Não
ao Auto-ódio!
Para alguns o desejo pelo embranquecimento parece ser
algo encerrado. Algo pertencente ao passado. Mas o que pensam assim se enganam
profundamente.
Recentemente o desejo pelo embranquecimento pode ser
constatado pela cantora nigeriana Dencia, ela é garota-propaganda de um
creme de nome 'Whitenicious', pela versão oficial o creme oferece a remoção de
manchas escuras da pele, mas tem sido na prática usado para
embranquecer a tez. A própria Dencia demonstra diretamente os efeitos do uso do
produto ''cosmético''. A coloração de sua pele esta ficando muito
clara, um tom bastante pálido. O creme vendido em pote pequeno ou grande possui
um preço alto para os padrões nigerianos de consumo, mas muitas mulheres
nigerianas e também homens com poder aquisitivo estão aderindo ao seu uso do
creme. Quando questionada que o creme pode desencadear uma procura insana por
embranquecimento, Dencia e sucinta em sua resposta: "Eu não me importo,
porque são eles que estão me trazendo dinheiro." Há suspeitas que o creme
possua em sua fórmula ingredientes que podem provocar câncer.
A busca pelo clareamento da pele com uso de cremes é uma
''febre'' na Índia. O país mais populoso do mundo e assombrado por uma cultura
em que a pele em tonalidade caucasiana e considera como sinônimo de pureza,
beleza. E vasto o comércio indiano desses produtos que aumenta a cada ano
ganhando mais consumidores.
O que leva uma pessoa de pele escura a tentar alterar a
cor de sua pele? Resposta simples o Auto-ódio! O auto-ódio produz uma carga de
rejeição patológica tão intensa a ponto de a pessoa tentar destruir sua própria
natureza, utilizando métodos artificiais aniquilar suas características
físicas.
Primeiramente o implanta o auto-ódio na mente? E a
branquitude que exercendo seu poder aliena, desequilibra é conduz a uma
profunda crise cultural, identitária, psicológica. Essa questão esta ligada a
relação de poder que divide grupos entre dominadores e dominados. O dominado
preso a uma realidade opressiva que não o permite vislumbrar alternativas,
projeta na imagem de seu opressor a figura da materialização da superioridade,
do status e consequentemente da beleza. O auto-ódio se inicia no período mais
vulnerável da vida, na infância, são as crianças que estando em fase de
formação da subjetividade, personalidade sofrem a lavagem cerebral que as
tornam os adultos com complexo de inferioridade.
Resistir
e eliminar o auto-ódio sempre foi uma das bandeiras do Movimento Político
Negro.
Na década de 1930 escritores de origem africana,
residentes na França iniciam um movimento pela valorização da cultura africana.
Esse movimento recebeu o nome de Negritude é os escritores que estavam a frente
eram Aimé Césaire, Léopold Sedar Senghor, Léon-Gontran Damas. A negritude foi
um marco na resistência antirracista e anticolonialista ao defender a plenitude
da humanidade dos negros que na época eram relegados à categoria de
sub-humanos
.
No continente americano, especificamente na Jamaica,
nasce Marcus Garvey que levaria uma poderosa mensagem de orgulho para pessoas
negras do mundo inteiro. Garvey já anunciava através de seus discursos de que a
pele negra não era um emblema de vergonha, mas um símbolo da glória nacional.
Nos Estados Unidos na década de 1960, surge o ''Black is
Beautiful'' para demolir os preconceitos contra a estética negra. Cabelos antes
alisados, foram deixados em estado natural, assumindo a conformidade crespa,
uma contestação aberta contra a submissão cultural. E foi James Brown a embalar
essa geração rebelde ao canto de ''I'm Black and I'm Proud''.
Não podemos esquecer das enérgicas palavras de Malcolm X.
Ele insistia que o amor próprio, orgulho eram chaves para corrigir a
mente dos afro-americanos castigada pela influência do racismo. O próprio
Malcolm na juventude durante a fase em que viveu na cidade de Detroit
manifestou um flerte com o auto-ódio, ele alisada os cabelos, deixou de se
relacionar com mulheres negras, para ficar com uma mulher branca. Já tendo
restaurado sua consciência e assumido uma postura militante, Malcolm com toda perspicaz
eloquência denunciou o auto-ódio como um mecanismo de empoderamento mental
sobre a comunidade afro-americana, suas palavras eram:
''Quem te ensinou a odiar a textura do seu cabelo? Quem
te ensinou a odiar a cor da sua pele a tal ponto que você alveja para ficar
mais branco. Quem te ensinou a odiar a forma do seu nariz e lábios ? Quem te
ensinou a odiar você mesmo da cabeça aos pés? Quem te ensinou a odiar os seus
iguais? Quem te ensinou a odiar a sua raça tanto que vocês não querem estar
perto uns dos outros? É bom que você começar a se perguntar quem te ensinou a
odiar o que Deus te deu.''
Recentemente a ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante,
Lupita Nyong’o fez um emocionante pronunciamento em defesa da aceitação da
beleza negra.
Não podemos aceitar desculpas, pretextos nem justificativas a busca pelo embranquecimento
e auto-ódio!!!
KASSAN 13/03/2014