A Reaja Continua Lutando Contra o Racismo e Pela Vida

Por Hamilton Borges Walê

Os Assassinos Seguem Impunes com seus Capachos Amaciando seu Tombo Certo

Nos anos 70, sob o rigor fascista de uma ditadura, instituímos um método de
luta contra o racismo no país que demoliu definitivamente um modo de
nos olhar em viés. Afirmamos nossa negrura, nossa pretidão, nossas
instituições políticas religiosas, erigimos nossos heróis, impomos
nossa história e definitivamente chamamos o país a revisar sua noção de
identidade. Não pedimos nada, exigimos, com o pescoço em riste o que
era nosso por direito histórico. Levantamos!

Chega de tudo pela Metade basta de tudo pelo meio. Agora ou vai ou racha , queremos tudo e inteiro(Abdias do Nascimento)

A Democracia Racial como exemplo de convivência pacífica entre os vários
povos que construíram o país desabou sob os pés da nação. Nós fomos a
dinamite desse evento definitivo para nossa democracia falha,
incompleta e moribunda:

“ Somos os Coveiros da Democracia Racial” (Hamilton Borges Walê)

Dissemos que queríamos um novo modelo de nação, outro país, sem subordinação
de um seguimento racial sobre outro, para fora do capitalismo, com
respeito as civilizações que aqui chegaram. Apontamos uma nova ética,
uma estética política desfilando de cabelo duro, contra as instituições
hegemônicas que nos ignoram como sujeitos
políticos. Vencemos os anos 70.

“Reaja a Violência Racial” (Palavra de ordem do Movimento Negro Unificado)

A escola em que fui formado acredita que o combate ao racismo e ao
neo-colonialismo é a única opção que temos contra o que nos destrói.
Fora disso não nos resta nada. O racismo estrutura todas as relações no
Estado Brasileiro. Não somos sócios desse pacto branco assinado com
nosso sangue nos canaviais e nas lavouras, nas minas de ouro e
diamantes , nos pastos de boi , nas grandes roças do latifúndio de café e
uva.

Chegamos aqui acorrentados e acorrentadas como prisioneiros de uma guerra que não teve fim e da qual
nossas vidas eram o combustível.

O contrato republicano de disputar por dentro das instituições é tão
utopia quanto nosso desejo de criar alternativas de poder negro/indígena
/feminino. Sonhemos o nosso próprio sonho construído sobre nossos
próprios referenciais

A Campanha Reaja ou Será Morta , Reaja ou Será Morto nasceu no dia 12 de Maio de
2005 , ocupando por mais de 08 horas, madrugada a fora, a porta da
Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia. Rompemos o silêncio
sobre as mortes de pretos e pretas na Bahia. Politizamos nossas
mortes!Internacionalizamos nosso martírio coletivo. Instituímos um
método radical de defender a vida. Desafiamos os poderosos do palácio de
Ondina em duas gestões semelhantes de segurança pública baseadas em
nossa eliminação. Pautamos o debate por todo o Brasil.

Sem concessão, sem prêmios , sem comendas,sem massagens e sendo
criminalizados operamos o regaste de luta contra o racismo em oposição a
prática encabulada de promover uma igualdade impossível num regime
desigual.

Às mães que perderam seus filhos pela lógica racista de segurança nos últimos cinco anos –
afirmamos que continuamos atentos e atentas e que nossa voz não se cala
diante do terror – contem conosco.

Aos Prisioneiros e prisioneiros, muitos militantes dessa campanha do
contra, nosso compromisso de não permitir que suas vidas sejam estudadas
como ratos de laboratórios na manipulação pseudo-científica de sua
desgraça e/ou nos projetos inócuos que geram lucro e crédito
universitário e nada mais. Afirmamos que continuaremos firmes na luta
pela abolição das penas, pela demolição das cadeias, pelo enfrentamento a
esse modelo de justiça criminal seletivo que lucra com nossa desgraça

Estamos no século XXI sob o rigor fascista de uma ditadura racista que nos
elimina em massa, se dizendo democrática de direito, estamos combatendo
o genocídio, o racismo e a traição entre alguns dos nossos. So
mos isso!

Campanha Reaja ou será Morta, reaja ou será Morto

Simplesmente uma Campanha

Texto extraído do site Círculo Palmarino.

P.Kassan

07/01/2011

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