Kwame Nkrumah



Pensador, Político e Estadista africano, Francis Nwia Kofie Kwame Nkrumah, ou simplesmente Kwame Nkrumah nasceu aos 21 de Setembro de 1909 em Nkroful, atual Gana. Aos 6 de Março de 1957, sob o grito Independência! Kwame Nkrumah fez da então colônia britânica da Costa do Ouro, o primeiro país africano negro a conquistar a independência  Kwame NKrumah foi um dos maiores ideólogos do movimento Pan-africanista, sendo considerado por muitos como um dos maiores líderes Africanos da história moderna. O currículo acadêmico e político de Nkrumah é extremamente digno de referência: em 1935, terminada a sua formação inicial em uma escola missionária e num colégio em Acra, e tendo trabalhado durante alguns anos como professor, Nkrumah ruma para os Estados Unidos da América, ajudado por um parente. Nos EUA passa 10 anos estudando Ciências Econômicas  Sociologia, Pedagogia, Teologia e Filosofia. A partir de 1945 Kwame se torna, estudante da Escola Superior de Economia e Ciências Políticas de Londres, onde se doutora em Filosofia e Direito. Durante sua estadia na capital Britânica, Nkrumah compromete-se fortemente com a Política. Com o seu amigo o Norte-americano W.E.B. DuBois, filósofo, jornalista e acérrimo lutador pelos direitos civis dos negros, organiza em 1945 em Manchester o 5° Congresso Panafricano. De regresso ao Gana, em 1947, integra e torna-se Secretário Geral da Convenção Unida da Costa do Ouro (United Gold Cost Convention - UGCC), Partido recentemente fundado e na altura ainda dirigido por Joseph Boakye Danquah. Em 1948 é preso pela primeira vez pelas autoridades coloniais britânicas. Posto em liberdade funda no ano seguinte o seu próprio Partido, mais radical, o Partido Convenção do Povo (Convention Peoples Party - CPP). Em 1952 , na sequência da esmagadora vitória nas eleições do Parlamento colonial da Costa do Ouro, é eleito Primeiro-ministro, e é nessa condição que em 1957 proclama a independência da Colônia  rebatizando-a ele próprio com o nome de Gana. Só com a mudança da Constituição em 1960 Gana se tornará República, com Kwame Nkrumah, como seu primeiro Presidente, adotando uma orientação socialista, introduzindo mecanismo de funcionamento de uma economia planejada. 


Sobre o pensamento de Kwame Nkrumah

Segundo : se no seu livro Africa must unite (A África tem de se unir) Nkrumah defende e quase exige a formação urgente de um Governo africano, mais tarde porém Nkrumah vai sustentar não poder haver em África unidade entre os governos anti-imperialistas e os regimes marionetes ao serviço do Ocidente imperialista.

Segundo : se no seu livro Africa must unite (A África tem de se unir) Nkrumah defende e quase exige a formação urgente de um Governo africano, mais tarde porém Nkrumah vai sustentar não poder haver em África unidade entre os governos anti-imperialistas e os regimes marionetes ao serviço do Ocidente imperialista.
Segundo : se no seu livro Africa must unite (A África tem de se unir) Nkrumah defende e quase exige a formação urgente de um Governo africano, mais tarde porém Nkrumah vai sustentar não poder haver em África unidade entre os governos anti-imperialistas e os regimes marionetes ao serviço do Ocidente imperialista.



O fim de Nkrumah acontece em Fevereiro de 1966, quando durante uma viagem à Republica Popular da China, é deposto por um golpe de estado, liderado pelo pró-ocidental Conselho Nacional de Libertação - (National Liberation Council NLC). O antigo Herói nacional é então forçado a viver exilado na Guiné, acolhido por seu colega e aliado Pan-africanista Sekou Touré, Kwame Nkrumah morreria em Bucareste, Roménia, aos 27 de Abril de 1972.

Nkrumah foi impulsionador de uma política e filosofia Pan-africanista extremamente radical, cujo cavalo de batalha era a libertação e a unidade de África. A sua filosofia jogará em 1963 um papel fundamental na criação da OUA.


O pensamento de Kwame Nkrumah quanto à África, é caracterizado por uma ruptura fundamental, que pode ser resumida em dois pontos: Primeiro enquanto nos primeiros anos Nkrumah exalta o idealismo da África pré-colonial e se declara seguidor de Gandhi, nos anos a seguir Nkrumah defende a necessidade de uma ruptura violenta contra o neo-colonialismo, contra o imperialismo e os seus aliados africanos. No pensamento de Nkrumah, a África deixa então de ser um mundo especial e afirma que uma revolução africana tem de ser entendida no conjunto de uma revolução mundial que estava em curso. As sociedades africanas afirmava ele estavam sujeitas às mesmas leis que as outras sociedades do mundo.


Legado

As idéias revolucionárias de Kwame Nkrumah, representaram as expectativas de uma Africa livre forte e unida. Como intelectual de espetacular capacidade Kwame Nkrumah conseguiu estruturar e dar forma, a um movimento que se espalhou por todo continente Africano criando objetivos em comum para estabelecimento da unidade e independência para os povos da Africa.

Juntamente com outros grandes líderes como Patrice Lumumba, Sékou Touré, Kwame Nkrumah representou o melhor de uma geração africana que soube, emergir de maneira combativa e orgulhosa a opressão e o julgo imperialista.







O Programa de Contra Inteligência Americano e o Partido dos Panteras Negras . Uma excepcional continuação do documentário ''Todo Poder para Povo - A historia do Partido Pantera Negra. Nessa parte do documentário e exibido depoimentos de estudiosos e antigos membros do partido, que denunciam de maneira contundente, toda a retalhação repressiva desenvolvida, pelo governo dos EUA com o objetivo de deter a revolução negra que emergia nas décadas de 60 e 70. -Por meio do chamado COINTELPRO o FBI associado com a CIA e com a polícia, articulou uma séria de ações ilegais para neutralizar e destruir o movimento de libertação negra representado pelos Panteras.


As atividades do COINTELPRO incluiam: assassinatos, prisões arbitrárias, julgamentos sem direito a defesa, torturas e introdução em larga escala de drogas nas comunidades negras. Apesar da heróica resistência, os Panteras Negras não foram capazes de suportarem, aos pesados golpes contra-revolucionários aplicados pelo Estado Norte-americano. -Para se conheçer mais sobre a história dos Panteras Negras, que expressaram o melhor de uma geração de jovem militantes Norte-americanos, que lutaram pela revolução e por uma sociedade livre do racismo e da opressão. Portanto vale a pena assistir essa sessão de vídeos disponibilizados e legendados no Youtube.

Assistam: -

http://www.youtube.com/watch?v=0-51LBGRzv8

http://www.youtube.com/watch?v=2kAeOZ_HJrA

http://www.youtube.com/watch?v=8i1m7Sipr1w

http://www.youtube.com/watch?v=wPRkmvyDqkE

http://www.youtube.com/watch?v=6FctOmFXQHg&aia=true

http://www.youtube.com/watch?v=YedYAY7rFQk

http://www.youtube.com/watch?v=NdZHsADOs8M


Filosofia Africana: Ontem e Hoje


Joseph I. Omoregbe

Tradução Renato Nogueira Jr.

Filosofia é essencialmente uma atividade reflexiva. Filosofar é refletir sobre a experiência humana para responder algumas questões fundamentais a seu respeito. Quando o ser humano reflete buscando a si mesmo ou o mundo que o cerca, ele está tomado pelo “espanto” e essas questões fundamentais surgem na sua mente. Quando o ser humano reflete sobre estas questões fundamentais na busca de respostas, ele está filosofando. Platão e Aristóteles relatam que o “espanto” está na base do nascimento da filosofia. “É através do espanto que os homens começam a filosofar” (Aristóteles). Platão tem o mesmo ponto de vista na República quando diz que não há outro ponto de partida para filosofia que este, o “espanto”. Portanto, o primeiro passo para a atividade filosófica é o “espanto” que acompanha a experiência humana consigo e com o mundo ao seu redor. Este espanto abre caminho para algumas questões fundamentais, eis o segundo passo. O terceiro passo é tomado quando o ser humano começa a refletir sobre estas questões fundamentais na busca de respostas. Neste estágio, o homem em questão está filosofando, se ele registrar suas reflexões temos por escrito uma trabalho filosófico.


A experiência humana é a fonte do conhecimento reflexivo entendido como filosofia. Esta experiência poderia ser do homem com ele mesmo (subjetividade) ou dele com o mundo (objetividade). Daí, filosofia poder partir de aspectos da subjetividade ou de aspectos da objetividade. Os primeiros filósofos gregos partiram da objetividade. Afinal, eles foram impactados pelo “espanto” enquanto observavam o mundo ao seu redor. Eles ficaram espantados e interessados por duas coisas. Primeiro, eles estavam muito impressionados com a diversidade e a unidade presentes no universo. Eles observaram que as coisas ao seu redor eram incrivelmente diversas; mas, ao mesmo tempo eles também observaram que existia uma unidade básica no interior de toda essa diversidade. Segundo, eles estavam maravilhados pelo fato das coisas se transformarem no mundo. Eles anunciaram que as coisas estão constantemente se transformando; mas, ao mesmo tempo eles observaram que existia uma continuidade básica no meio dessas mudanças. Daí, eles observaram que o universo combinava unidade com diversidade e continuidade com mudanças. Este foi o fenômeno estabelecido pelos primeiros filósofos gregos como objeto de investigação. Portanto, as maravilhas do universo físico levaram os primeiros filósofos gregos à filosofar. De fato, fenômenos como a imensidão do espaço, a imensidão do universo, a incrível variabilidade das coisas, a ideia de tempo, a ininterrupta transformação do mundo ao nosso redor, a continuidade presente nessas mudanças, a unidade básica no meio da diversidade, as estações do ano, os corpos celestes e seus movimentos circulares, o céu estrelado, o sol, a lua, etc. teem motivado profundas reflexões filosóficas sobre o mundo. Na sua Crítica da razão prática, Kant registrou que duas coisas, o colocaram em contato com o espanto, a saber: o céu estrelado e a lei moral.

Mas, como já foi dito, o filosofar também pode começar a partir da condição humana. Daí, o homem consigo mesmo ser alvo de uma investigação filosófica tão rica quanto a que se debruça sobre o universo físico. A brevidade da vida, suas vicissitudes, a superioridade humana sobre o resto da natureza sob seu controle e domínio, seu poder e sua fraqueza, sua alegria, seu pesar, sucessos e fracassos, sua finitude, sua experiência de sofrimento, desventura, doença, morte e decadência, grandeza e miséria do ser humano etc. teem conduzido para reflexão filosófica sobre toda a realidade. A filosofia de Buda, por exemplo, surgiu de uma reflexão sobre o sofrimento humano. Reflexão sobre este fenômeno da existência que levanta algumas questões básicas sobre a natureza humana. Que tipo de ente é o ser humano tão poderoso e tão fraco, tão grandioso e tão miserável? Hoje, ele pode ser forte e poderoso; amanhã, ele deixa de ser forte e poderoso e isto é o seu fim.

O ser humano tem um tempo natural de existência, seu instinto mais forte é o instinto de auto-preservação – seu desejo de permanecer vivo. Apesar de expectativa de vida ser breve e frequentemente se esgotar antes do “tempo” e contra os seus desejos mais profundos, todos os seus esforços para resistir ao fim imponderável são inúteis. O ser humano tem um forte desejo de saber, ele é curioso por natureza; apesar do seu conhecimento ser tão limitado que ele sequer conheça a si mesmo. Ele não sabe porque existe e não possui respostas sobre questões básicas a respeito de si mesmo. Ele não escolheu vir para este mundo, simplesmente se descobriu no mundo sem saber o porquê, e cedo ou tarde será forçado a deixar o mundo.

Como tudo que existe no universo o ser humano simplesmente aparece e finalmente desaparece. “Que quimera é o homem!” exclama Pascal, um caos, um sujeito em contradição. Portanto, o homem é um problema para si mesmo, um mistério. Qual é a sua origem? Qual é o seu destino final? O que acontece quando ele é forçado a deixar a existência? Ele é parte integrante da natureza ou ele transcende a natureza? Existe entre ele e os outros animais diferença de grau ou de natureza? Para que ele vive? Qual é o sentido último da vida? Existe uma força sobre-humana que controla tudo? Se esta força existe, ela pode ser conhecida?

Estas e outras interrogações semelhantes são questões fundamentais sobre a condição humana. Os seres humanos teem se direcionado para reflexões sobre toda a realidade. Refletir sobre uma dessas questões, buscar explicações e respostas é filosofar. Não existe uma parte do mundo onde as pessoas nunca tenham refletido acerca de questões básicas da condição humana ou sobre o universo físico. Em outras palavras, não existe nenhum lugar no mundo onde os seres humanos não tenham filosofado. A inclinação para refletir sobre questões filosóficas fundamentais faz parte da natureza humana; esta tendência está na raiz do instinto natural de curiosidade do homem – o instinto de saber.

Natureza humana e experiência humana são basicamente a mesma coisa em todo o mundo, a tendência para filosofar é constitutiva da natureza humana. Daí, o filósofo alemão Karl Jaspers ter dito que “o homem não pode evitar filosofar” (Jaspers, 1974, p.1). Em certa medida, num sentido genérico, todo ser humano é filósofo, na medida de que uma ou outra vez na vida, reflete sobre questões filosóficas fundamentais acerca da existência ou do universo físico. Por exemplo, nos funerais ou na hora da morte física ou do sofrimento, doença, dor, miséria, etc., os homens ficam aptos a refletir sobre o sentido da vida. Contudo, no sentido estrito do termo, um filósofo é alguém que dedica uma parte significativa do seu tempo para regularmente refletir sobre essas questões. Essas pessoas existem no mundo todo e podem ser encontradas entre todos os povos, em todas as civilizações e em toda parte do planeta. Não é apenas no mundo ocidental que as pessoas refletem sobre questões fundamentais acerca da existência e do universo. Em qualquer civilização existiam aqueles que estavam tomados pelo “espanto” e maravilhados com as complexidades do ser humano e do universo físico. Pessoas que regularmente dedicavam muito tempo refletindo sobre questões fundamentais que surgiam desse encantamento com a realidade ou de sua complexidade, eram os filósofos dessas civilizações. Não é necessário empregar os princípios aristotélicos ou russerlianos na atividade reflexiva para que ela possa ser considerada filosófica. Ela não precisa seguir os mesmos parâmetros dos pensadores ocidentais. A habilidade para refletir de modo lógico e coerente faz parte da racionalidade humana. A capacidade de pensar logicamente e de raciocinar são a mesma coisa. Com efeito, é falso afirmar que esse ou aquele povo não pode pensar logicamente ou empregar a razão de modo coerente porque não usa uma argumentação tipicamente ocidental baseada na lógica aristotélica ou russerliana. Algumas pessoas, educadas dentro da tradição filosófica ocidental, afirmam que não existe filosofia e nem atividade filosófica fora da filosofia e do método ocidental de filosofar, tal como eles denominam “tecnicamente”.



No seu livro Introdução à filosofia ocidental, o professor Antony Flew diz que filosofia consiste em argumentos “sempre, do início ao fim” e desde que não há argumentos no pensamento oriental (ou conforme ele pensa) por consequência não existe filosofia no pensamento oriental. De modo similar, referem-se à tradição filosófica africana. Professor Wiredu escreveu: “sem argumento e clarificação, não existe filosofia no sentido estrito do termo” (Wiredu, 1980, p.47). Conforme Wiredu, a tradição filosófica africana só pode ser considerada filosofia no sentido amplo do termo. O professor Wiredu é bem versado em filosofia ocidental, especificamente na tradição analítica anglo-saxã onde a filosofia é delimitada pela lógica, análise sistemática e clarificação dos termos. Esta é a impressão deixada por seus textos


Ele é certamente um dos filósofos africanos contemporâneos que contribui significativamente com a filosofia africana. Contudo, quando ele diz que sem argumentação e clarificação não há filosofia, tecnicamente falando, ele identifica filosofia com uma argumentação tipicamente ocidental. Em outras palavras, ele quer dizer que se a atividade reflexiva não estiver baseada na argumentação e clarificação típicas do pensamento ocidental (recomendado pela tradição analítica anglo-saxã), ela não é filosofia. Em primeiro lugar, a essência da filosofia não é o argumento; mas, a reflexão, o que faz com que não tomemos a argumentação tipicamente ocidental como padrão para a filosofia. Em qualquer lugar existe reflexão acerca das questões fundamentais sobre o ser humano e o mundo (seja qual for a forma de reflexão empreendida), isto é, filosofia.



Nós devemos distinguir entre filosofia e os modos de transmiti-la e preservá-la. Reflexões filosóficas podem ser preservadas e transmitidas de diversas maneiras. De longe, a melhor maneira de preservar e transmitir a filosofia é através da escrita, na forma de livros. As vantagens deste modo de preservação são enormes não somente porque as reflexões são preservadas e transmitidas sem alterações; mas, porque osfilósofos teem seus trabalhos preservados, transmitidos e eles são reconhecidos como autores e pensadores individuais. Deste modo é possível saber quais são as ideias originais e pontos de vista de cada autor, seja através de seus textos ou de textos sobre eles (tal como no caso de homens como Buda, Sócrates e Jesus Cristo que não deixaram nenhum texto escrito). O mundo ocidental tem sido beneficiado desde que a escrita surgiu na antiguidade e tornou possível preservar substancialmente as reflexões desses filósofos. Com efeito, podemos falar a respeito de Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Hegel etc. Mas, quem pode dizer que outras civilizações não tinham seus próprios filósofos: Quem pode dizer que homens de outras civilizações não pensam, não refletem sobre questões básicas sobre a condição humana e o universo? Homens do mundo ocidental não são os únicos abençoados com racionalidade, com inteligência, com pensamento e com instinto de curiosidade. Todos esses elementos são característicos da natureza humana e são encontrados em todos os povos do planeta. Todas civilizações e todos os povos teem os seus próprios filósofos – seu próprio Sócrates, seu próprio Platão, seu próprio Descartes, seu próprio Hegel, etc. A África não pode ser uma exceção. Infelizmente, devido a ausência de registros escritos nos últimos tempos, as reflexões filosóficas de pensadores africanos não teem sido preservadas efetivamente.

De fato as reflexões filosóficas de pensadores africanos não foram preservadas ou transmitidas através de relatos escritos; a verdade é que esses filósofos permanecem desconhecidos para nós. Porém, isso não significa que eles não tenham existido; nós temos fragmentos de suas reflexões filosóficas e suas perspectivas foram preservadas e transmitidas por meio de outros registros escritos como mitos, aforismos, máximas de sabedoria, provérbios tradicionais, contos e, especialmente, através da religião. Isto quer dizer que apresentado na forma escrita, o pensamento pode ser entendido como um sistema, não somente como um conhecimento transmitido de uma geração para outra. Além das mitologias, máximas de sabedoria e visões de mundo, o conhecimento pode ser preservado e reconhecido na organização político-social elaborada por um povo. São esses os meios através do qual as reflexões e perspectivas dos filósofos africanos teem sido preservadas e transmitidas para nós na África. Portanto, estas reflexões e pontos de vista teem transformado, ao longo dos anos durante o processo de transmissão, parte do modo de vida africano, da cultura e patrimônio africanos. Porém, os autoresde perspectivas originais e individuais permanecem desconhecidos para nós. Ainda que nós saibamos que essas perspectivas teem sido fruto de profundas e interessantes reflexõesde alguns pensadores africanos no passado.

Onde há fumaça, deve existir fogo. Mesmo quando o fogo não pode ser visto. Os fragmentos das reflexões filosóficas, ideias e visões de mundo transmitidas para nós por intermédio de aforismos, máximas de sabedoria, através de provérbios, contos, organizações político-sociais, por meio de doutrinas e práticas religiosas não podem vir do nada. Eles são evidências de profundas reflexões filosóficas de alguns talentosos pensadores que eram filósofos africanos no passado, os africanos contemporâneos de Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Hegel etc. O professor Wiredu chama a filosofia africana tradicional de “pensamento de comunidade” e diz que “ele não é criação especifica de um filósofo” (Wiredu, 1980, p.46-47). Ele afirma que esse pensamento é propriedade comum e pertence a toda a humanidade. O professor Wiredu quer dizer que estas ideias, insights, estas visões de mundo etc. não foram produzidos por pensadores individualmente?

Nós sabemos que não há algo como consciência coletiva ou consciência comunitária no sentido estrito do termo. Por consciência entendemos sempre uma consciência individual e pensamentos sempre são de indivíduos. A expressão “pensamento coletivo” não pode significar outra coisa além de pensamento de indivíduos numa comunidade. A filosofia tradicional africana surgiu a partir de pensadores individuais, filósofos que refletiram sobre questões fundamentais que surgiram da experiência humana. Professor Wiredu diz que elas são propriedades de todos; mas, isso não que elas foram produzidas por todos. Pensamentos e ideias transmitidos por pensadores eventualmente se transformam em propriedade comum. Mas, isto não significa que esses pensamentos não tenham sido elaborados por autores individuais. Vamos tomar como exemplo, o conceito akaniano da essência humana descrito por W.E. Abraham (1962, p.59-61) e Wiredu (1980, p.47). Conforme a tardição do pensamento Akan, a pessoa humana foi feita por cinco elementos : (1)nipadu – um corpo; (2) okra – uma alma, um guia espiritual; (3) sunsum – a parte de uma pessoa que é responsável pelo seu caráter; (4) ntoro – aquela parte que advém do pai, base das características hereditárias; (5) mogya – aquela parte da pessoa que se transforma em fantasma após a morte, herdada da mãe e que determina a identidade do clã da pessoa. Sem dúvida, este é um conceito altamente complexo de ser humano que é obviamente fruto de uma profunda e balizada reflexão sobre a condição humana. Se possuímos uma reflexão culminando nesta complexa noção de humanidade devemos ser levados a identificar pensadores singulares na nação Akan.


Embora este conceito dehumanidade tenha se tornado uma noção comum e propriedade de todos os akanianos; não quer dizer que o conceito tenha sido produzido por todos ou vindo do nada. Os autores eram filósofos akanianos e em algum momento do passado, suas ideias passaram a constituir parte da herança cultural da nação Akan. Esses filósofos akanianos evidentemente refletiram sobre a natureza humana e suas teorias são frutos de reflexões pessoais. O fato de não sabermos quem eram esses filósofos não significa que eles não existiram. O conceito akaniano de filosofia é muito mais rico e mais complexo do que muitos que encontramos na filosofia ocidental. É evidente que esse conceito tem seus autores singulares. Esses autores eram o Sócrates, o Platão, o Descartes etc. do povo akaniano.

Professor Wiredu também diz que o pensamento folclórico consiste em assertivas frágeis sem suporte argumentativo (Idem). Nós sabemos que não eram assertivas gratuitas, para os autores dessas ideias e perspectivas existiam razões para abraçar e desenvolver suas ideias. Eles não faziam afirmações sem fundamento, elas eram frutos de reflexões e as conclusões eram resultados de processos de raciocínio. Esses pensadores africanos não desenvolveram suas perspectivas sem razõessem reflexões para fundamentar as questões. Eles, apenas, não apresentaram seus raciocínios nos moldes do silogismo aristotélico ou da lógica de Russel, mas é óbvio que eles postularam suas ideias racionalmente. Por exemplo, quando eles sustentavam a perspectiva da reencarnação, sem dúvida, eles seguiram raciocínios específicos antes de apresentar as conclusões. Eles devem ter observado as pessoas sistematicamente, sabendo que elas morriam e renasciam depois. Eles defenderam que determinados traços de personalidade no passado eram reparados no futuro. Refletiram sobre este fenômeno antes de chegarem à conclusão de que alguns aspectos do ser humano renasciam após a morte. Observações e reflexões similares permitiu aos filósofos akanianos sustentar que a pessoa humana é composta pelos cinco elementos anteriormente descritos. Portanto, filósofos africanos passaram por processos de observação, raciocínios e reflexões antes de obterem ideias, perspectivas e visões de mundo transmitidas para nós através de máximas, contos, mitos, organizações sociopolíticas, doutrinas religiosas, etc.

Agora, como nós encontramos os processos que fizeram com que esses filósofos africanos sustentassem suas ideias? Como podemos descobrir as razões de suas ideias, pontos de vista e doutrinas que nos foram transmitidas? Numa cultura em que a filosofiaé preservada nos livros, essa tarefa é mais fácil. Por exemplo, se você quer saber porque Platão sustentou que a alma é imortal, tudo que você precisa fazer é ler o Fédon. Porém, numa cultura em que a filosofia foi preservada na memória através de máximas de sabedoria, provérbios, contos, mitos, religião, etc. passando geração após geração; as pessoas mais velhas podem nos ajudar (desde que estejam próximas, são a fonte para encontrarmos esses pensadores originais).

Desde que a filosofia foi preservada, através da memória ou dos livros; a memória dos anciões deve servir para descobrirmos as razões que são as bases do que nos foi transmitido. Com efeito, a memória dos anciões pode estar no lugar dos livros. Na cultura ocidental a pesquisa é normalmente feita na biblioteca, na situação peculiar da tradição filosófica africana o trabalho de campo é indispensável nas pesquisas. Este trabalho de campo tem como propósito reconstruir os processos de raciocínio que foram responsáveis pelas ideias que chegaram até nós, através de entrevista com os anciãos. Em outras partes do mundo, se você quer saber a filosofia de um povo, diz o professos Wiredu: “você não deve se reportar aos velhos camponeses, aos sacerdotes ou personalidades da corte; mas, aos pensadores em pessoa ou textos” (Wiredu, 1980, p.47-48). No caso da tradição filosófica africana, a memória dos anciãos ou personalidade da corte é de imensa ajuda. A tradição filosófica africana não é apenas a filosofia da África na antiguidade. Africanos contemporâneos também filosofam. Portanto, estou de acordo com o professor Wiredu que diz que a expressão “filosofia africana” não deve ser compreendida somente em termos de filosofia africana tradicional desde que existem filósofos africanos contemporâneos (Idem, p. XI). Existem filósofos africanos assim como existe filosofia africana contemporânea.

O que significa que a filosofia africana não deve ficar restrita à filosofia tradicional, devemos incluir filósofos africanos contemporâneos como Kwame Nkrumah, Leopold S. Senghor, Nyerere e Kwasi Wiredu. Os três primeiros são pessoas públicas que teem contribuído imensamente com a filosofia política africana contemporânea, o último nome, Kwasi Wiredu, é um filósofo acadêmico, professor de filosofia. Sem dúvida, existem outros filósofos em departamentos de filosofia por toda a África.

Professor Wiredu observa que filósofos africanos contemporâneos dedicam muito tempo de suas pesquisas à questões acerca da filosofia africana, distinguindo o que caracteriza a filosofia africana. Ele entende que é preciso chegar num estágio de ir além de debates sobre filosofia africana e começar a fazê-la (Ibidem). De acordo com oprofessor Wiredu, é preciso começar a trabalhar e desenvolver duas teses filosóficas. Primeira, verdade não é nada mais do que opinião.

Segunda, ser é ser conhecido. A primeira tese, a saber de que a verdade não difere da opinião, tem sido criticada por outro filósofo africano Dr. Oruka. Professior Wiredu tem divergido dessa e de outras críticas (Idem, p. 174). Wiredu recusa qualquer distinção entre verdade e opinião, defendendo que “a verdade não é distinta da opinião” (Idem, p. 114). Ele diz que a experiência do senso comum parece sinalizar que a verdade é algo distinto da opinião. Algumas vezes, sustentamos algumas opiniões como verdadeiras, porém, mais tarde descobrimos que estávamos errados. De fato, o senso comum faz distinção entre verdade opinião.

A verdade tem sido percebida como algo independente, uma realidade objetiva, categoricamente distinta da opinião (Ibidem). Wiredu denomina isto de perspectiva objetiva da verdade, conforme esta noção a verdade está fora do tempo, tem caráter eterno e permanece imutável enquanto as opiniões se transformam. Ele rejeita esta perspectiva objetiva da verdade com base na ideia de que “se verdade é categoricamente diferente de opinião, quando algo é verdadeiro, se assemelha a um princípio lógico, indemonstrável” (Idem, p.115). “Tudo que é alegado sobre a verdade é meramente uma opinião desenvolvida a partir de um ponto de vista específico; categoricamente diferente da verdade. Com efeito, afirmar que o conhecimento verdadeiro é distinto da opinião é uma noção contraditória em si mesma” (Ibidem). Portanto, conforme Wiredu, a teoria objetiva da verdade implica na sua indemonstrabilidade. Mas, isto é, uma divergência com o senso comum.

Afinal, algumas vezes sabemos que determinadas proposições são verdadeiras. “Portanto, a teoria objetiva deve estar incorreta” (Ibidem). Wiredu afirma que o “ponto de vista” é um elemento intrínseco ao conceito de verdade, porque verdade sempre é verdade de um ponto de vista. Wiredu simplesmente identifica “ponto de vista” com “opinião” e afirma que desde que a verdade é sempre verdade de um ponto de vista, segue que a verdade não passa de opinião. “Verdade está sempre ligada a um ponto de vista, isto é, verdade é a perspectiva de um ponto. Existem muitas verdades tanto quanto muitos pontos de vista” (Ibidem).

Eu não posso subscrever essa teoria subjetiva da verdade que não distingue verdade de opinião. “Verdade é a mesma coisa que opinião” (Idem, p.114). Verdade não é idêntica à opinião. Verdade é objetiva, enquanto opinião é sempre subjetiva. Opinião é sempre a opinião de alguém, uma perspectiva subjetiva de algo, mas não podemos dizerque verdade é a verdade de alguém. Wiredu tenta desconstruir a diferença entre subjetividade e objetividade ou reduzir objetividade à subjetividade de modo que a objetividade desapareça. Porém, se objetividade desaparecer e for subsumida à subjetividade. Nós não poderíamos debater acerca da subjetividade, porque não existiria a distinção característica que torna a subjetividade possível, o contraste com a objetividade. Isto se aplica à verdade (objetividade) e opinião (subjetividade).

Se, tal como Wiredu defende, a verdade não é nada além de opinião, nesse caso a poinião perderia o seu significado, o qual só pode ser obtido em contraste com a verdade. A assertiva de Wiredu de que existem muitas verdades assim como muitos pontos de vista, afirmando que todo ponto de vista equivale uma verdade, é totalmente falsa. Wiredu identifica implicitamente “ponto de vista” com “verdade”. Mas, de fato, eles não são idênticos. Opinião é sempre subjetiva; mas, ponto de vista pode ser objetivo. Não faz sentido falar em “opinião objetiva” desde que opinião é sempre subjetiva; mas, podemos falar de um “ponto de vista objetivo” ou de “perspectiva da objetividade”. Consequentemente, mesmo que o aspecto do ponto de vista seja intrínseco ao conceito de verdade, ela não poderia ser descrita como nada além de opinião.

Outra tese de Wiredu é a de que “existir é ser conhecido”. Do mesmo modo que o ponto de vista é um elemento intrínseco ao conceito de verdade, o conceito de conhecimento também é intrínseco ao conceito de ser e existência. Dizer que um objeto existe, argumenta Wiredu, é afirmar que o termo em questão se refere a um objeto. “Existir significa que um dado termo “x” equivale a algum objeto” (Idem, p.127). Portanto, dizer “x” existe é dizer que existe referência. Evidente que isto é sem argumentar, diz Wiredu, que não podemos alegar que o termo “x” se refere a algum ente enquanto não conhecemos nada sobre o ente em questão. De onde segue que alegar ou dizer que um objeto existe implica em ter algum conhecimento sobre o objeto. Por fim, existir é ser conhecido.Novamente, não posso subscrever esta tese. A semelhança entre está tese e a de Berkeley (que existir é ser percebido) é óbvia. Wiredu declara que a tese de Berkeley é irrefutável (Idem, p.114), e que sua tese é tão somente outra forma da tese de Berkeley. Afirmar que existir é ser conhecido, tal como Wiredu faz, implica em que a existência de um objeto dependa do conhecimento do ser do objeto. Mas, está não pode ser a razão, porque o conhecimento sempre pressupõe um objeto que seja anterior e independente de seu conhecimento.

O ato de conhecer é uma atividade voltada para umobjeto, o que pressupõe que o objeto de conhecimento exista antes e seja independente da atividade de conhecimento que lhe é direcionada. Não é a atividade de conhecimento que constitui o ser do objeto. Nada pode ser conhecido, a menos que exista a priori e independentemente da ação de conhecimento. Objetos existem primeiro e antes da atividade de conhecimento que é endereçada para eles, logo, o ponto de partida são os objetos de conhecimento. Existir não pode significar ser conhecido. É verdade que não podemos assegurar que um objeto existe sem conhecermos o objeto em questão, mas, isto não faz que a existência do objeto dependa do nosso conhecimento sobre ele. Conhecer um objeto é fazer com que o objeto seja alvo de nosso conhecimento, implicando certamente que o objeto exista antes e independentemente de nosso conhecimento sobre ele.

Referências Bibliográficas


ABRAHAM, W.E. The Mind of Africa, University of Chicago Press, 1962.
ARISTOTLE, Metaphysics, Harvard University Press, 1980.


BRITTON, K. Philosophy and the Meaning of Life, Cambridge University Press, 1969. JASPERS, K. Introduction à la Philosophie, Librarie Plon, 1974.


WIREDU, K. Philosophy and an African Culture, Cambridge University Press, 1980.


African Philosophy : Yesterday and Today in African Philosophy: an Anthology by Emmanuel Chukwudi Eze, Massachusetts/Oxford,


Blacwell Publishers,1998





Patrice Lumumba eterno líder revolucionário da nação Congolesa. Um homem forjado no calor das batalhas do seu povo pela liberdade. Um dos mais ilustres filhos da Mãe Africa que se doou inteiramente a uma causa. Combatente obstinado pela independência de sua terra, um líder indomável no enfrentamento as forças colonialistas e imperialistas que isistiam em promover a exploração no continente Africano. Patrice Lumumba o africano forte que emergiu, contra o julgo assassino do homem branco. Um legítimo herói, que pelos esforços em defesa de uma Africa livre, forte é unida foi morto por abomináveis algozes. Sua vida e um exemplo. Sua luta uma inspiração. Sua trajetória um orgulho. Sua morte um martírio. Patrice Lumumba imortal.









“Durante mil anos tu, negro, sofreste como um animal, tuas cinzas foram espalhadas ao vento do deserto.

Teus tiranos construíram os templos mágicos e brilhantes,onde preservam tua alma, onde preservam teu sofrimento:o bárbaro direito dos punhos e o direito branco ao chicote.

De mil anos de padecimentos, surgiu uma força em ti,na voz metálica do jazz, um grito de libertação desconhecido,que ressoou no continente como uma marulhada gigante.O mundo inteiro, surpreendido, despertou aterrorizadocom o ritmo violento do jazz.


O branco empalideceu ante este novo canto,que carrega tochas purpúreas na escuridão da noite.Chegou a alvorada, irmão, a alvorada! Olha nossos rostos.Uma nova manhã desponta na nossa velha África.Só nossa será a terra, a água, os rios poderosos,que o pobre negro entregou durante mil anos.

E as resplandecentes luzes do sol brilharão de novo para nós,secarão as lágrimas em teus olhos e as cusparadas de sua cara.Enquanto rompes tuas cadeias, os grilhões pesados,os tempos malvados e cruéis irão para não voltar mais.Um Congo livre e bravo surgirá da alma negra.Um Congo livre e bravo, o florescer negro, a semente negra!”




(Patrice Lumumba)


*Por Kassan



Entre a dinâmica do capital e a criminalização da pobreza

Wilson Enríquez


A aplicação de medidas de segurança pública na América Latina reflete o processo do capitalismo burocrático nelas existente. Para além dos discursos de manutenção da ordem pública, nossa intenção é refletir. Qual é a dinâmica do capital na aplicação das novas doutrinas de segurança pública na América Latina?


Uma olhada sobre o cenário citadino latino-americano, espaço onde se reproduzem as doutrinas da "Janela Quebrada" e da "Tolerância Zero" importadas de Nova Iorque, nos permitirá analisar três fenômenos na cena urbana da América Latina: o primeiro, a vertiginosa irrupção do negócio da segurança privada, que se estende dos serviços de vigilância e custódia até o ramo imobiliário; um segundo fenômeno é o recrudescimento das políticas estatais de criminalização da pobreza, que estigmatizam não só a condição de pobreza das pessoas, mas também a cor de sua pele e sua origem nacional; por fim, como terceiro fenômeno, o fortalecimento dos vínculos subterrâneos entre as forças repressivas estatais e o crime organizado, enquistado nos bairros pobres das cidades. Dos três fenômenos, os dois últimos talvez não sejam muito novos; no entanto, o último, principalmente, é uma realidade cotidiana e amplamente conhecida, mas que, por motivos óbvios, costuma ser desconsiderada nas reflexões públicas sobre a nova doutrina da segurança pública.


O boom do negócio da segurança privada

partir da década de 1980, a ecologia urbana das cidades latino-americanas viu-se modificada por grandes investimentos imobiliários no nicho de condomínios fechados — enclaves de riqueza que constituem uma evidente imitação do american lifestyle de Beverly Hills.

Nos "guetos dourados" da América Latina, qualquer segurança é pouca para os valiosos bens materiais das elites. A gastança na edificação de habitações suntuosas se faz sem discrição alguma. As elites latino-americanas sentem o afã de ostentar uma vida glamourosa, não poupando esforços para esfregar sua riqueza na cara dos milhões de pobres que a rodeiam.
Os gated communities possuem uma arquitetura própria da "ecologia do medo", como a denomina o sociólogo estadunidense Mike Davis; só são viáveis graças a mecanismos eletrônicos de segurança, aos quais se somam a custódia física proporcionada por um exército de vigilantes privados em número duas, três ou cinco vezes maior que o de efetivos policiais a cargo do Estado.
Os vigilantes privados, em regra, pertencem a grandes empresas de segurança, algumas delas com presença em vários países da América Latina, como, por exemplo, a PROSEGUR, que atua na Argentina, Uruguai, Brasil, Bolívia e Peru. Essas empresas dispõem de grandes contingentes de guardas, que submetem a treinamento militar constante e equipam com sofisticados armamentos, indumentárias especiais e implementos de segurança. Os proprietários dessas empresas são altos funcionários policiais ou militares, alguns em atividade, outros na reserva. A oferta de serviços inclui não apenas o resguardo físico de residências ou empresas como também o resguardo físico de pessoas e o traslado de dinheiro de entidades financeiras ou produtivas.
Esta situação evidencia que a dinâmica do capital não perdoa e é capaz de criar novos fetiches em torno do sentimento de medo e insegurança experimentado por ninguém menos que os "vencedores" no sistema capitalista, convertendo a segurança numa mercadoria que circula junto às demais.


A vigilância e custódia é apenas um dos muitos produtos da indústria da segurança3, na qual aglomeram-se outros, como os sistemas eletrônicos de alarme instalados em residências ou automóveis.

Criminalização da pobreza

Quase vizinhas, seja nas periferias ou nos vetustos casarões do centro das cidades históricas, vivem confinadas milhares de pessoas em um ambiente de miséria, no qual operários, subempregados e desempregados fixaram residência.

Os bairros periféricos, os tugúrios cêntricos ou suburbanos são o espaço onde habitam os que participam diretamente do processo de produção. Em muitos casos, a precária situação econômica desses trabalhadores obriga-os a morar próximo a desempregados convertidos em lúmpen, prostitutas ou pessoas que se dedicam ao microcomércio de substâncias tóxicas.


Em qualquer país da América Latina, esta situação serve de pretexto para que a polícia ingresse nas villas miseria, favelas ou barriadas, não necessariamente para resguardar a vida e integridade física dos moradores dos bairros mais pobres, e sim para efetuar incursões pontuais chamadas "redadas", que têm como finalidade específica a repressão, já que todo habitante dos arrabaldes citados latino-americanos é tratado como delinquente, seja isto verdade ou não, numa clara criminalização da pobreza.


A situação de miséria é caldo de cultura para bandos criminosos, quadrilhas e narcotraficantes que só despertam a preocupação do Estado policial de tempos em tempos, para saciar o desejo mórbido da imprensa especializada na vida, paixão e milagres do crime, ou para dar um sinal simbólico de uma falsa presença estatal naqueles lugares onde sua inépcia e caducidade reduziu o espaço do mundo oficial latino-americano.

São múltiplos os casos, em cidades como Bogotá, Lima ou Caracas, e, mais ainda, em Medelin, Buenos Aires ou Rio de Janeiro, em que as forças repressivas ultrajaram a dignidade de gente honesta e trabalhadora, a pretexto de procurar delinquentes. Nos últimos anos, no Rio de Janeiro, as incursões policiais estiveram acompanhadas de execuções sumárias e extrajudiciais de habitantes de favelas, procedimento abusivo, não-previsto na legislação brasileira e contrário aos princípios mais elementares de direitos humanos.

Outro dos ingredientes das práticas repressivas cotidianas na América Latina refere-se aos critérios discriminatórios, baseados nos traços fenotípicos ou na origem nacional das pessoas: os mencionados critérios servem para rotular pessoas como delinquentes, o que é frequente em cidades como Santiago, Buenos Aires ou La Paz, onde se estigmatizam cidadãos de nacionalidade colombiana ou peruana. Paradoxalmente, em Lima e Bogotá, pessoas de tez negra também são estigmatizadas como delinquentes.

Nexos entre funcionários estatais e o crime organizado

''Se vai preso, sai no outro dia,Porque tem um primo na polícia.''

Fragmento de Juanito Alimaña do cantor de salsa Héctor Lavoe.

Dentro do mundo subterrâneo da pobreza, no interior das cloacas delinquênciais, movem-se, como peixes na água, altos chefes policiais que fingem combater a criminalidade, mas simultaneamente, dirigem e protegem grandes negócios de drogas, delinquência, prostituição e extorsão contra todos os que se conduzem à "margem da lei".

A América Latina é um espaço onde o capital mundial concentra seus interesses na exploração de recursos naturais e no crescente impulso de mercados de consumo. Esta situação coexiste, paradoxalmente, com o paupérrimo estado de milhões de latino-americanos, cujo consumo tem como limite os baixos rendimentos decorrentes da precariedade laboral em suas múltiplas variantes, como o subemprego ou a eventualidade.


A contradição capital-trabalho, em especial no que toca ao trabalho precário, gera um volumoso exército de reserva de mão-de-obra que, ao não encontrar uma saída "ótima" dentro das regras do jogo do capital, vê-se levado a erigir uma nova ordem jurídica marginal e não reconhecida, que é sua resposta ao fetichismo extremado das mercadorias existentes no século XXI.
Daí que a subterraneidade em que vivem milhões de latino-americanos habitantes de favelas, ranchos ou villas miseria; a recriação de inacabáveis formas de resistência e ruptura com o capital convertem os bairros mais pobres em lugares propícios ao enquistamento de máfias especializadas em vulnerar os direitos de propriedade intelectual e romper com as estruturas limitantes da livre circulação das mercadorias através do contrabando. Lugares onde se quebra a ilusão capitalista do "contrato social" para respeitar a propriedade privada mediante o furto, o roubo e o assalto; e transcender os supostos limites morais, que em aparência e hipocrisia, o capitalismo impõe à circulação de certas mercadorias ilícitas, como as drogas, o comércio sexual e as mercadorias roubadas.


Esta é a face obscura e sórdida do capitalismo burocrático — face que, embora contrária ao discurso oficial do livre mercado, é (deve-se reconhecê-lo) plenamente funcional a este desenvolvimento do capital, pois o aceita, reimpulsiona, reproduz permanentemente e enriquece uma vasta cadeia de policiais de todos os níveis e funcionários estatais que alentam, cotidianamente, a delinquência, a prostituição e o tráfico de drogas, já que essas atividades lhes rendem gordos lucros.

Os "impostos subterrâneos" que incidem sobre o crime na América Latina em favor de uma cadeia hierárquica de policiais e burocratas, longe de ser um fato isolado, é uma característica estrutural do capitalismo. Decorre daí que as incursões policiais ou militares a bairros pobres, estigmatizados como territórios de delinquência, servem como justificativas ideológicas que encobrem práticas cotidianas de corrupção. Servem também para conter a histeria moralista midiática e, não poucas vezes, são parte de uma vendetta para realizar ajustes de contas de disputas entre facções antagônicas no interior da polícia ou das corruptas burocracias latino-americanas.

Os sequestros de magnatas ou os roubos milionários que acontecem no Rio de Janeiro, Cidade do México, São Paulo, Buenos Aires, Bogotá, Medellín, Cali, Caracas, Santiago ou qualquer outra cidade da América do Sul, costumam ser efetuados a partir de informações precisas, eficazes e pormenorizadas, às quais têm acesso, sem dificuldades, as mais treinadas equipes de inteligência desta parte do orbe.

As táticas usadas nestes atos delinquênciais coincidem com as regras básicas dos manuais militares e policiais. Inclusive, não é despropositado afirmar que, nessas ações, existe participação ativa de efetivos policiais, pois, em todos os países sul-americanos, há suficientes evidências empíricas que o comprovam. Não foi por acaso que, dentro das políticas de "Tolerância Zero" aplicadas no Peru na década de 1990, foi erigida em agravante a condição de policial em atividade ou reformado dos assaltantes que tenham perpetrado algum roubo.
Com frequência, os mais experimentados assaltantes, pistoleiros ou narcotraficantes latino-americanos entram e saem das prisões num abrir e fechar de olhos. Os mecanismos para elidir "o peso da lei" costumam ser o "apadrinhamento" de algum funcionário ou burocrata estatal e o pagamento clandestino para que a "justiça faça vista grossa".



Esta situação foi denunciada em múltiplas oportunidades pela gente pobre e honesta que constitui a maioria dos habitantes das favelas, ranchos e villas miseria latino-americanas; no entanto, essas pessoas costumam ser intimadas para que apresentem provas dos atos de corrupção que denunciam, como se o policial ou burocrata corrupto fossem ingênuos a ponto de passar recibo cada vez que se corrompem.


1. A doutrina da "Janela Quebrada", formulada em Nova Iorque, é uma teoria que pretende solucionar o problema da violência urbana sem limitar-se à atividade repressiva e recorrendo a campanhas municipais de revitalização dos espaços urbanos, coleta de lixo, entre outras, numa espécie de reedição da aplicação da teoria da "guerra de baixa intensidade".


2. A doutrina da "Tolerância Zero", continuação da doutrina da "Janela Quebrada", também se aplicou na cidade de Nova Iorque. Ela parte de uma identificação exaustiva e "científica" dos lugares com maior frequência de eventos delituosos e violentos, além da identificação dos delinquentes de forma a aplicarem-se medidas repressivas e sanções drásticas, de maneira seletiva.

3. Cabe mencionar que a conversão em mercadoria de alguns produtos relacionados á insegurança não é nova: as companhias de seguros ou brockers já foram criadas há bastante tempo.


(ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL NOVA DEMOCRACIA Ano VI, nº 42, abril de 2008 )
O Louvor Africano de Batalha




O sol africano está brilhando acima do horizonte, o dia está surgindo para nós, homens e mulheres pretas ao redor do mundo;Nosso Deus está na linha da frente, e conduz o Batalhão Santo, Avante, faça suas bandeiras brilharem, irmãos de nobres ações.

Há uma bandeira que nós amamos verdadeiramente -O vermelho, o preto e verde, Maior emblema que pode ser declarado, A mais brilhante já vista.

Quando o mal for rompido, a terra vai tremer, Nem oceanos, mares, nem lagos estarão a salvo, O nosso sofrimento foi muito longo, nosso choro subiu até o trono de Deus;Temos contados diversos erros, e apelamos por uma mudança efetiva.

Então, Senhor, deixe-nos ir para a batalha, com a Cruz na frente;Vamos ver nossos inimigos sucumbirem, ver suas fileiras se dividir Porque com Deus não há qualquer obstáculo que não possa ser ultrapassado, Nem vitória que não possa ser alcançada.

Todos os filhos de Deus, seja na angústia ou nos castigos, Não importa onde, com misericórdia, seu amor está lá;Então dei-nos coragem para alegres cantar louvores ao Rei, O Salvador, Cristo, o Senhor.

OH, África, vitória! Veja, o inimigo vai cair! Cristo levar-nos a vestir a coroa triunfante;Jesus, lembramos com carinho o sacrifício da cruz, Então levantamos as nossas bandeiras para nunca mais sofrer.


Marcus Garvey
Dr. Molefi Kete Asante

Tradução Renato Nogueira Jr.Professor do Instituto Multidisciplinar
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Afrocentricidade é um paradigma baseado na idéia de que os povos africanos devem reafirmar o sentido de agência para atingir a sanidade. Durante os anos de 1960 um grupo de intelectuais afro-americanos inseriram os Estudos Negros nos departamentos das universidades, começando a formular maneiras originais de análise do conhecimento. Em muitos casos, estes novos modos foram denominados de conhecimento numa “perspectiva negra” como oposição ao que tem sido considerado “perspectiva branca” da maior parte do conhecimento na academia americana. No fim dos anos de 1970 Molefi Kete Asante começou a falar sobre a necessidade de uma orientação Afrocêntrica da informação. Em 1980 ele publicou o livro, Afrocentricidade: a teoria da mudança social, o qual promoveu pela primeira vez um debate detalhado do conceito. Embora o termo seja anterior ao livro de Asantee tenha sido usado por muitas pessoas, incluindo Asante nos anos de 1970 e Kwame Nkrumah na década de 1960, a ideia intelectual não tinha base enquanto conceito filosófico antes de 1980.

O paradigma Afrocêntrico é uma mudança revolucionária no pensamento proposto como uma correção construtural da desorientação negra, descentramento e falta de agência negra. A Afrocentrista formula a pergunta: “O que as pessoas africanas fariam se não existissem pessoas brancas?”. Em outras palavras, quais as respostas naturais deveriam se dar nos relacionamentos, atitudes em relação ao meio ambiente, padrões de parentesco, preferências por cores, tipo de religião, referências históricas de povos africanos se não tivesse ocorrido nenhuma intervenção do colonialismo e escravização? Afrocentricidade responde esta questão assegurando o papel central do sujeito africano dentro do contexto histórico africano, por conseguinte, removendo a Europa do centro da realidade africana. Deste modo, Afrocentricidade promove uma idéia revolucionária porque estuda idéias, conceitos, eventos, personalidades e processos políticos e econômicos de um ponto de vista do povo negro como sujeito e não como objeto, baseando todo conhecimento na autêntica interrogação sobre a localização.


Isso torna legítimo perguntar: “Donde vem a mina?” ou “onde tá o mano?” “Você ta sufocado com a pressão?”Estas são avaliações e questões relevantes que permitem à pessoa que investiga precisar cuidadosamente o lugar da resposta, o lugar psicológico ou cultural. Como o paradigma da afrocentricidade admite a centralidade de africanas(os), isto é, ideais e valores negros são tomados como as formas mais elevadas de expressão da cultura africana, sua conscientização é um aspecto funcional para uma abordagem revolucionária do fenômeno. O aspecto estrutural e o aspecto cognitivo de um paradigma são incompletos sem o aspecto funcional. Há algo além do conhecimento num sentido afrocentrado; existe também o fazer. Afrocentricidade sustenta que todas as definições são autobiográficas.

Uma das suposições-chave da(o) Afrocentrista é que todas as relações são baseadas em centros e margens e nas distâncias de cada lugar do centro ou da margem. Quando povo negro tem seu ponto de vista centrado, tomando nossa própria história como centro; então, nos enxergamos como agentes, atores e participantes ao invés de marginalizados na periferia da experiência política ou econômica. Com este paradigma, seres humanos descobriram que todos que todos os fenômenos são expressos através de duas categorias fundamentais espaço e tempo. Além disso, no momento que compreendemos que as relações se desenvolvem e o conhecimento se amplia, nos tornarmos aptos a apreciar as questões considerando espaço e tempo.

A intelectual ou ativista afrocentrada sabe que um modo de expressar Afrocentricidade se chama demarcação. Quando uma pessoa traça uma fronteira cultural em torno de um espaço cultural particular num tempo humano, isto é denominado de demarcação. Isto pode ser feito através do anúncio de um determinado símbolo, da criação de laços especiais ou da menção de heroínas e heróis da história e cultura africana. O que significa que fora a citação de pensadores revolucionários da nossa história, ou seja, além de Amilcar Cabral, Frantz Fanon , Malcom X e Kwane N'kruman nós devemos estar preparados para ações imediatas conforme nossa interpretação do que é melhor e mais interessante para o povo negro, isto é, de pessoas negras enquanto população historicamente oprimida. Isso é extremamente necessário para o avanço neste processo político.Afrocentricidade é a essência de nossa regeneração porque ela é a orientação com a qual filósofos contemporâneos como Haki Madhhubuti e Maulana Karenga, entre outros, têm articulado uma imagem mais interessante do povo africano. O que é melhor do que operar e agir segundo nosso próprio interesse coletivo? O que é mais gratificante do que enxergar o mundo com nossos próprios olhos? O que repercute mais nas pessoas do que compreender que somos o centro de nossa história e não qualquer um? Se nós podemos, durante o processo de conscientização, reivindicar nosso espaço como agentes da transformação progressiva, então podemos modificar nossa condição e mudar o mundo.Afrocentricidade mantém nossa reivindicação por espaço, exclusivamente, se entendermos as características gerais da afrocentricidade também como aplicações práticas de campo.


As cinco características gerais do método afrocêntrico :

1. O método afrocêntrico considera que nenhum fenômeno pode ser apreendido adequadamente sem ser localizado primeiro. Um fenômeno deve ser estudado e analisado a partir das relações de tempo e espaço psicológicos. Ele deve sempre ser localizado. Ou seja, este é o único modo para investigar as complexas interrelações entre ciência e arte, projeto e execução, criação e manutenção, geração e tradição e tantas outras áreas atravessadas pela teoria.

2. O método afrocêntrico considera o fenômeno múltiplo, dinâmico e em movimento e, portanto, ele é imprescindível para uma pessoa anotar cuidadosamente e registrar de modo preciso a localização do fenômeno em meio às flutuações. O que significa que o(a) investigador(a) deve saber onde ele ou ela se encontra no processo.

3. O método afrocêntrico considera é uma forma de crítica cultural que examina a ordem e os usos etimológicos das palavras e termos para reconhecer a localização das fontes de um(a) autor(a). O que nos permite articular idéias com ações e ações com idéias baseado no que é pejorativo e ineficaz, e, baseado no que é criativo e transformador em níveis políticos e econômicos.

4. O método afrocêntrico procura descobrir o que está por trás das máscaras da retórica do poder, privilégio e hierarquia para estabelecê-lo como o principal lugar de produção de mitos. O método estabelece uma reflexão crítica que revela que a percepção do poder monolítico não passa da projeção de uma armação de aventureiros.

5. O método afrocêntrico localiza a estrutura imaginativa de sistemas econômicos, partidos políticos, política de governo, forma de expressão cultural através da atitude, direção e linguagem do fenômeno, seja ele texto, instituição, personalidade, interação ou evento.


Afrocentricidade Analítica:

Afrocentricidade analítica é a aplicação de princípios do método afrocêntrico para análise textual. Um(a) afrocentrista busca entender os princípios do método afrocêntrico para usá-los como guia na análise e discurso. Sem dizer que a(o) afrocentrista não pode exercer com congruência seu papel como cientista e humanista se ela ou ele não localizar adequadamente o fenômeno no tempo e no espaço. Isto significa que a cronologia é tão importante em muitas situações quanto a localização. Os dois aspectos são centrais para toda compreensão adequada da sociedade, história ou personalidade. Portanto como fenômenos são ativos, dinâmicos e diversos em nossa sociedade, o método afrocêntrico requer cientistas focadas em registros rigorosos e anotações cuidadosas que situem espaço e tempo. De fato, o melhor modo de apreender a localização de um texto é determinar de início onde o(a) pesquisador(a) está situado(a) no tempo e no espaço. Uma vez que você sabe a localização e o tempo do(a) pesquisador(a) ou autor(a) fica mais fácil e rápido estabelecer os parâmetros constitutivos do fenômeno. O valor da etimologia, isto é, a origem dos termos e palavras constituem a identificação e localização dos conceitos. A afrocentrista procura demonstrar nitidamente em sua exposição deslocamentos, desorientações e descentramentos. Um modo simples de acessar os textos objetivamente é através da etimologia. Os laços míticos se relacionam conjuntamente seja pessoalmente ou na produção conceitual. Esta é a tarefa da(o) afrocentrista: determinar o alcance dos mitos sociais, tanto os que são representados como centrais quanto os que são representados como marginais. O que significa que qualquer análise textual deve levar em consideração realidades concretas e experiências vividas; com efeito, experiências históricas constituem o elemento chave da analítica afrocêntrica. Em sua atitude investigativa, a direção e linguagem da(o) afrocentrista está buscando desvelar a imaginação do(a) autor(a). O que afrocentristas buscam fazer é criar oportunidade para o(a) escritor(a) mostrar onde ele ou ela se situa em relação ao assunto. Ou seja, o(a) escritor(a) está marginalizado centrado(a) ou marginalizado(a) em relação a sua própria história?

Filosofia Afrocêntrica

A filosofia da afrocentricidade tal como foi exposta por Molefi Kete Asante e Ama Mazama, figuras centrais da Escola de Temple, indica uma maneira de inquirir questões do âmbito cultural, econômico, político e social considerando o povo africano como protagonista. Existem outras idéias afrocêntricas também; mas, as principais foram propostas nos textos dos professores universitários Asante, Mazama e mais tarde por C. Tsehloane Keto. Na verdade, afrocentricidade não pode ser reconciliada com nenhuma filosofia hegemônica ou idealista. O que é contrário ao individualismo radical expresso pela escola pós-moderna. Mas, isso também está em oposição ao blá-blá-blá, confusão e superstição. Como exemplo de diferença entre os métodos da afrocentricidade e da pós-modernidade, vamos considerar a questão a seguir: “Por que africanos têm sido postos fora do desenvolvimento global?” A pós-modernidade começa dizendo que não existe algo como “africanos” porque existem diferentes tipos de africanos e todos africanos não são iguais. Pós-modernos(as) deveriam dizer que se existem africanos e descrever suas condições, respondendo a pergunta do porquê do desenvolvimento dos africanos estar aquém do desenvolvimento econômico global; portanto, eles estão fora das parcerias que determinam o funcionamento da economia mundial. Dito de outro modo, para o(a) afrocentrista não está em questão o fato de existir um senso coletivo de africanidade revelado na experiência comum do mundo africano. A afrocentrista deve observar as questões pela localização; controle hegemônico da economia global, marginalização e lugares de poder constituem a chave para entender o subdesenvolvimento econômico do povo africano.


Renato Nogueira Jr. é ativista e intelectual, engajado em pesquisas e práticas afrocentradas no Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), atua como Professor de Filosofia da Educação o Departamento de Educação e Sociedade do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).
A farsa do MNS- Movimento Negro Socialista

Dentre as demais organizações que compõem o movimento negro no Brasil, o chamado MNS – Movimento Negro Socialista é uma das mais capengas é farsesca de todas.

(Fundação da organização aliada da burguesia)




Origem:



Fundado por ''combativos'' militantes em 13 de maio de 2006 (data esta que a organização faz questão de prestigiar), desde o início o MNS é definido pelo mais intenso peleguismo de submissão aos interesses das classes dominantes. Não sendo capaz de articular nenhuma ação voltada para transformação social, ficando apenas no discurso pretensamente insurrecional contra o capitalismo é o racismo.


O MNS é uma organização apêndice do PT algo que já serve para demonstrar, o caráter reacionário desse movimento pseudo-revolucionário, inclusive alguns integrantes da diretoria do MNS, são políticos eleitos pelo Partido dos Trabalhadores o que evidência os laços do Movimento Negro Socialista com o Estado Burguês. O Movimento Negro Socialista alega agir, sobre os princípios de uma degenerada doutrina do marxismo-leninismo-trotskysmo que é apresentando como uma fantástica solução para todos problemas enfrentados pela população negra. Em sua retórica ocasional o MNS defende uma luta contra o racismo atrelada ao combate ao capitalismo, segundo o qual : O racismo é responsável por dividir a classe trabalhadora é apenas por intermédio de uma revolução socialista, é que seria possível destruir a dominação sócio-econômica que oprimem os negros, dessa forma estaria sendo criado, uma harmoniosa sociedade sem desigualdades étnico-racias.

O movimento tem como meta articular uma série de atividades que tenham como objetivos a formação de uma genuína, luta popular que seria responsável pela supressão do atual sistema econômico vigente, possibilitando o surgimento de um regime socialista. Mais há pratica é bem distinta do discurso, sendo que as distorções é contrariedades são extremamente alarmante sendo, impossível camuflar a real natureza desse movimento títere Petista. O Movimento Negro Socialista faz questão de expressar seu apoio ao governo de Lula que é visto como um legítimo representante das classes populares, exploradas pela burguesia. Assim como fazem o plantel de "esquerdistas" apoiadores de Lula que insistem, na crença de que o governo do PT é de esquerda o MNS oportunamente esquece a existências de partidos politicamente conversadores, na base governista preferindo defender a manutenção contínua desse apodrecido governo burguês que tanto mal produz para os negros que formam a classe trabalhadora.


Não e aquilo que parece ser :

O Movimento Negro Socialista possui uma incrível arrogância em relação a outras organizações políticas negras que são, definidas como defensoras do "racialismo". O MNS mantém os piores vícios dogmáticos, todos oriundos de uma prepotente na qual é criado uma visão estreita. O conteúdo peleigo do MNS se torna mais notável principalmente pela aliança com a Esquerda Marxista uma facção pertencente ao PT é que se afirma como sendo revolucionária. Porém a Esquerda Marxista é uma organização completamente falsária, que existe apenas através do uso de engodos é de fictícias representações do ideário socialista, sendo sua autenticidade política amplamente questionada. Zumbi dos Palmares, João Candido, Malcolm-X, Martin Luther King, Steve Biko os Panteras Negras entre outros nomes... São apresentados como consistentes inspirações do movimento esses grandes lutadores da liberdade, são utilizado como uma simbologia, para sustentar a idéia de que o MNS realmente é uma organização revolucionária, comprometida com a luta de transformação, somado a isso existe um jogo de encenações baratas é ridículas de punhos cerrados, é palavras de ordem gritadas em coro contra o establishment, tudo feito no mais puro cinismo.


(O MNS chega a utilizar os grandes Black Panthers oportunismo sem limites)


Movimento Negro Socialista apresenta o imperialismo como uma considerável força a ser derrubada, pelo bem da humanidade mais isso é feito apenas por conveniência, é impossível expressar oposição ao imperialismo é ao mesmo tempo apoiar o governo de Lula que mantém uma permanente invasão militar no Haiti sobre a descrição de ''missão'' de paz. Como é percebido o MNS se supera na capacidade de dissimulação. Reformistas sem consistência, este é o perfil dos indivíduos que formam os quadros do MNS.



Marxistas negros unidos com Direitistas brancos?


‘‘Combater o racismo, lutar pela igualdade pelo socialismo ’’, ‘‘Unidos pelo socialismo contra o racialismo é racismo’’ esses são alguns dos lemas do movimento mais a realidade vem mostrando que estes slogans são usados apenas como um sórdida intenção de iludir. O que tornar notório o MNS e que esta é uma das poucas organizações negras que se opõem radicalmente a implementações de qualquer políticas de ação afirmativas.

A justificativa utilizada para a oposição a adoção de políticas de reparação a população negra, é também indígena é de que essas políticas apenas, serviriam para estimular o racismo ou invés de combatê-lo. A lógica emprega pelo Movimento Negro Socialista é completamente baseada, em argumentos politicamente conversadores, as mesmas sofismas usadas pela direita reacionária contrária as políticas afirmativas são usadas pelo MNS sem o nenhum pudor. Essa equivalência de discurso do MNS com aquele apresentado por políticos brancos de direita acaba o levando a formar conchaves com forças políticas extremamente retrógadas tais como Democratas é Partido Progressista.

A luta por medidas reparativas que marcam historicamente a trajetória do movimento negro contemporâneo são apresentados como atitudes de estimulo ao ''racialismo'' evidenciando a completa falta de noção e percepção, o MNS define como leis ''raciais'' as cotas para estudantes negros é pardos no ensino superior. Em 2007 o MNS se uniu aos pedidos da direita é da extrema direita que derrubaram Matilde Ribeiro então Ministra da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, mesmo não sendo devidamente apuradas as denúncias contra Matilde o Movimento Negro Socialista preferiu apelar com a mesma ferocidade que tiveram os grandes meios de comunicação em relação ao caso da Ex-Ministra. Já em 2008 o MNS integrou uma comitiva que foi até o congresso nacional, entregar a chamada carta dos 113 Cidadãos ''anti-racistas'' um documento escrito por indivíduos politicamente de todas as espécimes que vão desde de conversadores de direita chegando até a veteranos marxistas, esta carta que continha petições contra a introdução de todas políticas públicas direcionadas para população negra foi então entregue ao presidente do Senado na época o corrupto Renan Calheiros é outra cópia foi dada ao Ministro do STJ Gilmar Mendes. Como é possível uma organização que se define como marxista fazer sem o menor escrúpulo alianças táticas com os mais reacionários setores da política brasileira?


Outro aspecto que coloca em dúvida, a credibilidade ideológica do MNS é sua aprovação das teorias limitadas é limitadoras desenvolvidas por pretensos intelectuais tais como : Ali Kamel diretor de jornalismo da TV Globo, autor do livro ‘‘Não Somos Racistas’’ um dos mais incríveis libelos de hipocrisia já escrita na historia nesse país, Ali Kamel é um dos principais transmissores do pensamento da classe média é da burguesia que não aceitam nenhum tipo de mudança no funcionamento do sistema social. Outro indivíduo que tem suas teses anti-políticas afirmativas aprovadas pelo Movimento Negro Socialista e do sociólogo e geógrafo Demétrio Magnoli autor do livro ‘‘ Uma gota de Sangue- A historia do pensamento racial’’ nessa obra que tem como objetivo desmoralizar totalmente a luta contra o racismo no Brasil, os argumentos apresentados, chegam ao cúmulo de afirmar que na sociedade Brasileira o racismo é uma pura invenção! Ao lado de grandes veículos de comunicação como Folha de São Paulo, revista Época Demétrio Magnoli promove linchamentos midiáticos contra todos que manifestam apoio a favor das medidas reparatórias.


(Movimento possui as mesmas propostas da classe média é burguesia)

Movimento submisso :

A verdade é que o MNS, é um movimento armadilha, criado propositalmente na tentativa de se neutralizar o fortalecimento de um movimento negro combativo que cresce sem estar ligado aos interesses do Estado ou de partidos políticos específicos. Por detrás do situoso discurso em defesa de uma revolução, o MNS é uma organização servil da estrutura de poder capitalista. Seus integrantes são lacaios da pior estirpe, que apenas fazem manifestações grotescas de revolucionários. Impossível seria esperar qualquer tipo atitude subversiva desse movimento, de duas faces que ao mesmo tempo acena, lutar pelos trabalhadores negros, e posteriomente mantém uma posição conciliação com o sistema vigente. Portanto as prerrogativas de transformação anunciadas são blefes forjados para atrair pessoas mal informadas.




O líder Máximo do movimento é José Carlos Miranda um aplicado vassalo do PT, que concorreu a ultima eleição municipal na cidade de Caierias/SP em 2008. Diga-se de passagem que sua candidatura foi um completo fracasso, que não captou apoio algum da classe trabalhadora, sendo derrotado por um insignificante político burguês. José Miranda faz o papel do agente do grande capital, disfarçado de revolucionário socialista, participa de inúmeros debates, sempre defendendo sua concepção de socialismo eurocêntrico que em nada traz, de benefícios para o povo negro oprimido.

A falta de estratégias compatíveis é um pequeno intercâmbio é diálogo entre os negros dispostos a lutarem por verdadeiras mudanças tendem a abrir espaço para o surgimento, é a proliferação de oportunistas muito bem representados pelo MNS. E preciso identificar bem as verdadeiras organizações negras comprometidas com a construção de um novo modelo de sociedade.



Site do MNS : http://www.mns.org.br/index2.php?programa=movimento.php

Comunidade no Orkut : http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=22062422


*Por Kassan


Malcolm-X (El-Hajj Malik El-Shabazz) o eterno Líder Revolucionário do Povo Negro, não apenas nos EUA mas, também de toda a diáspora Africana. Suas palavras continuam há prevalecer entre os todos os negros que aspiram a libertação diante do sistema racista que prologa a opressão desde o período da escravidão até os dias atuais . Malcolm-X (El-Hajj Malik El-Shabazz) um implacável lutador da liberdade, que colocou sua vida a serviço da revolução. Um grande comandante de idéias profundas e reveladoras. Um pregador muçulmano que usou sua fé para destruir a crença da supremacia branca. Nem mesmo a morte é suficiente para apagar, o nome desse homem na história.










































Ideólogo racista, Ministro de Lula e Estatuto sem igualdade

Em recente nota, ministro da SEPPIR faz nova demagogia com o Estatuto da Igualdade Racial e a “sociologia” de Demétrio Magnoli casa perfeitamente com essa demagogia e com os reacionários do Democratas.

A sociologia de Demétrio Magnoli é o fundamento ideológico da ação do Democratas, filhote da ditadura e da extrema direita. O sociólogo (para não chamar de racista) defende que não há racismo na sociedade e, por isso, não é necessária nenhuma ação afirmativa. Confirmando isso, o Ministro Edson Santos da SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – recentemente defendeu pela milésima vez o Estatuto da Igualdade Racial desprovido de igualdade, e mais, disse que é uma solução para o fim do racismo do Brasil. O absurdo de Santos parece apenas uma defesa barata do governo perto do racismo descarado do sociólogo.

Ministro Edson: “Estatuto da Igualdade Racial para acabar com o racismo”.

Em artigo publicado no sítio virtual O Globo, o ministro Edson Santos insistiu que o Estatuto da Igualdade Racial é a “mais importante ferramenta” para alcançar o fim da desigualdade racial. Que o estatuto “surge para dar consequência e aplicabilidade ao texto da Constituição de 1988, que, desde o seu preâmbulo e em diversos de seus artigos, confere ao Estado a responsabilidade pela promoção da igualdade e o combate aos preconceitos”. A referência diz respeito ao artigo 3º, que diz que é objetivo fundamental do Estado “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Citando Joaquim Nabuco (1849-1910), que se opôs ao regime escravista brasileiro e “profetizou” que o Brasil levaria um século para livrar-se da desigualdade entre os ex-escravos e os demais cidadãos, Santos, ao mesmo tempo em que considera otimista a declaração de Nabuco, contraditoriamente atribui ao Estatuto o papel de importante ferramenta contra a desigualdade racial.

Primeiro vamos nos ater a nova manifestação do ministro sobre a importância do Estatuto da Igualdade Racial. Não há qualquer medida nesse Estatuto que venha minimamente reduzir a desigualdade racial no Brasil. Como já analisamos aqui, essa proposta possui apoio da base governista, do próprio governo e da “oposição”, DEM, PSDB etc. Seu texto não prevê nenhuma ação objetiva com o fim de reduzir a desigualdade racial, e, como tantos outros projetos, tornar-se-á, como negociou a extrema direita: letra morta.

O ministro insiste em defendê-lo apenas para mostrar a Lula que ele está fazendo o trabalho direitinho, esquartejando a proposta original para se tornar apenas uma peça ilustrativa no gabinete do governo Lula, que por sua vez pretende sancionar essa lei no dia da Consciência Negra, 20 de novembro, e assim fazer mais demagogia como se fosse um governo à favor do povo negro. Mesmo que as constantes pesquisas sobre renda, educação, moradia, ainda mostram o negro completamente oprimido pelo Estado burguês como há décadas atrás.

Igualdade perante a lei, a biologia diz que somos iguais, então não há racismo? Magnoli e a teoria racista

Outro fator importante, citado pelo próprio ministro da SEPPIR, é essa igualdade formal fornecida pelo texto constitucional, existente também em outros diplomas legais. Esse argumento, de que “somos iguais perante a lei” é a pedra fundamental dos ideólogos racistas quando recusam a implantação do sistema de cotas nas universidades brasileiras. Dentre eles, tem-se destacado Demétrio Magnoli, com o velho sofisma de que se não existem raças, do ponto de vista biológico, mas que usa isso para afirmar que por isso não existe racismo. Outro abuso ideológico de uma sentença: se não há diferenças no plano jurídico (como afirma a constituição), não o há na sociedade. Fica claro que o propósito de Magnoli ao afirmar que as raças não existem biologicamente não é afirmar a igualdade, mas negar que existe opressão do negro pelo branco na realidade, o que impediria qualquer tentativa de ação afirmativa para a população negra. E, apesar da pouca aplicabilidade, a Constituição diz em seu artigo 4º que o Estado Brasileiro repudia o racismo, determinando, no inciso XLII do artigo 5º, que sua prática se constitui em crime inafiançável e imprescritível. Ora, se é punível o racismo pela própria Constituição, em que se baseia a teoria de Demétrio? É apenas racismo disfarçado. Ele vai além, se não há raça, não há conflito racial, e ação afirmativa seria uma atitude que levaria a um conflito racial de fato.

O surpreendente desta campanha levada a cabo por Magnoli (e o direitista grupo Millenium), Democratas etc. é que seja tão claramente racista, diante de toda a demagogia e hipocrisia em torno da questão do negro no Brasil nos últimos tempos de farta demagogia “democrática". O fato indica um forte movimento da direita no sentido da polarização política. Mas justamente por ser uma operação delicada é que necessita dos ideólogos, ou seja, pessoas que revestem essa ideologia racista e reacionária de uma camada de confeito “democrático” e consiga torná-la palatável para que uma parte da classe média conservadora possa se agrupar detrás dela.

Democracia burguesa é democracia racista

Vários são os argumentos capciosos com que se pretende enganar a população negra. Um dos principais é a igualdade jurídica, ou seja, igualdade formal dos cidadãos. Fundamentalmente o que nos interessa aqui é o caráter racista dessa tese, e não debatê-la abstratamente, como se estivéssemos defendendo uma tese de doutorado. No geral os liberais como Magnoli são como teólogos da democracia, como se essa tivesse surgido no mundo moderno para substituir a tábua dos dez mandamentos, vinda dos céus. A democracia, na realidade, por força do conservadorismo da burguesia é colocada acima da realidade, como um valor supremo e incontestável, sem nenhuma relação com o mundo real. Somos “iguais perante a lei, o Estado” e ponto final. Uma norma para além do mundo, intocável e insuperável. Apenas por um acaso negros são a maioria da população carcerária, de moradores de rua, de desempregados.

Em seu texto, Edson Santos até caracteriza bem o tipo de posicionamento do sociólogo Magnoli: “São muitas as razões que impossibilitaram a ascensão social dos negros (...) as teorias racistas de “embranquecimento” da população; o mito da democracia racial brasileira, que conduziu a uma quase total invisibilidade da questão negra; e toda uma herança discriminatória forjada em mais de 350 anos de escravidão.” Porém a saída desta situação proposta pelo ministro chega a ser cínica: “hoje sabemos que a democracia racial é, em verdade, um objetivo a ser alcançado, pois somos uma nação desigual, com os negros na base e os brancos ocupando o ápice da pirâmide econômica. Felizmente, no atual estágio de suas instituições democráticas, nossa sociedade está suficientemente madura para discutir a transformação desta realidade sem incitar o ódio racial ou ocasionar maiores traumas. Basta não perder de vista que o objetivo não é dividir, mas integrar. Fazer com que negros, brancos, indígenas, ciganos e outros segmentos tenham não apenas a igualdade formal dos direitos, mas a igualdade real das oportunidades. O Estatuto da Igualdade Racial, projeto de lei que há mais de uma década tramita no Congresso Nacional, é a mais importante ferramenta para alcançar este objetivo.” A integração proposta por Edson Santos curiosamente casa com um dos argumentos do sociólogo Demétrio Magnoli, quando este chega ao absurdo de acusar o negro de racista, por defender uma separação em relação ao branco, e assim se coloca como um defensor da famosa miscigenação brasileira.

A defesa feita por Magnoli da miscigenação para encobrir a opressão do negro na sociedade é uma política claramente racista, o que pode ser comprovado pelo fato de que era a política do Integralismo. Esta variante brasileira de fascismo pregava justamente a “fusão das raças”, ou seja, a “miscigenação”, que significava no final das contas a assimilação do índio e do negro pelo branco, que constituiria assim o “homem integral”, a “raça superior”, adaptada aos trópicos. Nestes terrenos, defendemos que é o negro, o oprimido, quem deve decidir a política a ser adotada e não o branco opressor.

O ministro do governo finaliza sua nota nos dando uma aula prática e objetiva sobre o objetivo da ideologia racista de Magnoli. O arremedo de Estatuto da Igualdade Racial, sem recursos, sem obrigatoriedade, sem direitos, foi aprovado “graças a um acordo costurado entre todos os partidos presentes”, o Democratas, PSDB, PMDB, ou seja, latifundiários, racistas e burgueses. E continua: “considerando a solidez dos acordos firmados entre o governo, os partidos e a sociedade civil, estou convicto de que, muito em breve, teremos condições de aproximar o Brasil do ideal de Nabuco”. Pode até ser, pois Nabuco era um monarquista, branco, e defendia a reforma social sem violência.

A luta dos negros brasileiros é uma luta social que não pode ter outra forma que não seja a luta política pela destruição do Estado burguês que garante e perpetua a opressão e a desigualdade. Não em oposição, mas complementando, os direitos democráticos e seus avanços também devem ser agarrados com unhas e dentes, principalmente perante a ameaça da extrema direita brasileira.



Matéria publicada no ''Coletivo João Candido''

http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=17810