KWANZAA é uma celebração Pan-africana ocorrida entre as datas de 26 de dezembro até 1 janeiro de cada ano. Durante esse período de 7 dias todos devem reconhecer a importância da coletividade, comunidade, cultura, família, história como valores da grandiosidade africana. Kwanzaa traz consigo o resgate essencial da cosmovisão de origem africana para ser praticada na contemporaneidade. A palavra Kwanzaa é extraída da expressão em idioma swahili "matunda ya kwanza", que significa "primeiros frutos", se refere ao agradecimento pela colheita provedora da vida.  São 7 os princípios que regem o Kwanzaa:

UMOJA (Unidade): Para esforçamo-nos em manter a unida a família, comunidade, nação e raça.

KUJICHAGULIA (Autodeterminação): Para definir para nós mesmos o controle de nosso destino, garantir o direito inalienável de independência de nossas vidas, instituições e cultura.

UJIMA (Trabalho Coletivo e Responsabilidade): Para manter toda responsabilidade pelo bem da comunidade, fazendo com que os problemas de cada irmão é irmã sejam entendidos por todos e que todos busquemos resolvê-los juntos pelo trabalho.

UJAMAA (Cooperação Econômica): Para construir e manter nossos próprios empreendimentos, recursos econômicos, criarmos nossos negócios e lucrarmos pelo empoderamento financeiro em comum.

NIA (finalidade): Para consolidar nossa inabalável vocação coletiva á construção e desenvolvimento da nossa comunidade, pelo fiel compromisso em restauramos a grandeza africana, unindo continente-mãe África é toda sua diáspora pelo mesmo objetivo final de liberdade.

KUUMBA (Criatividade): Para fazer o melhor possível na maneira em que nós podemos, superarmos limites, enfrentarmos e vencermos desafios apoiados por nossa inteligência, tudo a fim deixar nossa comunidade mais bonita e benéfica daquela que nós herdamos.


IMANI (fé): Para acreditar com todo nosso coração em nossos ancestrais, nossos povos, nossos pais, nossos professores, nossos verdadeiros líderes e a retidão de nossa vitória neste mundo.




Kassan 26/12/2016






Em 25 de maio de 1963 lideranças políticas de 32 nações africanas que já haviam alcançado a independência se reuniram na capital da Etiópia, Addis Ababa, fundaram a Organização da Unidade Africana (OUA). Como organismo multinacional a OUA foi criada sobre inspiração de ideias preconizadas pelo movimento pan-africanista. A Constituição da OUA já estabelecia que seus principais objetivos eram:


Promover a unidade e solidariedade entre os estados africanos. 

Coordenar e intensificar a cooperação entre os estados africanos, no sentido de atingir uma vida melhor para os povos de África.

Defender a soberania, integridade territorial e independência dos estados africanos.
Erradicar todas as formas de colonialismo da África.

Promover a cooperação internacional, respeitando a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Coordenar e harmonizar as políticas dos estados membros nas esferas política, diplomática, econômica, educacional, cultural, da saúde, bem estar, ciência, técnica e de defesa.

25 de maio tornou-se referência para se celebrar como sendo o Dia da Libertação Africana. Na medida que mais nações conquistavam independência se tornavam integrantes da organização. Devido a instabilidade causa por disputas políticas pós-independência, fragilidade econômica, interferência estrangeira para continuidade da exploração colonialista presente em vários países-membros o trabalho da OUA enfrentou problemas sérios, não tendo conseguido alcançar todos os objetivos pela qual a mesma foi criada. Sucessivas guerras civis, golpes de estado, governos excessivamente autoritários, crises humanitárias tornaram a  OUA impotente até ser dissolvida em 16 de julho de 2002 dando lugar a União Africana (UA). A União Africana apesar de ser sucessora, não prossegue fidedigna ao objetivo essencialmente pan-africanista da OUA, e busca a seu modelo assemelhar-se ao da União Europeia.   


Kassan 25/05/2015

SEGUE MOTIVOS PARA NUNCA SERMOS ''JE SUIS CHARLIE''

Repulsivas são as recentes charges publicadas pelo jornal francês Charlie Hebdo sobre os naufrágios de embarcações clandestinas que levavam africanos para Europa. Com o pretexto de liberdade de expressão esse jornaleco exerce um sádico ato em zombar da morte de centenas de pessoas entre elas mulheres e crianças em condições terríveis em alto-mar. Quando se trata dos 4 chargistas do jornal mortos por radicais islâmicos em janeiro desse ano, houve quase uma obrigatoriedade em nos comovermos e sermos todos ''Je suis Charlie''.

Mas quando 2 mil pessoas foram assassinadas por radicais islâmicos na Nigéria, não houve a mesma repercussão, não teve a mesma comoção. Em março quando houve a queda proposital do avião alemão nos Alpes franceses pelo copiloto onde estavam as charges do Hebdo para fazer escárnio dos mortos?

O que o Charlie Hebdo expõe em forma de desenhos e uma síntese do pensamento dos povos europeus, esses povos que desde que se lançaram em conquistas de colonização estabeleceram uma hierarquização de importâncias de vidas humanas. E o racismo ditando o significado de vidas. No caso as vidas africanas não significam nada para esses racistas sejam eles rudes explícitos ou aqueles que se vestem de democráticos ou progressistas.




KASSAN 25/04/2015
Solidariedade e Justiça Agora!

Em Cavalcante (GO), cidade a 310 km de Brasília e localizada na Chapada dos Veadeiros, surgem denúncias de crime de abusos sexuais é trabalho infantil cometidos contra meninas pertencentes a comunidade quilombola de Kalunga.

O uso de exploração de mão de obra infantil especialmente para atividades domésticas, assim como de relatos de violência sexual não e recente, mas sempre encontrou barreiras para serem investigadas. O motivo dessa negligência e devido que os suspeitos de praticarem os crimes se constituem de pessoas econômica e politicamente influentes da região, que incluem vereadores e ex-vereadores.

A comunidade de remanescentes de escravizados reúne aproximadamente 7.000 moradores. A situação de Kalunga não se diferencia de outras comunidades quilombolas existentes no Brasil, no que se refere à pobreza de seus habitantes, na inexistência de maiores oportunidades de estudo, emprego, acesso a serviços básicos como assistência médica, saneamento básico, soma-se a isso as ameaça e conflitos de terras por grileiros, fazendeiros. Na comunidade de Kalunga todos esses fatores causam um terrível impacto negativo na qualidade de vida de seus habitantes.
Com essas graves condições obrigam as meninas e adolescentes a irem morar em casas de famílias de classe média de Cavalcante, para trabalharem como empregadas em troca de conseguirem pelo menos prosseguirem nos estudos até o ensino médio. Tratam-se de relações de trabalho ilegais, não aparadas por nenhuma proteção trabalhista, onde as garotas são submetidas a longas rotinas, muitas delas sequer são assalariadas, vivem em quartos minúsculos e recebem em troca apenas alimentação. Essas garotas são oriundas de famílias extremamente carentes o que amplia de maneira significativa a vulnerabilidade social, elas ficam expostas á uma variedade de formas de violência sejam físicas, morais, sexuais, psicológicas.

Por iniciativa de Vilmar Souza Costa, presidente da AQK (Associação do Quilombo Kalunga) foram encaminhadas as denúncias para conhecimento da SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). Como resposta, a Policia Civil goiana realizou a troca do efetivo da delegacia local acusado em agir com morosidade a análise de denúncias anteriores. Foram trazidos investigadores de outras localidades para que sejam conduzidos sem omissão as investigações que venham a comprovar os crimes e responsabilizar seus autores. Já foram abertos noves inquéritos até o presente momento. Um deles inclui o nome do vice-presidente da Câmara Municipal, Jorge Cheim (PSD), 62 anos. Um laudo pericial comprovou o estupro de uma menina Kalunga de 12 anos que residia e trabalhava na casa dele.

Já foi solicitado a prisão preventiva de Cheim pelo delegado responsável pelas investigações, Diogo Luiz Barreira. Jorge Cheim além de vereador por três mandatos, é ex-prefeito de Cavalcante e marido da atual vice-prefeita do município, Maria Celeste Cavalcante Alves (PSD).

O pedido de prisão e o inquérito contra o vereador está sobre responsabilidade da única promotora de Justiça de Cavalcante, Úrsula Catarina Fernandes Siqueira Pinto que ocupa o cargo da comarca do município há 18 anos. Um detalhe que chama atenção e pode comprometer a idoneidade do andamento do inquérito, e o fato de Úrsula ser casada com um primo de Cheim.

No momento vamos aguardar o desenvolvimento dos trabalhos da polícia e esperarmos que haja realmente um devido encaminhamento para realização de justiça e punição para todos os envolvidos, sejam eles autores e cúmplices.
Não podemos permitir que ocorra impunidade em todos esses casos, se preciso for vamos iniciar uma campanha de solidariedade paras meninas de Kalunga, pressionar as autoridades policiais e judiciais.

Máxima Solidariedade para Meninas de Kalunga!
Abaixo Violência contra nossas crianças e juventude! 




































Mais informações


Kassan 22/04/2015
Mumia Abu Jamal, resistência pela vida, resistência pelo povo negro e oprimidos!


Preste a completar 61 anos no próximo dia 21 de abril o estado de saúde do ativista preso Mumia Abu Jamal encontra-se em grave situação. Mumia está internado desde a data 30/03 no Schuylkill Medical Center, um hospital prisional no Estado de Filadélfia, após sofrer uma crise causada pela diabetes. Ele está em coma. Um fato a ser mencionado e que Mumia não tinha conhecimento em ter a doença até a eclosão da crise.

Devido a isso membros de sua família, incluindo sua esposa Wadiya Jamal e organizações que apoiam sua libertação acusam haver tido um comportamento deliberadamente negligente por parte da administração prisional sobre os cuidados da saúde do veterano militante da causa negra. O que colabora com essa acusação e que Mumia havia realizado um exame de sangue para tratar de um problema na pele, através desse simples exame seria possível detectar a doença, contudo foi escondida qualquer informação a respeito dele ser diabético. Essa omissão teve consequência diretas pois Mumia não teve acesso a alimentação nutricional adequada, medicamentos específicos e acompanhamento médico. 

As acusações não cessam apenas nisso, já internado Mumia Abu Jamal esta recebendo um tratamento não compatível para seu crítico estado de saúde que necessita do máximo de cuidados. Para rebater a todas as acusações, Susan McNaughton, porta-voz do Departamento responsável pela tutela das prisões estaduais da Filadélfia, limitou-se a declarar:  "Quando um preso se apresenta nos serviços clínicos com sinais e sintomas de uma doença séria, ele ou ela é adequadamente e imediatamente enviado ao hospital para ser tratado". Inicialmente após sua internação, seus familiares foram proibidos de visitá-los, mas após intensa pressão foi revogado essa proibição. Apesar da fragilidade de sua saúde, Abu Jamal na UTI e mantido algemado a cama e vigiado 24 horas por dois guardas armados.


História de um genuíno revolucionário

Nascido como Wesley Cook no Estado da Filadélfia em 1954, seu envolvimento com a militância política começou aos 14 anos quando passa a integrar o núcleo do Partido dos Panteras Negra naquele estado. Por seu perfil inteligente é por possuir hábil capacidade para comunicação aos 15 anos foi promovido a posição de ''Tenente de Informação'' o que equivalia a ser um jornalista do partido. Ficou responsável pelo trabalho de edição e distribuição do jornal dos Panteras Negras entre as comunidades pobres. Incansável defensor de transformações revolucionárias da sociedade e usando o jornalismo como método de ativismo recebeu o apelido de  ''Voz dos sem voz'' que também era usado para seu programa de rádio.

Desde o surgimento os Panteras Negras sempre priorizaram o trabalho de comunicação, por isso criaram um órgão de imprensa próprio o jornal ''Black Panther'' que era vendido ao modico custo de 25 centavos. O jornal combinava várias notícias para o público, desde informações sobre comunidade local, relatando problemas pontuais como pobreza, racismo, é também realizava denúncias contra violência policial, abuso de poder pelas autoridades, havia espaço para política internacional, editoriais em solidariedade a causa de libertação de outros povos oprimidos. A linha editoral do jornal estava submetida a Eldridge Cleaver, Ministro da Informação do partido. O jornal cumpria a importante tarefa propagandística em expor para as massas populares os objetivos políticos da organização, conforme ditadas por Huey Newton, um dos fundadores do partido e que tinha a posição de Ministro da Defesa.

Pela natureza política revolucionária o Partido Partido Pantera Negra foi considerado a maior ameaça interna a segurança dos Estados Unidos. Eram considerados como ''terroristas domésticos'' de potencial periculosidade o partido se tornou alvo de forte repressão realizada pelo FBI (Federal Bureau of Investigation) sobre a chefatura de John Edgar Hoover.  Como diretor do FBI, J. Edgar Hoover já possuía um histórico em perseguir ativistas negros como Marcus Garvey, Martin Luther King, Malcolm X.

Durante a metade da década de 1970 o Partido dos Panteras Negras estava com sua unidade organizacional comprometida em função de acirradas disputas internas de poder, entre partidários de Huey Newton e os apoiadores de Cleaver.  Muitas dessas brigas entres os membros foram intencionalmente criadas e estimuladas como parte das ações de infiltração, espionagem e sabotagem feita por agentes do FBI. Mumia tentou se posicionar acima das lutas fraccionais, preferindo dar continuidade ao propósito pela qual o partido foi criado, contudo o ambiente hostil entre os integrantes tornou-se insuportável, e ele optou em sair formalmente do partido, contudo não abandonou sua consciência política.

Militante transformado em prisioneiro político

Em 1981 enquanto trabalhava como taxista, Abu Jamal presenciou seu irmão sendo agredido violentamente por policiais brancos durante uma abordagem. Diante da situação decide intervir pela vida do irmão, seguiu-se um tiroteio entre ele e a guarda policial. Mumia foi baleado é o policial branco Daniel Faulkner também alvejado por disparo, vindo a morrer no local. Testemunhas informam a presença de pelo menos dois homens brancos armados que não trajavam uniformes e efetuaram tiros, esses homens fugiram da local do confronto antes da chegada do reforço policial que prendeu Mumia ainda agonizando no chão. Ainda hospitalizado Mumia foi torturado por policiais para confessar que era o assassino de Faulkner.

Seu julgamento foi marcado por um processo com nítidas falhas jurídicas. Há começar pelo advogado designado pelo Estado para Mumia, não se empenhou em elaborar nenhuma consistente tese para defendê-lo, mas as aberrações continuaram, provas forjadas foram inseridas, testemunhas coagidas a alterarem o testemunho para criminalizar Mumia, um júri abertamente reacionário. A promotoria pediu pena capital, sendo aceita pelo juiz. Ficou nítido que sua condenação correspondia a uma retaliação por suas atividades do que realmente pela morte do policial. Foi transformado em um prisioneiro político, cuja execução serviria a mesma tática de atemorização de negros insurgentes antes da abolição da escravidão.

No corredor da morte, logo se iniciou uma turbulenta luta agora por sua vida. Inúmeros recursos foram feitos para anularem a sentença e impedir que fosse executado pelo Estado. Na prisão converteu-se ao Islã e aderiu ao atual nome.

Inconformados com a injustiça, coletivos militantes , entidades democráticas, intelectuais progressistas, ativistas independentes têm levado a cabo uma campanha por sua libertação a ''Free Mumia''. Em 2008 após uma revisão no processo e o reconhecimento de erros sua pena foi convertida para prisão perpetua. Mesmo atrás das grades de aço, a mente de Mumia Abu Jamal permanece conecta a todos os genuínos esforços dos oprimidos e explorados por mudanças. 

O que acontece com Mumia Abu Jamal, não e fato isolado. América racista tem reservado um terrorismo para para negros revolucionários dois destinos: prisão ou morte. Mumia e um prisioneiro político, mas também a ele se juntam na mesma condição: Sundiata Acoli, Mulutu Shakur, Veronza Bowers Jr, Kamau Sadiki, Kojo Bomani Sabbabu e Leonard Peltier um destacado militante da causa dos povos nativos.

Desde já vamos unirmos em uma corrente de pensamentos positivos para Mumia Abu Jamal. Por sua saúde, sua paz de corpo e espírito . Ele que tem sido um valente guerreiro á décadas.


Acessem: http://www.freemumia.com/



Kassan 03/04/2015

Há 50 anos o sistema tentava através de balas silenciar um dos grandes homens e militantes do Povo Negro no século XX. O assassinato de Malcolm X cumpria uma nefasta tentativa em se parar a ascensão um movimento de conscientização e libertação frente ao sistema de opressão instituído pela supremacia branca.

Sobre o Honorável Malcolm X podemos afirmar que sua morte física não significou o encerramento de tudo que ele foi capaz de transmitir. Sua retória, sua militância, seu compromisso são glórias de um legado que transcende fronteiras e temporalidade é encontra ventre fecundo em todas as mentes e corações daqueles devotados a cumprirem uma causa maior, a causa da liberdade. Do berço ao tumulo a vida do Honorável Malcolm X sempre foi uma vida de superações. Dor, desafios, riscos, perdas, ascensão é redenção, são componentes que o formaram a ser o que ele se tornou.  Seu nome está escrito na História.

Enquanto boas memórias conscientes existirem, não importam quantos decênios se passem, nada será possível de eliminar a semeadura feita por Malcolm que perdurará pela eternidade.


Malcolm X Eterno
Uma inspiração para sempre buscar,
Fonte inesgotável de orgulho exemplar,
Movido à perseverança que nunca cessava 
Altivo espírito forte na luta que nada ameaçava
Indicou que o certo caminho era insurgir
Voz poderosa para os inimigos que caia como zurzir
Honra resplandecente que o tempo não encerra
Forjou-se entre os ventos e fogo da guerra
Resistente guerreiro homem Shabazz
Profeta de nosso povo descanse em paz




Kassan 21/02/2015
Última batalha de Palmares!

Na madrugada de 06 de fevereiro de 1694, o bandeirante Domingo Jorge Velho, contratado pelo governo da Capitania de Pernambuco comanda um forte ataque sobre Macaco, maior aldeamento existente em Palmares. O perímetro de Macaco era fortificado por uma dupla muralha feita de pau a pique, com vários baluartes e somente três portas que também eram fortificadas. Ainda era protegido à distância por postos de observação. Uma possível falha de sentinelas permitiu o avanço dos homens de Jorge Velho até o desencadear do derradeiro ataque.

Através de disparos de canhões foram abertas brechas na fortificação de Macaco, permitindo que as forças bandeirantes conseguissem penetrar para dentro do local, assim dando início a sangrentos combates corpo a corpo com os quilombolas. Para proteção do quilombo os soldados de Palmares se especializaram em táticas características de guerrilha, aproveitando a vegetação para camuflagem e realização de ataques furtivos é não tinham experiência em combate em campo aberto. Acuados os combatentes palmarinos tentaram utilizar uma rota de fuga por um precipício. O resultado foi uma drástica perda de vidas, muitos despencaram por causa da falta de iluminação e outros foram arremessados para morrerem.

A tomada de Macaco, maior dos mocambos que formavam Palmares, marcaria sua queda, que por aproximadamente 94 anos resistiu a investidas realizadas por holandeses¹ e portugueses. Zumbi como comandante máximo, sucessor de Ganga Zumba lidera pessoalmente a última tentativa de resistência. Após vários ataques fracassados em destruir o quilombo em ocasiões anteriores, Domingo Jorge Velho consegue organizar uma tropa bem armada e com homens experientes. Apesar da voracidade da ofensiva, Zumbi consegue escapar com um pequeno grupo de companheiros. 

O destino dos sobreviventes de Palmares foi decidido de forma cruel, escravos fugidos foram devolvidos para seus antigos senhores da região, foram realizadas execuções sumárias para potencializar o terror provocado pela derrota. Sem possibilidade em reerguer a mesma estrutura que permitiu a existência do quilombo, Zumbi e seus aliados passaram a realizar pequenos ataques sobre fazendas para se manterem, ao mesmo tempo que fugiam da perseguição das autoridades. Em 20 de novembro de 1695, após informações cedidas por traidores, Zumbi e capturado pelo bandeirante André Furtado, sendo morto e tendo sua cabeça cortada para ser exposta em praça pública na cidade de Recife.



Referência Bibliográfica

FREITAS, Décio. Palmares - A Guerra dos Escravos. 5 Ed. Porto Alegre. Editora Graal, 1971, 224 p.
SANTOS, Joel Rufino. Zumbi. 7 Ed. São Paulo: Editora Moderna, 1941.

1* O Brasil colônia foi invadido pelos holandeses por duas vezes. A primeira em 1624 ocorreu a posse de Salvador, que durou um ano, e em 1630 foi tomado Pernambuco, pelo qual conseguiram controlar quase todo o Nordeste até serem expulsos em 1654. A ocupação holandesa tinha como principal objetivo a comercialização do açúcar para Europa.


Kassan 06/02/2015
180 anos uma Jihad era planejada no Brasil!

Cidade de Salvador ano de 1835, um grupo de africanos muçulmanos mantidos em condição de escravos, decidiram organizar uma insurreição armada para se libertarem do cativeiro. Essa tentativa de levante ficaria conhecido como Revolta dos Malês.

O termo “male” ou “imalê” também utilizado é de origem do idioma ioruba, significa literalmente muçulmano. O Islã chegou ao Brasil pela primeira vez através dos africanos trazidos pelo comércio atlântico de escravos.

Inicialmente os primeiros muçulmanos eram Hausas, mas com a propagação do Islã em terras habitadas por Iorubás, passaram a desembargar também Nagôs que professavam o islamismo. Apesar das tentativas em catequiza-los ao catolicismo como parte do processo de dominação, esses africanos conseguiam as duras penas se manterem fies as suas práticas religiosas, alguns simulando terem aderido a religião europeia. A população muçulmana em Salvador reunia peculiaridades que a diferenciavam em certos aspectos das demais camadas de africanos escravizados na época. O conhecimento do idioma e escrita árabe era um deles.

Os muçulmanos que conspiravam a revolta tinham planos em estabelecer um Estado regido por leis islâmicas, sem a participação de brancos, católicos, mulatos. Alguns desses islâmicos tinham como influência de inspiração o africano Usman Dan Fodio (1754-1817), escritor, mestre religioso, reformador social. Usman Dan Fodio foi fundador do Califato de Sokoto em 1809, um poderoso Estado Islâmico que abrangeu os territórios em Burkina Faso, Camarões, norte da Nigéria. Com uma população de aproximadamente 10 milhões de habitantes em seu auge, Dan Fodio construiu este império através do uso da Jihad. Califato de Sokoto perdurou até 1903 até ser destruído pela colonização britânica.

Salvador, BA, foi a primeira capital do Brasil de 1549 á 1763 sendo uma cidade essencialmente movida a trabalho de mão de obra escrava. Os escravos ocupavam diversas esferas laborais, dos afazeres domésticos ao trabalho executado tanto nas ruas como no setor extrativista e agrícola. Esse modelo econômico criou uma dependência intrínseca para o funcionamento da cidade. Isso fez com que a massa de origem africana ser numerosamente maior do que a população originária europeia. O convívio nunca ocorreu de maneira pacifica, e sempre houve aguda resistência africana. No início do século XIX houve registro de tentativas de rebeliões a escravatura que foram esmagadas com extrema violência por parte do Estado, a repressão ao Quilombo do Urubu em 1826 é exemplo dessa política opressora.

Assim como perdurava os cultos ao panteão de Orixás, através de sincretismo com santos católicos, os “Malês” se mantinham em esforço para não perderem a fé no Profeta Maomé. Aos olhares distantes dos capatazes, os muçulmanos faziam das senzalas uma espécie adaptada de madrassa (escola de aprendizagem corânica). Além de estudarem e realizarem práticas religiosas, também fomentavam planos conspirativos para se livrarem da opressão imposta pelos brancos. Os mulatos, não eram bem vistos pelos Malês, pois eram tidos como traidores em potencial que ajudariam aos senhores da Casa Grande ao invés de participarem da luta por libertação. O conhecimento da linguagem árabe permitia estabelecer e estender uma comunicação necessária para dar continuidade à subversão.

Os proeminentes líderes da revolta eram Ahuma, Manuel Calafate, Luis Sanim e Pacífico Licutã, Elesbão do Carmo, Luiza Mahin. Houve a distribuição de tarefas entre os membros, alguns ficavam a cargo de recrutar mais adeptos e outros tinham a missão em obter armas é munições. Os preparativos eram feitos de forma minuciosa até que se alcançasse um número considerável de adesões para os combates. O início da ofensiva havia sido marcado para uma data importante para o islamismo, fim do Ramadan. Porém uma delação por parte de uma mulher negra conduziu a força policial até a residência de Calafate na madrugada de 24 para 25 de janeiro. Surpreendidos os muçulmanos que estavam presentes no local tiverem que se mobilizar sem estarem totalmente preparados. Ocorreu o primeiro embate armado entre revoltosos é a policia. Pacífico Licutã estava aprisionado no momento do início da insurreição, seus companheiros após resistirem á primeira investida da polícia, seguiram para tentar liberta-lo na prisão municipal.

Uma forma de conseguirem se identificar era que levavam consigo amuletos com inscrições em árabe e passagens do Alcorão. Com os planos de ação atrapalhados pela intervenção, os revoltosos tiveram que lutar descontroladamente, não havendo uma coordenação específica para atividades, as autoridades de Salvador já estavam cientes e preparavam força máxima para esmagá-los. Os Malês até conseguiram ocupar um quartel, mas não reuniram condição de manterem posição. Com todo o aparato do Estado e também com a ajuda de milicianos civis destinado para repressão, aproximadamente 500 integrantes da revolta foram cercados nas proximidades do Quartel da Cavalaria da Água do Menino, neste local ocorreu à batalha decisiva que selou a derrota militar dos muçulmanos. Resultado de perdas humanas foi de 7 mortos do lado das tropas do Estado, e 70 negros, 281 capturados deles foram capturados. A retaliação seguida ao sufocamento da revolta foi brutal. Os líderes foram condenados a pena de morte, os negros livres foram deportados do Brasil para África, açoites foram ordenados até para muçulmanos que não tiveram ligações com a revolta. Seguiram também inúmeras medidas visando impedir a realização de novos levantes com a presença de islâmicos. Intensificaram a vigilância a fim de impossibilitar a reunião de muçulmanos seja por qual motivo fosse, negros foram proibidos de circularem pelas ruas após determinada hora da noite.

Luíza Mahin, mulher de luta e resistência!

Entre os nomes destacáveis na Revolta dos Malês um que sobressai foi de Luíza Mahin. Provavelmente pertencente à etnia jeje, os dados sobre sua origem são divergentes, alguns apontam que ela foi transportada para o Brasil, já na condição de escrava, outros se referem a ela como sendo natural da Bahia e tendo nascido livre no ano de 1812. Em 1830 deu a luz a um filho, Luis Gama, que mais anos posteriores se tornaria um importante advogado da causa abolicionista. Sobre a mãe, Luis Gama escreveria as seguintes palavras: ''Sou filho natural de negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luíza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como a neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa."

Pelo seus feitos Luíza Mahin assumiu um dimensão mítica, lendária entre os negros de Salvador. Motiva por uma destemida inteligência estava sempre articulando revoltas contra o poder branco. Assim como há divergência sobre sua origem, também pesam dúvidas sobre seu destino após a Revolta dos Malês, informações desencontradas apontam sua fuga da Bahia em direção ao Rio de Janeiro a onde teria dado continuidade a suas atividades insurrecionais, por isto sendo presa e enviada para África onde permaneceria até o ano de sua morte, sem confirmação de data exata.

Referência bibliográfica

JOÃO, José Reis. Rebelião escrava no Brasil: a história do Levante dos Malês (1835). São Paulo: Companhia das Letras, 2003, 665p.

MOURA, Clovis. Rebeliões da Senzala, quilombos, Insurreções, Guerrilhas. São Paulo: Editora Zumbi, 1959, 304p.


FREITAS, Décio. A Revolução dos Malês. Porto Alegre: Movimento, 1985. 106p.



Kassan 27/01/2015