com o cano de um 38 cutucando seu rosto e a ordem, dada por "um negrão de quase dois metros de altura e com dois braços que pareciam duas pernas", segundo descrição dos que o conheceram: em vez de você ficar com minha terra, você dá a sua a uma família muito necessitada. A família já está aí, esperando. Vou lhe levar até a rodoviária e você não aparece mais aqui, senão morre. E se achar ruim morre agora que fica mais fácil ... O grileiro saiu com a surpresa de encontrar os novos proprietários e mais de 30 pessoas das redondezas que aplaudiam a atitude de seu Osvaldão, homem justo."
Helenira Resende de Souza Nazareth : Foi uma militante do Partido Comunista do Brasil(PC do B). Nasceu em Cerqueira Cesar, SP, no dia 19 de janeiro de 1944, filha de Adalberto de Assis Nazareth e Euthália Resende de Souza Nazareth. Desaparecida, desde 1972, na Guerrilha do Araguaia, quando contava 28 anos. Integrante do Destacamento A das Forças Guerrilheiras. Este Destacamento passou a chamar-se Helenira Resende após sua morte.Depoimento de Helenalda Rezende, sua irmã:“Em que leito de rio correrá seu sangue?Lenira , para uns ... Preta para os colegas da USP ... Nira entre os familiares, Fátima para os companheiros do Araguaia... Helenira foi, acima de tudo, uma cidadã brasileira consciente de seus atos, que empunhou a bandeira da justiça e da liberdade, lutando obstinadamente até a morte.
Era uma estudante nota cem! (depoimento de uma professora), ingressou na Faculdade de Filosofia da rua Maria Antônia, no Curso de Letras onde, através dos movimentos estudantis, passou a viver intensamente a vida política do país. Com seus alunos de Português de duas escolas estaduais, uma no Jardim Japão e outra em Guarulhos, preparava peças de teatro consideradas subversivas na época.Helenira foi presa a primeira vez quando conclamava os colegas a participarem de uma passeata em maio de 1968, em São Paulo. E, no mesmo ano, mais uma vez foi presa, no 30° Congresso da UNE, em lbiúna com outros 800 estudantes.
Nesta ocasião, quando o ônibus que os transportava passava pela Avenida Tiradentes, conseguiu entregar a um transeunte um bilhete que foi levado à sua residência à Rua Robertson, no Cambuci, avisando à familia de sua prisão.
Procurada pelos policiais como Nazareth e apontada como sendo uma das líderes do movimento, foi transferida do Presídio Tiradentes para o DOPS onde caiu nas garras do famigerado Fleury, que a jurou de morte. Uma outra mensagem foi entregue então, à sua familia avisando sua localização e a dos companheiros José Dirceu, Antônio Ribas, Luís Travassos e Vladimir Palmeira. A polícia continuava negando sua prisão, enquanto um policial não identificado atuava como mensageiro entre o DOPS e o Cambuci. Após alguns dias de ‘vai e vem’ ao DOPS, o contato direto com Helenira foi conseguido por intermédio da advogada Maria Aparecida Pacheco. Alguns dias depois a "estudante", como era chamada pelo carcereiro, foi transferida para o Presídio de Mulheres do Carandiru, onde ficou detida por dois meses. Seu Habeas Corpus foi conseguido um dia antes da edição do AI-5. A partir de então passou a viver na clandestinidade, tendo residido em vários pontos da cidade e do país, antes de se dirigir ao Araguaia.”
Morta a golpes de baioneta, em 29 de setembro de 1972, depois de metralhada nas pernas e torturada. Enterrada na localidade de Oito Barracas. No Relatório do Ministério da Marinha encontra-se a cínica “informação”de que se encontra foragida. No arquivo do DOPS/PR, o nome de Helenira consta em uma gaveta com a identificação: “falecidos”. Declarações da ex-presa política Elza de Lima Monnerat, em Auditoria Militar, à época, afirmou que : “Helenira, ao ser atacada por dois soldados, matou um deles e feriu outro. Metralharam-na nas pernas e torturaram-na barbaramente até a morte...” De 1969 a 1972 (mesmo após sua morte na Guerrilha do Araguaia) sua família foi chamada a prestar declarações ao DOPS/SP e ao II Exército. Em 06 de junho de 1979, um jornal publicou sobre Helenira que: “O lugar onde estava virou uma poça de sangue, conforme falaram soldados do PIC (Pelotão de Investigações Criminais)... e confirmaram que a coragem da moça irritou a tropa. Helenira foi morta a baionetadas!” No jornal “A Voz da Terra”, de 08 de fevereiro de 1979, há uma extensa matéria que, sob o título “A Comovente História de Helenira”, conta a história dessa combatente pela liberdade no Brasil. Até hoje, sua família, oficialmente, de nada foi informada.
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