Eterno
Genial Pixinguinha!
Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha – cujo apelido
é uma derivação do dialeto africano “Pinzindin” (menino bom) dado por sua avó. Por sua criatividade e desbravamento á Pixinguinha e mais do que merecido a
denominação de arquiteto da música popular brasileira.
Pixinguinha
desenvolveu uma rica trajetória artística sua contribuição para a
formação da identidade da autêntica musicalidade brasileira é incomparável.
Pelo talento descomunal foi admirado desde o compositor Heitor Villa-Lobos até
o jazzista norte-americano Louis Armstrong, os parceiros Vinicius de Moraes e
Tom Jobim também receberam instruções e influência do genial Pixinguinha.
Sua vocação para música manifestou-se de forma precoce
tendo sido algo herdado de sua família. Com 12 anos já tocava com destreza o
cavaquinho, com o pai prendeu a tocar flauta que foi fundamental para que o
mesmo aprimorasse o chorinho, mas não se limitou apenas a estes instrumentos
também apreendeu a tocar saxofone por inspiração no Jazz. Soma-se a isso o domínio que teve em outros
instrumentos 'não-eruditos' como frigideiras, tamborins, cuícas e gogôs. Soube
fazer uma mistura harmoniosa de todos em um refinamento extraordinário.
Sua primeira composição foi escrita com 13 anos no ano de
1911, o nome era “Lata de leite” que era referência o costume dos “chorões”
(assim chamados os membros dos grupos de chorinho) de beberem leite deixado às
portas das casas de outras pessoas quando de madrugada retornavam as suas
moradias após uma noite de apresentação. Com apenas 14 anos já assumirá a
direção de uma harmonia de rancho carnavalesco e com 17 tocava em orquestras em
casas noturnas do Rio de Janeiro, tornando-se muito famoso na zona boêmia da
Lapa.
Sua carreira teve uma grande guinada quando em 1919 passa
a integrar o grupo ''Os oito Batutas'' que se apresentava nas salas de espera
de cinemas. A melodia feita era tão boa que fazia com que a plateia presente esquecesse-se
de assistirem o filme que na época eram mudo, para prestarem mais atenção na
exibição do grupo. Foi nesta mesma época que iniciou uma combinação de
experiências rítmicas, uma verdade salada musical que rendeu a criação de
melodias como: ''Carinhoso'', ''Rosa'',
(instrumental) e ''Sofres porque queres''. O sucesso foi arrebatador, fazendo
com que os ''Os oito Batutas''
viajassem para Paris em 1922 para um breve período de alguns dias de
apresentações, mas os franceses gostaram tanto que do grupo ficou 6 meses se
apresentando em casas noturnas na capital francesa.
A justa projeção de Pixinguinha na época ultrapassava os
limites impostos pelo racismo que resignavam o negro a completa subalternidade.
Pixinguinha era netos de escravos. Apesar da temporada de sucesso na Europa, ao
regressar houve protestos por parte de membros da elite branca brasileira que
inclusive chegaram a solicitar junto ao Ministério do Exterior que Pixinguinha
fosse proibido de viajar para fora do Brasil para apresentar sua música,
consideravam ultrajante que um ''preto'' fosse associado a música brasileira
que deveria permanecer puramente europeia. Um episódio que marcou a vida de
Pixinguinha foi quando ele e seu grupo foram barrados de entrar pela porta da
frente de um grande hotel carioca e foram obrigados a entrarem pela porta do
fundo do mesmo, esse episódio o decepcionou tão profundamente que o levou a
compor a música ''Lamentos'', para qual Vinicius de Moraes escreveu uma letra
30 anos depois. Mesmo abalado o mestre não deixou isso interferir em sua
produção, logo se seguiram as novas e mais empolgantes composições como:
''Amigo do Povo'', ''A vida é um buraco'',''Benguelê'', ''Cafezal em flor'' (
feita em parceria com Eugênio Fonseca), ''Conversa de crioulo'', ''Festa de
branco'' (em duo com Baiano), ''Patrão prenda seu gado'' (criada com Donga e
João da Baiana), ''Vou vivendo'', ''Fala baixinho'', ''No elevador''.
Com um ímpeto incansável em desenvolver cultura,
participou de vários grupos musicas como ''Orquestra Típica Pixinguinha-Donga''
(1928), os ''Diabos do Céu'' (1930), a ''Guarda Velha'' (1932). Assumiu de maneira pioneira a função de orquestrador exclusivo de gravadora de discos pela RCA e foi fundador do arranjo de música.
Em 1971 sua esposa Beti, companheira durante 45 anos
sofre um enfarto, o coração de Pixinguinha também não deixa de funcionar bem.
Beti falece em junho de 1972, abalando ainda mais a saúde do grande mestre. Em
17 de fevereiro de 1973, durante um batizado, em pleno Carnaval, Pixinguinha
passa a se sentir mal, com muitas dificuldades para respirar. O coração o
deixou-o na mão e parou de bater aos 75 anos em 17 de fevereiro de 1973. Por
ter engrandecido tanto o gênero que data de nascimento de Pixinguinha também e
celebrado o Dia Nacional do Choro.
A obra de Pixinguinha não se encerrou em si mesma, ela
foi o fio condutor para que outros demais compositores erguerem novos edifícios
musicais sobre a sua pesquisa e a construção da gênese da MPB. Que Pixinguinha
esteja plenamente imortalizado na história da música. Seu legado criativo sirva
como uma fortaleza contra todas as tentativas que os todos preconceituosos e racistas
em geral tendem a fazer em ocultar ou diminuir a importância do gênio africano
em nossa vida cultural.
KASSAN 23/04/2014