Independência
do Haiti
A Revolução
Haitiana foi a rebelião de escravos mais bem sucedida no Hemisfério Ocidental. A
população mantida em regime de escravidão iniciou sua insurreição em 1791 durando
até 1803. O processo de libertação foi percorrido depois de encarniçadas lutas,
após o término dos combates o Haiti entraria para a história, como sendo o
primeiro país do continente americano a abolir a escravidão, também sendo o
único país cuja ruptura com o domínio da metrópole foi realizada por escravos. A revolução Francesa iniciada em 1789 teve
influência para a revolução Haitiana, pois
os novos conceitos políticos emanados pela França durante o período revolucionário
ecoaram sobre o Haiti até então a mais prospera colônia sobre controle francês.
No século 18,
Saint Dominigue, como o Haiti era então conhecido, tornou-se mais rica colônia
da França, principalmente por causa da sua produção de açúcar, café, índigo e
algodão gerada por uma força de trabalho escrava. Quando a Revolução Francesa
eclodiu em 1789 havia cinco conjuntos distintos de grupos de interesse na
colônia. Havia plantadores brancos - que possuía as plantações e os escravos -
e petit blancs, que eram artesãos, comerciantes, pequenos agricultores,
profissionais como advogados, professores, juntos eles formavam a camada economicamente
média da população. Alguns deles também possuíam alguns escravos. No total os petit
blancs compunham aproximadamente 40.000 dos moradores da colônia. Muitos dos
brancos em São Dominigue iniciaram um tímido apoio a um movimento de
independência em circunstância aos crescentes aumentos tributários que a França
impôs ia aplicando sobre a colônia, também houve a proibição da prática
comercial com outros países. O Haiti poderia apenas comercializar com a metrópole.
Os latifundiários também começaram a se sentir prejudicados, pois suas
atividades econômicas ficaram limitadas, não havendo outra possibilidade de
comércio os preços dos principais produtos especialmente o açúcar ficava estagnado,
enquanto os receptores na metrópole lucravam com esse monopólio. Além disso, a
população branca de Saint-Dominique não tinha nenhuma representação na França.
Apesar de suas chamadas para a independência, tanto os latifundiários quanto os
petit blancs permaneceram comprometido com a manutenção do escravagismo.
Os três
grupos que formaram a população eram de ascendência africana, aqueles que
estavam livres, aqueles que eram escravos, e aqueles que tinham fugido. Havia aproximadamente
um total de 30 mil negros livres em 1789. Metade deles eram mulatos é muitas
vezes eles eram mais ricos do que o petit blancs. A população escrava estava em
torno de 500.000. Os escravos fugitivos eram chamados “marrons”, para escaparem
dos trabalhos forçados tinham ido para as montanhas é regiões isoladas,
passando a viver da agricultura de subsistência. Devido a condições bárbaras a
qual os africanos eram mantidos o Haiti tinha
um histórico de rebeliões violentas. Várias táticas de resistência foram usadas
destruição das ferramentas de trabalho, incêndio das plantações, envenenamento dos
senhores escravagistas. Essa continua
tensão de classe foi aumento conforme também ia se incrementando o aumento da
produtividade açucareira que demandava de mais mão de obra. O Haiti estava a
beira da eclosão social.
Inspirado
pelos acontecimentos na França, uma série movimentos revolucionários surgiram
simultaneamente na ilha, apesar disso havia diferenças políticas entre eles. Em
comum todos se baseavam na "Declaração dos Direitos do Homem." para justificar
a necessidade de independência. Um acontecimento favoreceu ainda mais as
aspirações da colônia quando a Assembléia Geral em Paris aprovou uma legislação
que deu às várias colônias uma determinada autonomia. Essa medida beneficiou os
grandes proprietários agrícolas que conquistaram então uma representação
política para seus interesses. Em Saint Dominigue essa medida não foi muito bem
recebida entre os blancs petit, pois isso reforçava a hegemonia do poder
político dos latifundiários.
Essa
saturação permitiu a articulação radical, exigindo o rompimento incondicional
com a França, nesse ponto surge a liderança de um ex-escravo de nome François-Dominique Toussaint L'Ouverture reuniu
algumas dezenas de homens formando assim o embrião de um exército. Em 21 de
agosto de 1791 iniciaram ataques guerrilheiros contra as autoridades coloniais.
Em um avanço em 1792 as tropas de L'Ouverture á controlavam um terço da ilha.
Apesar de reforços da França a área da colônia detidas pelos rebeldes continuou
a crescer devido a adesão cada vez maior de escravizados. Para prosseguir
mantendo sua posse sobre a ilha o exército francês aplicou as mais cruéis retaliações,
os britânicos com receio que a insurgência negra pudesse chegar até suas colônias
no Caribe especialmente a Jamaica, saíram em auxilio aos franceses. Em 1801 L'Ouverture expandiu a revolução para além
do Haiti, alcançando a colônia espanhola de Santo Domingo (atual República
Dominicana). Em Santo Domingo foi aboliu a escravatura sendo em seguida François-Dominique Toussaint, declarado governador-geral de toda a ilha de Hispaniola como era
conhecido o território a onde ficava tanto o Haiti quando a Santo Domingo.
(François-Dominique Toussaint L'Ouverture)
Por
iniciativa dos Jacobinos os partidários mais radicais da revolução foi abolido
a escravidão das colônias, apesar dessa medida não ter sido seguido a risca nos
territórios coloniais. Naquele momento, a Revolução Haitiana havia sobrevivido
ao fim da Revolução Francesa, que tinha sido a sua inspiração. O período revolucionário
francês se encerra em 1799, através do Golpe do Brumário Napoleão Bonaparte ascende
ao poder tornando-se o governante da França primeiro como Cônsul em seguida
consolidando-se como imperador. Napoleão traçava seus planos de expansão
imperial é para obter sucesso necessitaria de recursos econômicos, voltou suas
atenções para as colônias que forneceriam ajuda substancial a esse esforço, seu
objetivo então era de reinstaurar a escravidão. Para concretizar essa medida
envia o general Charles Leclerc, com um contingente de 43.000 soldados. Capturar
L'Ouverture é voltar o regime de escravidão eram as metas a serem alcançadas.
Após intensa busca L'Ouverture oi capturado é enviado à França, onde chegou em
2 de julho de 1802. Devido às péssimas condições do cárcere morreu de pneumonia
em 1803.
Apesar de sua
morte um de seus principais generais Jean-Jacques Dessalines, também um ex-escravo, prosseguiu conduzindo as tropas
revolucionárias, em 18 de novembro de 1803 ocorreu a heróica Batalha de
Vertieres, onde as forças francesas foram derrotados. Em 1 de janeiro de 1804,
Dessalines declara a nação independente a renomeado para Haiti. Sem mais disposição de
seguir com os planos de recuperar a colônia, França reconhece sua independência. Nesse ponto o Haiti, adentra a
história mundial sendo a primeira república negra do mundo, é a segunda nação
do hemisfério ocidental (depois dos Estados Unidos) a ganhar a sua libertação de uma potência européia.
No entanto a
independência não foi o suficiente para manter o Haiti plenamente livre. O que
se seguiu após a vitória independentista no percorrer das décadas foi uma
sucessão de acontecimentos que arruinaria a estabilidade, prosperidade da ilha.
Primeiramente Jean-Jacques Dessalines foi definido como Governador-Geral ao que
corresponderia a posição de presidente, no entanto em uma manobra muito
semelhantes a de Napoleão, Dessalines se declara como imperador Jacques I,
iniciando um governo autocrático.
(Jean-Jacques Dessalines)
Agora
proclamado imperador Jacques Dessalines,
ordenou algumas medidas que lhe causaria muita impopularidade, exemplo como a
tentativa de retornar a produção de açúcar em larga escala. Isso causou oposição ao seu poder, logo surgiram
conspirações para retirá-lo do poder. Em 1806 foi assassinado por membros do
próprio governo descontentes. Isso
provocaria uma imensa instabilidade a onde camarilhas passariam a disputar
ferozmente o poder. Outro fardo que se
pesou sobre o Haiti, para consolidar seu reconhecimento de Estado livre, foi estabelecido
um acordo a qual deveria pagar uma indenização de reparo a França devido às
perdas materiais. Isso exauriu as reservas do país, dando origem ao início da
divida externa, mesmo já tendo tido seu valor pago o endividamento não foi extinguindo.
Em seguida a experiência haitiana provocou reações temerosas nas elites
escravistas das Américas. O êxito do triunfo da luta dos negros serviria como fonte
de inspiração para levantes da população escravizada pelo resto do continente, para
barrar essa possibilidade, os países vizinhos logo trataram de criar formas de
isolar o Haiti. Desse temor político foi
criada a expressão “haitianismo”. Em
1844 Santo Domingo proclama sua independência, passando a se reconhecida como
Republica Dominicana, entre os dois países é estabelecido um clima de
animosidade que perdura até os dias atuais. Em muito motivado por pensamentos
racistas da elite da Republica Dominicana que rejeita a presença negra.
Já adentrando
no século XX, foi escrito mais uma trágica página na história haitiana. Em
franca expansão o imperialismo estadunidense, enquadra o Haiti em sua área de “influência’’
a consequência direta implica em uma ingerência dos Estados Unidos sobre
assuntos internos da ilha, sucessão de governos autoritários, corruptos são
apoiados por parte dos EUA para preservar seus interesses, monopólios ganham
permissão livre para explorarem a população haitiana. Em 1957 chega ao poder François Duvalier
apelidado Papa Doc, seu governo seria um ditadura sangrenta, baseada no uso sistemático
de terrorismo estatal contra todos que lhe manifestasse oposição, através dos agentes
chamados de tontons macoutes – ( Bichos-papões) torturas, assassinatos
mantiveram o regime. Papa Doc também iniciou uma perseguição contra a Igreja Católica,
instituindo o Vodu como religião oficial do país. A propaganda oficial refletia
seus assédios megalomaníacos a ponto de colocá-lo na posição de Deus. O enriquecimento pessoal também foi prática de Papa Doc, desviando recursos para
beneficio pessoal enquanto a população foi mantida empobrecida sem acesso a
direitos básicos de bem-estar. Resultado vez com que o Haiti se tornasse o país
mais pobre das Américas. Em ocasião a sua morte em 1971 foi
sucedido por seu filho Jean-Claude
Duvalier o “Baby Doc”, que manteve a
mesma forma de governo, instrumentalizando a violência como pilar. A situação se tornou insustentável, o aumento da crise gerou insatisfações
populares e amotinações militares, não sendo possível mantiver o controle é
derrubado.
No inicio da década
de 1990, começa uma nova fase, o ex-padre ligado ao movimento da Teologia da
Libertação Jean-Bertrand Aristide, assume o poder através de eleição. Considerado por seus aliados como o primeiro
representante eleito realmente de forma democrática da história do país, mas considerado
por seus detratores como demagogo a verdade que o Jean-Bertrand
Aristide não reuniu condições de melhorar os padrões de vida do povo. Foram três
períodos em que esteve na presidência em 1991, durante o primeiro foi alvo de
um golpe militar, sua volta somente foi possível mediante a intervenção militar
dos Estados Unidos, através da Operação “Defender a Democracia”. Em 1994 retorna ao poder ficando até 1996,
posteriormente de 2001 até 2004 se manteve a frente do governo novamente. Seu
último mandato foi marcado pela convulsão causada pela extrema pobreza das
massas. Uma rebelião o força a renunciar é buscar asilo político primeiro na Republica Centro-Africana é depois na
África do Sul. A queda de seu governo
abre o vácuo, lançado o país em um caos.
Por determinação da ONU com objetivo de estabilizar o país e aprovado o
envio de uma força de “paz”. Comandada pelo Brasil, um contingente militar é
deslocado até a ilha. Em 2010 o devastador terremoto agrava o que já se encontrava
em deteriorada barbárie.
Atualmente o
Haiti permanece em estado precário. O “crime”
do Haiti foi ter desafiado o poder da supremacia branca, quando negros
decidiram escolher a liberdade. Seu
castigo foi devido ter almejado a liberdade. Vida Longa a Ilha dos Bravos.
Kassan 01/01/2013