Angela Davis, mulher revolucionária! 

Angela Davis e uma mulher que personifica bem a radicalização do movimento político dos afro-americanos entre as décadas de 1960 e 1970. Sua imagem transpirava rebeldia, com seus vastos cabelos crespos era afirmação do Black Power, do poder para o povo. Era um tempo de turbulência revolucionária onde a opressão racista seria combatida pela insurgência da juventude oprimida. Por seu protagonismo vigoroso, por sua militância inabalável, Angela Davis não pode ter seu nome apagado da história de luta e resistência tanto nos Estados Unidos, como em todas as partes do mundo solidárias a perspectiva de mudança econômica, política e social. 


Angela Yone Davis nasceu em Birmingham, Alabama em 20 de janeiro de 1946. Filha mais velha de um total de quatro irmãos de um empreendedor do setor de mecânica de automóvel de nome B. Frank Davis e de uma professora chamada Sally E. Davis. Desde criança, Angela Davis já soube o que era racismo e o que ele ocasionada brutalmente contra a comunidade negra. O bairro a onde ela e sua família moravam, era conhecida como ''Dynamite Hill'' (Colina Dinamite) essa denominação se devida aos constantes ataques á bombas realizados pela Ku Klux Klan a casas de afro-americanos. Era uma prática terrorista que os integrantes da Ku Klux Klan, utilizavam para intimidar a comunidade local a não aderirem a iniciativas pelos direitos civis.


Sua mãe era ativista da NAACP ( Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor), organização mantinha na ilegalidade no Alabama. Angela Davis durante a infância frequentou escolas segregadas em Birmingham até que em 1959, se muda junto com a mãe para New York, Sally E. Davis foi obter um mestrado pela Universidade de New York e Angela para continuar seus estudos, foi matriculada na Elizabeth Irwin High School, em Greenwich Village, também em Nova York. A escola de Elizabeth Irwin tinha um histórico de presença de atividade política de esquerda, tanto que muito de seus professores sofreram perseguições durante a fase do macarthismo. Durante seu período de estudante Angela Davis, foi introduzida a leituras políticas de matiz socialista e participou de grupos de debate, toma gosto pela compreensão da filosofia, se torna comunista.

Ao se formar no ensino médio em Elizabeth Irwin, em 1961 é premiada com uma bolsa integral para cursar filosofia na Universidade Brandeis em Waltham, Massachusetts. Ao chegar à universidade, ela era apenas uma de um total de três estudantes negros ingressados como calouros.

Em 15 de setembro de 1963, como forma de retaliação ao movimento pelos direitos civis, supremacistas brancos atacaram com bombas uma igreja batista afro-americana em Birmingham, resultando em vários feridos e na morte de 4 meninas, esse atentado repercutiu nacionalmente, provocando reações de repúdio na opinião pública.  Ao ler as notícias do ataque, Angela reconheceu os nomes das vítimas, muitos dos fieis da igreja eram pessoas conhecidas dela e de sua família. Isso a abalada profundamente e reforça sua disposição em lutar por transformações sociais.

Angela assiste a uma palestra de Malcolm X em Brandeis. Palestrando para uma plateia branca que não aceitou muita das ideias e argumentos propostos por Malcolm mas Angela se impressiona com a retórica usada por ele.  Ainda em 1963 tem a oportunidade para estudar na França através de um intercâmbio, estuda nas Universidades de Paris e de Sorbonne, ao mesmo tempo em que participa de movimentos de protestos ao lado de estudantes franceses, em 1964 retorna para os EUA. Em 1965 obtém o diploma de filosofia pela Brandeis, parte para Europa novamente em 1965 para estudar, nessa segunda vez se matricula na Universidade de Frankfurt. Durante sua estada na Europa, Angela Davis entrou em contato com muitos estudantes ativistas, militantes de organizações socialistas, fato que fortaleceu sua convicção no socialismo como orientação política. 

Após o término dos estudos na Alemanha e antes de fazer seu retorno para os Estados Unidos, realiza uma parada em Londres, para assistir uma conferência sobre libertação negra que teria como participantes o militante norte-americano Stokely Carmichael é o britânico Michael X. Angela assisti à conferência, mas se desaponta com as considerações levantadas pelos nacionalistas negros que classificavam o comunismo como mais uma ideologia de dominação branca. Para Angela o nacionalismo era uma barreira em muito contra-revolucionária que impedia a unidade internacionalista da classe trabalhadora. O socialismo construiria um sistema igualitário-multirracial.

Nos Estados Unidos, se filia ao Partido Comunista, Angela decide cursar mestrado na Universidade da Califórnia e posteriormente seu doutorado em filosofia pela Universidade Humboldt, em Berlin Oriental. Em 1969 recebe uma indicação para trabalhar como professora no departamento de filosofia na Universidade da Califórnia (UCLA). No mesmo ano descobri a existência de uma jovem organização política negra surgida na cidade de Oakland, Califórnia. As reivindicações sociais e posicionamentos políticos dessa organização a atraem, essa organização era o Partido dos Panteras Negras e Autodefesa, Angela aderi ao partido. Com discurso fortemente feminista, anticapitalista, sua crença se consistia que a luta pela liquidação do racismo do machismo, estava ligada diretamente a luta pela destruição do capitalismo. Viaja para Cuba, onde se identifica com os esforços do povo cubano em construir uma nova sociedade sem exploração econômica. Em pouco tempo Angela se destaca entre os Panteras Negras, alcançando notoriedade ao ponto dos líderes fundadores do partido Huey Newton, Bobby Seale. Na época a Califórnia tinha como governador o republicano Ronald Reagan, que anos mais tarde se tornaria presidente dos Estados Unidos, Reagan ferrenho anticomunista, reacionário utiliza seus poderes de governador é ordena que Angela Davis, seja demitida da Universidade da Califórnia e impedida de ser contratada por qualquer outra instituição pública de ensino do Estado. Esse fato favoreceu ainda mais sua exposição nos círculos revolucionários dos Estados Unidos, como símbolo da perseguição política.

Em 1970 Angela toma conhecimento da história de um grupo de prisioneiros negros, detido na prisão de Soledad, era um grupo de presos com consciência política que lutavam com objetivo em desenvolver uma resistência política dos presidiários negros dentro do sistema carcerário. Esse grupo era conhecido como ''Irmãos Soledad'', e eram acusados de terem matado um guarda prisional em retaliação ao fato dele ter ajudado no assassinato de um companheiro de luta. O líder desse grupo atendida pelo nome de George Jackson, um militante de história extraordinária. Caso fosse comprovada a participação desses presos no assassinato do guarda, todos poderiam ser sentenciados a morte. Para evitar esse desfecho, Angela Davis decide tomar parte da luta dos prisioneiros. Com a ajuda da família de George Jackson estabelece um Comitê de Defesa, para levantar uma campanha popular contra a possível execução dos “Irmãos Soledad”. Angela e Jackson estreitam contatos até que o envolvimento entre ambos se torna um forte relacionamento amoroso. Apesar da campanha de defesa ir gradualmente ganhando apoio, o sistema judicial era racista e também contra-revolucionário ao extremo é executar George Jackson e seus companheiros serviria como uma advertência para outros que tentassem lutar para modificar o sistema de encarceramento. Angela foi proibida de visitar Jackson na prisão e os dois nunca mais se iriam se ver pessoalmente. Na antecedência do julgamento que definiria a vida ou morte de George Jackson, seu irmão caçula, Jonathan Jackson ao lado de Panteras Negras, invadem um tribunal e fazem refém o juiz Harold Haley o objetivo da ação era trocar o juiz pela liberdade dos Irmãos Soledad. A polícia intervém na situação e uma troca de tiros se inicia, Jonathan Jackson seus camaradas e o juiz são mortos. As armas utilizadas no sequestro do juiz estavam registradas no nome de Angela, porém ela não participou da ação, apesar disso após uma investigação tendenciosa do FBI, seu nome e incluído como coparticipante, sua prisão foi decretada. Para não se capturada, Angela foge dando inicio a uma perseguição implacável, o FBI coloca seu nome na lista dos 10 criminosos mais procurados da América. Após uma caçada que mobilizou polícias locais, agentes federais, Angela Davis e presa no estado de Nova York.

George Jackson não seria sentenciado a pena de morte, mas seria morto a tiro após comandar uma rebelião na prisão de San Quentin em 1971.

As acusações impostas a Angela poderiam mandá-la para a câmara de gás. Para inibir isso o Partido dos Panteras Negras, inicia uma campanha exigindo sua libertação, o coordenador dessa campanha era Eldridge Cleaver, Ministro da Informação do partido que anos antes com êxito tinha feito uma campanha similar exigindo a liberdade de Huey Newton. Depois de passar 18 meses atrás das grades, em 4 de junho de 1971, Angela foi absolvida de todas as acusações por um júri todo branco. Depois de sua absolvição, por divergir sobre os caminhos a serem seguidos na luta pela revolução, Angela é Huey Newton se desentendem. Angela abandona os Panteras Negras, mas se mantém filiada ao Partido Comunista. Em 1981 publica um livro que se tornaria referência para o movimento feminista da época, intitulado: ''Mulheres, raça e classe''. Em 1980 e 1984 concorre como vice-presidente dos Estados Unidos na chapa do Partido Comunista. Consegue retomar seu emprego como professora na UCLA, também leciona em outras instituições.

Angela Davis não parou de lutar por aquilo que acredita. Participa de palestras é eventos nos Estados Unidos e também em diversos países, levantando as mesmas bandeiras, condenando o capitalismo como um sistema incapaz de conduzir justiça e igualdade para todos na sociedade, defendendo a destruição da opressão machista é advogando a libertação de todos os presos políticos nos EUA.



Livros de referências:

If They Come in the Morning: Voices of Resistance (1971)
Angela Davis: An Autobiography, Random House (1974)
Joan Little: The Dialectics of Rape (1975)
Women, Race, & Class (1983)

Women, Culture & Politics, Vintage (1990)



Kassan 26/01/2014

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